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ele estava ameaçando a caixa da loja. O caso criou
controvérsia na Alemanha, pois os quatro foram
processados, mas popularmente chegaram a ser
aclamados como heróis agindo com “coragem
civil”. Na véspera do julgamento, o refugiado foi
encontrado morto e o caso acabou cancelado.
A Bienal, contudo, não tem um tom político cons-
tante, como esses dois trabalhos podem fazer
supor. Há uma mescla bastante delicada entre
estratégias poéticas menos militantes, como as
pinturas da chilena Johanna Unzueta, dispersas
GRADA-KILOMBA, ILLUSIONS, VÍDEOPERFORMANCE. POESIA, em vários locais da exposição no KW e na Aca-
TEATRO, DANÇA. EM SEU TRABALHO COMBINA MITOS GREGOS
COM VÍDEO, TEXTOS E HISTÓRIAS demia de Arte (Akademie der Kunst), baseadas
em práticas indígenas e expostas em cavaletes
inspirados nos projetos de Lina Bo Bardi. Ou então
nas plantas inseridas nas frestas do piso do espaço
bastante reduzido de artistas em se pensando em expositivo da mesma Academia por Sara Haq, sinal
mostras desse gênero, 46 no total. Com 30 obras tanto de delicadeza como da força da natureza.
comissionados pela equipe curatorial, o resultado As pinturas da cubano Belkis Ayón (1967 – 1999)
é de trabalhos fortes e eloquentes, o que revê um são outro ponto alto da Bienal ao expor o trabalho
dos pilares dessas grandes exposições, quando é do artista que aborda os rituais de uma sociedade
a quantidade que gera qualidade. Nesta bienal de secreta afro-cubana exclusivamente masculina
Berlim, menos é mais. denominada Abakuá.
“Again/Noch einmal” (De novo), de Mario Pfeiffer, A Bienal, aliás, é farta em apresentar trabalhos que
é um desses trabalhos inesquecíveis, que fala do dialogam com outros campos do conhecimento, o
tempo presente de forma poética e inteligente. Em que é o caso da série ILLUSIONS, iniciada em 2016,
2016, na conservadora região da Saxônia, quatro de Grada Kilomba, que revê mitos gregos a fim de
FOTO: TIMO OHLER alemães amarraram um refugiado iraquiano com observar o simbolismo e as alegorias carregadas
histórico de epilepsia em uma árvore do lado de
de opressão neles. Em Berlim, ela reencena Édipo
Rei, de Sófocles, em duas telas: em uma Kilomba
fora de um supermercado, porque achavam que
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