Page 17 - ARTE!Brasileiros #46
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JOCHEN VOLZ COM NAINE TERENA, À ESQUERDA, E ANNELIEK SIJBRANDIJ, À DIREITA
Seguindo a deixa de Volz, muitos dos convidados dos venenos espalhados pelo agronegócio”, provocou.
buscaram reconfigurar o auditório onde o encontro Figura frequente em Verbier, por conta de um festival
ocorria, como a alterar estruturas de poder. Foi o de música que ocorre na cidade, a cantora lírica Barbara
que fez logo na primeira sessão Kilomba, que aban- Hendricks, embaixadora da Acnur (Alto Comissário da
donou o pedestal selecionado para os palestrantes, ONU para Refugiados) fez uma defesa da arte como
preferindo falar sentada, de maneira mais informal. elemento empoderador.
“Desaprender é também alterar espaços”, definiu a Finalmente, o artista tailandês Tiravanija repensou o
artista portuguesa, que participou da 32ª. Bienal de espaço do encontro de forma radical: desceu para a
São Paulo, em 2016. Ela apresentou na Suíça cenas de plateia e sugeriu que cada um alterasse a organiza-
seu mais recente trabalho, Illusions 2, uma descons- ção das cadeiras, deixando de estarem todas voltadas
trução do mito de Édipo, criado para a 10ª Bienal de para o palco. Sob penumbra, ele pediu ao público que
Berlim, no ano passado. observasse sua própria respiração por dez minutos. Ao
O tom geral seguiu em reflexões políticas, como fez final, pediu que cada um falasse algo a partir das expe-
Terena, que abordou as ameaças aos 800 mil índios riências dos dois dias em Verbier, gerando certa tensão,
que vivem no Brasil e começou sua fala parafraseando afinal foi um palestrante que preferiu não falar. Houve
o presidente da escola de samba Sossego: “Arte não quem, após participações tão políticas, propusesse que
é para covardes”. Para ela, “a maior arte dos povos o grupo deveria ter alguma ação concreta, enquanto
indígenas é se manter vivo, é resistência”. outros, como Gabi Ngcobo, ao invés de falar, tocou a
Resistência também foi tema da fala de Ngcobo, sobre canção “We don’t need another hero”, famosa na voz
experiências de movimentos anti-apartheid na África de Tina Turner, que foi o título da Bienal de Berlim, por
do Sul, nos anos 1970, e como jovens artistas atualizam, ela organizada no ano passado.
atualmente, as questões daquele período. Nesse ambiente um tanto irônico, o silêncio de um
Já Santos, no segundo dia, em uma fala que abordou artista como Tiravanija é uma atitude bem coerente
questões vinculados à defesa dos direitos humanos, com um evento para discutir arte em uma cidade como
declarou estar participando de movimentos contra o uso Verbier. Arte, de fato, não é para covardes.
indiscriminado de agrotóxicos no Brasil. “Há muito mais
pessoas com câncer no interior de São Paulo por conta *Fabio Cypriano, viajou a convite do Verbier Art Summit
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