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LIVROS ZANINI
LIVRO REFORÇA WALTER ZANINI COMO
INTÉRPRETE DA ARTE CONTEMPORÂNEA
OS TEXTOS DO CRÍTICO, PROFESSOR, HISTORIADOR, CURADOR,
PERCORREM OS CONCEITOS MÚLTIPLOS DE UMA ARTE EM TRANSFORMAÇÃO
POR LEONOR AMARANTE
HÁ LIVROS QUE CAUSAM CURIOSIDADE antes de históricas, como o futurismo italiano e o russo, dadaísmo
serem lançados pelo protagonismo do objeto de estudo. e construtivismo, chegando aos anos de 1980. Essa linha
Este é o caso de Zanini vanguardas, desmaterialização, do tempo perpassa pela arte cinética, arte cibernética e
tecnologia na arte, textos do crítico, professor, historiador eletrônica, crise do objeto, a contestação dos suportes
e curador, Walter Zanini, com organização de Eduardo de tradicionais e a evolução da videoarte.
Jesus, professor da Universidade Federal de Minas Gerais. O capítulo inaugural refere-se à arte e uma de suas
O fecho intelectual da pesquisa resulta da estreita relação questões de identidade. Da Arte Artesanal e Mecânica à
de Zanini com a vivência cotidiana da arte, revelando Arte Eletrônica problematiza as interfaces entre arte e
enigmas de sua fisionomia artístico intelectual. tecnologia à luz de suas relações com as transformações
O método Zanini de trabalhar inclui troca de experiência da arquitetura e do design no século 19. Desse período se
com os artistas e uma incansável forma de questio- origina o capítulo sequencial Arte cinética, o impulso para
nar o papel da arte. Dois momentos exemplificam essa o imaterial, aspectos da contribuição do cinema de artista
prática: o laboratório de arte criado no Museu de Arte e experimental. Vários grupos ligados ao movimento são
Contemporânea de São Paulo MAC/USP (dirigido por ele citados como o Zero, de Dusseldorf, 1957, do qual partici-
desde a sua inauguração em 1963, onde abre espaço a pou o brasileiro Almir Mavignier; Recherche d´Art Visuel
jovens artistas, à arte conceitual, arte postal, videoarte, (GRAV), de Paris, 1960, comandado pelo argentino Júlio
performance e poéticas tecnológicas, até 1978) e, suas Le Parc; MID de Milão,1964; Anonima, de Cleveland,1960,
curadorias renovadoras na 16ª e 17ª edições da Bienal de entre outros. O trabalho de Abraham Palatnik no Brasil
São Paulo. Foi ele quem instituiu a analogia de linguagem é só citado e, depois comentado em outro segmento. O
ao eliminar, definitivamente, o conceito de exposição das cenário das exposições, a partir desse momento, muda
obras por países, compondo um grupo internacional de substancialmente, misturando trabalhos tradicionais com
críticos e curadores de museus para ajudá-lo nesta tarefa. realidades imagéticas inéditas que surgiam de novas
O livro é uma investigação teórico-conceitual da presença máquinas, incorporando as múltiplas manifestações do
das tecnologias na produção artística, no Brasil e no período caracterizadas pela imaterialidade. Em Impulso
exterior, a partir da passagem dos séculos 19 ao 20. Os para o imaterial há o “incontestável reconhecimento da
textos revelam o olhar sistemático do crítico sobre a fun- obra musical de John Cage” e de dois alunos preferidos:
ção reveladora da arte contemporânea, em um processo Robert Rauschenberg, seu também colaborador, e de
em constante mutação. Os textos mostram o avanço da Allan Kaprow, criador da arte corporal. A expressão
arte, quando os processos artesanais de produção foram “desmaterialização da arte” surgiu pela primeira vez com
postos frente a frente às inovações tecnológicas e seus a crítica americana Lucy R. Lippard, em artigo assinado
diversos canais. Há muito o que descobrir nessas camadas com John Chandler, em 1968. Em uma de suas entrevistas
sobrepostas que têm como ponto de partida as expe- diz que “hoje tudo, incluindo a arte, existe dentro de uma
riências da Art Nouveau e da Deutsche Werkbund. A pes- situação política”. Esse olhar novo surgiu em Lippard,
quisa passa por análises de movimentos das vanguardas depois de uma viagem que ela fez à Argentina, em 1968,
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