Page 86 - ARTE!Brasileiros #45
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INSTITUIÇÃO FUNDAÇÃO MARCOS AMARO








             Organizada pelo bibliófilo José Mindlin (1914-2010),
             que tinha paixão pelos livros, e sua esposa Guita
             (1916-2006), é uma coleção única.
             Essa coleção de 450 matrizes é o núcleo da
             exposição que reúne uma seleção de xilogravuras
             que mostram a dramaticidade do gesto de gra-
             vadores como Renina Katz (1925), Djanira (1914-
             1979), Mestre Noza (1897-s.l.1984), Oswaldo Goeldi
             (1895-1961).
             Na sequência trabalhos mais lúgubres como O
             Pássaro (2015-2018), de Laura Lima, com coautoria
             do artista Zé Carlos Garcia, uma escultura feita
             de penas negras que simulam um pássaro morto
             caído no chão. De alta dramaticidade, fantas-
             magórica, parece ter saído de uma das matrizes
             vistas na exposição.  A textura final das penas
             e seu posicionamento parecem dar vida a uma
             xilogravura, agora expandida no espaço.
             Nuno Ramos (1960) faz uma homenagem ao
             Oswaldo Goeldi ao gravar em baixo relevo sobre
             uma “lápide” de mármore branco uma imagem
             das suas xilogravuras banhada de óleo enegre-
             cido, criando as sombras que caracterizam suas
             gravuras. Goeldi, como Nuno Ramos, é um artista
             que irradia uma densidade literária, que pode
             ser observada também nas pinturas de Rodrigo
             Andrade, nas gravuras de Wesley Duke Lee, na
             pintura de Iberê Camargo, de Siron Franco e na
             instalação de Tunga.
             Independentemente de critérios curatoriais ou das
             escolhas das obras, que costumam ser sempre
             o alvo de críticas eminentemente estéticas, há
             um imenso valor ético e estético em colocar este
             acervo à disposição do público.
             Agora, além das reformas arquitetônicas e da fina-
             lização das salas de reserva técnica, está na mira
             o planejamento e capacitação de um educativo
             capaz de acompanhar, escutar, contar histórias e
             sistematizar as experiências de visitação.
             Na rota contrária ao fechamento de espaços cul-
             turais no país como um todo e da censura prévia
             na construção de projetos, a FAMA se coloca na
             rota de investir em cultura e arte contemporânea,
             permitindo que jovens e adultos sejam motivados
             a perguntar, a pensar e a refletir.


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