Page 36 - ARTE!Brasileiros #47
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INSTITUIÇÕES FAMA
AO LADO, OBRA DE LASAR SEGALL, RETRATO
DE ESTHER BESSEL, 1925, DA COLEÇÃO FAMA.
NA PÁGINA A SEGUIR, ANTONIO BANDEIRA,
LA VILLE TRANQUILLE, 1952 E JOSÉ
PANCETTI, NATUREZA MORTA, 1951
EM ARTIGO PUBLICADO EM UM LIVRO (“Luvas!”, em àquele conceito de Fábrica de arte e cultura ainda em
Onda verde, 1920), Monteiro Lobato declara seu amor processo de formulação.
pelo Rio de Janeiro afirmando que a cidade, durante Como a Fábrica se comportará após as adaptações que
a criação do mundo, era o almoxarifado de Deus. Nos virão em breve? Quantas oficinas terá, quantos audi-
seis primeiros dias ele tirava de seu depósito todas as tórios, qual será sua aparência definitiva? E o acervo,
belezas e as depositava nos diversos lugares: fatigado, continuará passando aquela impressão de indefinição
no sétimo dia ele descansou, deixando o almoxarifado entre storage e salas de exibição? Uma pista importante
na maior bagunça com belezas espalhadas e misturadas para o devir do acervo parece ficar evidente quando se
por tudo quanto é canto da cidade. visita a exposição anexa às salas do acervo aqui descritas.
Foi esta a sensação que tive quando visitei as salas que Trata-se da exposição Aproximações – Breve introdução
apresentam obras da Fundação Marcos Amaro na Fábrica à arte brasileira do século XX. Com curadoria de Aracy
de Artes Marcos Amaro (FAMA), instalada numa antiga Amaral, a exposição apresenta uma seleção de obras
fábrica de tecidos construída em 1903 em Itu: espa- do final do século XIX até meados do século passado.
ços generosos com obras – algumas verdadeiramente Iniciando com a primeira versão de Descanso do modelo,
excepcionais – dispostas numa expografia que dificulta 1885, de Almeida Jr., pertencente à Fundação Marcos
a visão de muitas delas, uma espécie de almoxarifado Amaro. Além dessa pintura, outras ali exibidas também
solicitando uma ordem maior de visibilidade pra os tra- pertencem à mesma instituição: dois Eliseu Visconti,
balhos expostos ou que explicite, por exemplo, as razões três Portinari e mais uma obra de cada um dos seguin-
para que uma escultura atribuída ao Aleijadinho esteja tes artistas: Pedro Américo, Castagneto, Lasar Segall,
ali no meio de outras produzidas nas últimas décadas. Antonio Gomide, Victor Brecheret, Cícero Dias, Ismael
Porém, apesar dessa impressão de estar em um lugar Nery, Di Cavalcanti, Flávio de Carvalho, Guignard e Ianelli.
indeciso entre ser um local de armazenagem ou um Apesar da visão instituída do que seria a “arte no Bra-
espaço de exibição, a sensação foi de fascínio frente sil” daquele período, parece não restar dúvidas de que
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