Page 22 - ARTE!Brasileiros #46
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BIENAIS 58ª BIENAL DE VENEZA
trabalho foi filmado no departamento ultramarino fran-
cês, localizado próximo à África, e coloca em perspectiva
sonoridades e danças locais – tanto vertentes tradicionais
ligadas à cultura crioula e à resistência anticolonial quanto
manifestações contemporâneas alinhadas à indústria de
consumo. “A gente estava interessado em entender como
é que os corpos desses jovens, bastantes influenciados
pela cultura pop, transitam entre a tradição e o contem-
porâneo”, comenta a artista.
Foi essa mesma linha de pesquisa, transportada para
outro território e contexto, que resultou no curta Faz
que Vai (2015), trabalho feito em Recife após a produção
de dois outros projetos: Desenho Canteiro (2014), uma
vídeo-colagem sobre o mercado imobiliário; e Como se
Fosse Verdade (2015), um híbrido de série fotográfica
e instalação realizado no terminal de ônibus de Cidade
Tiradentes, em São Paulo. Faz que Vai, filmado com quatro
dançarinos de frevo, levanta também questões de gênero,
que percorrem outros trabalhos da dupla.
“No caso dos filmes a gente entendeu que a música é
o elemento que constitui uma espécie de fundamento
para as práticas que pesquisamos. Seja de dança, dos
videoclipes, da canção. É a performance de forma geral
ligada às indústrias da música que estão no limite entre a
tradição e o pop”, diz Wagner. “São jovens que têm pela
primeira vez a possibilidade de trabalhar com arte, e o
corpo é um elemento central nisso. Ele é o instrumento
de trabalho nessa cultura do espetáculo”.
DEMOCRATIZAÇÃO E MUNDO DA ARTE
Convidados para a 32 Bienal de São Paulo, com curado-
a
ria de Jochen Volz, a dupla produziu Estás Vendo Coisas
(2016) também em Recife, deslocando-se do universo do
frevo para o dos jovens cantores de brega em boates e nas
gravações de videoclipes. Considerando que passaram
900 mil pessoas pela Bienal, foi ali que se deu o momento
de maior visibilidade para o trabalho dos artistas. Wagner STILL DE BYE BYE DEUTSCHLAND!, BÁRBARA WAGNER & BENJAMIN DE BURCA, 2017
confessa: “Foi muito emocionante ver como as pessoas
se relacionam com o trabalho. Pessoas com idades e Gabriel) quanto no festival de Berlim. É interessante testar
repertórios diferentes, com compreensões distintas do os cruzamentos dessas esferas, os pontos de interseção”.
que é um trabalho artístico”. O curta feito no ano após a bienal, Bye Bye Deutschland!
Segundo ela, foi um momento interessante também para (2017), realizado para o festival Skulptur Projekte de
ver como o trabalho repercutia no próprio mundo da arte, Münster, acompanha um casal de cantores de schlager,
com educadores, com o circuito comercial, com curadores gênero musical popular na Alemanha e em países do norte
independentes ou com a direção de instituições. “A gente europeu marcado por letras e melodias sentimentais.
está sempre testando, porque cada instância dessas tem “E também tinha muito a ver com essa questão de bom
suas especificidades. E por ter esse trabalho híbrido, é gosto e mau gosto. Artistas alemães contemporâneos
muito bom poder mostrar o RISE, por exemplo, tanto torcem o nariz para o schlager, então a gente querer falar
em uma galeria privada de São Paulo (Fortes D’Aloia & sobre esse gênero foi uma surpresa, até mesmo para o
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