Page 81 - ARTE!Brasileiros #45
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onde conheceu artistas engajados no movimento arte/  da comunicação, na Faap, do qual fui aluna. O discurso
                     política, dentro dos acontecimentos de maio de 1968. O   multimidiático de Flusser, teórico definido por Zanini
                     grupo CoBRA aparece nesse capítulo com destaque para   como “o filósofo de aderência fenomenológica, identifi-
                     Asger Jorn, e sua ideia de “laboratórios de estudos, como   cado sobretudo a Heidegger”, atraiu artistas e teóricos
                     os institutos científicos”. O objetivo do artista dinamar-  de todo o mundo. Ao falar dos Primeiros tempos da arte/
                     quês era ensinar jovens a alcançarem não só resultados   tecnologia no Brasil, Zanini observa que, sobre “sob
                     artísticos práticos como também crescerem no campo   influxos internacionais, as experiências comportamentais
                     da teoria da arte. Os temas fragmentados, não longos,   foram logo seguidas pela rápida propagação do uso de
                     tentam demonstrar o pensamento de Zanini, sobretudo,   audiovisuais e filmes super-8 e 16 mm, às vezes registros
                     em dois segmentos aos quais ele se dedicou: a videoarte   de ações conceituais”.
                     no Brasil, em que traça um histórico das primeiras expe-    O intenso envolvimento do crítico com os problemas
                     riências eletrônicas que surgem por aqui, entre 1969 e   estruturais da arte contemporânea está refletido ao longo
                     1973. Enquanto nos Estados Unidos esse movimento já   dessa coletânea, como uma espécie de fio condutor. Nos
                     tomava corpo no final de 1960, no Brasil, por falta de   textos reunidos em Aspectos da contribuição do cinema
                     recursos, se inicia tardiamente. Zanini comenta a arte   de artista e experimental emerge o grupo de Milão,
                     e a tecnologia “como manifestações que remontam do   liderado por Lucio Fontana, argentino/italiano, autor
                     período entre 1940 e 1950 com as experiências ciber-  do Manifesto del movimento spaziale per telezivione,
                     néticas de Abraham Palatnik, precursor da complexa   1952, exprimindo a convicção de que “a arte deveria se
                     passagem dos procedimentos artesanais da arte no   libertar de sua materialidade”. Entre os trabalhos citados
                     Brasil”. Não havia ferramenta portátil para os artistas   aparece o do Grupo Fluxus, que Zanini trouxe à Bienal de
                     nessa época dos imensos computadores IBM, quando   São Paulo, em 1983, e colocou o Brasil em contato com
                     um só deles ocupava uma sala de 50 metros quadrados.   a obra de Vostel. “A iniciativa de um vídeo do coreano
                     “Waldemar Cordeiro, o pioneiro da arte por computador,   Nam June Paik, em 1965, marca o momento inaugural da
                     associado ao físico Giorgio Moscati, demonstrou em   videoarte”, anota Zanini. Paik influenciou artistas como
                     1969 os primeiros resultados de sua pesquisa, que teve   Vito Acconci, Bruce Nauman, Davidson Gilliotti. Também
                     reconhecimento internacional, mas logo interrompida   optaram pela videoarte Dan Graham, Dennis Oppenheim,
                     com sua morte em 1973”. Depois dele, outros artistas   Richard Serra, Bill Viola, Gary Hill e outros mais.
                     foram atraídos pela eletrônica como Wesley Duke Lee,   No conjunto, o livro reforça que Walter Zanini é um dos
                     Artur Barrio, Gabriel Borba Filho e Antonio Dias. E, entre   críticos brasileiros mais expressivos no comprometimento
                     os teóricos, Zanini comenta a participação de Vilém   com a arte contemporânea mundial e seu trabalho, obra
                     Flusser, intelectual checo, fundador da disciplina Teoria   de consulta permanente.


                                                                            ESTUDO INÉDITO SOBRE A OBRA DE WALTER ZANINI, UM DOS
                                                                                CRÍTICOS FUNDAMENTAIS DA ARTE CONTEMPORÂNEA




























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