Page 30 - ARTE!Brasileiros #45
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MEMÓRIA BIENAL DE SÃO PAULO































             BOICOTE INTERNACIONAL


             À BIENAL DE SÃO PAULO





             COMO REAÇÃO À REPRESSÃO DA DITADURA, VÁRIOS PAÍSES ABANDONAM A MOSTRA, DEPOIS DO AI-5


             POR LEONOR AMARANTE


             COMO UMA DITADURA pode modificar a fisionomia     No Rio, a polícia invade o MAM e fecha a exposição que
             cultural de um país? O Brasil já experimentou desse   reunia as obras dos brasileiros que participariam da 6ª
             veneno com o Golpe de 1964, quando o regime militar   Bienal de Paris. O ministro das relações exteriores, José
             passa a ditar normas para todos os setores da sociedade   de Magalhães Pinto, em artigo publicado pela Folha de S.
             e, as artes plásticas não fogem à regra.          Paulo, dizia que as obras continham mensagem contra
             Um dos torpedos é desferido na Bienal Internacional de   o regime e “pretendiam incompatibilizar o governo com
             São Paulo, em sua edição de 1967/1968, quando minutos   a opinião pública”. Diante da repressão a participação
             antes da inauguração, a Polícia Federal retira a obra de   dos brasileiros se restringe às áreas de arquitetura,
             Cybele Varela por julgá-la “ofensiva” às autoridades.   urbanismo e música.
             O jovem artista Quissak Júnior é ameaçado de prisão   Nesse ano de 1969 a Bienal de São Paulo sofre seu
             por seu trabalho, cinco óleos sobre tela, moduláveis,   maior revés, o “boicote internacional”, que começa
             representando a bandeira brasileira. Contrapondo-se   com os artistas brasileiros e transcende as frontei-
             a essa proibição, os Estados Unidos, com a maior sala   ras, chegando aos Estados Unidos, França, México,
             na exposição, o Ambiente USA: 1957/1967, exibiram a   Suécia e Holanda, onde muitos artistas aderiram ao
             bandeira americana em Three Flags, de Jasper Johns,   movimento. Na Europa, a ação era liderada pelo crí-
             um dos Prêmios Bienal de São Paulo, ao lado de César,   tico francês Pierre Restany, amigo de Mário Pedrosa,
             Cruz Dias e Pistoletto.                           que na reunião no Museu de Arte Moderna de Paris,
             Na edição seguinte, com a promulgação do AI5 (Ato Ins-  declara: ”O protesto cultural toma aqui uma súbita
             titucional nº 5), a situação piora. O crítico Mário Pedrosa   expansão, e isto é somente o início”.  A petição de
             é ameaçado de prisão, assim como Mário Schenberg.   boicote contou com 321 assinaturas e teve adesão de
             Muitos intelectuais saem do País e outros são exilados.   Pablo Picasso. Pontus Hultem, sueco, um dos mais


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