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BIENAIS BERLIM
A UTOPIA
É AGORA
BIENAL DE BERLIM PÕE EM PRATICA
AÇÕES IGUALITÁRIAS AO DENUNCIAR
PERVERSIDADES DO SISTEMA ATUAL
POR FABIO CYPRIANO EM BERLIM
LOGO NA ENTRADA do KW Instituto de Arte
Contemporânea, em Berlim, uma foto retrata as
14 figuras mais representativas do local, em uma
seleção de seus próprios funcionários. Trata-se de
“Lendários”, da brasileira Cinthia Marcelle, uma
série iniciada em 2008, e que já foi feita no Copan,
Centro Cultural São Paulo e Parque Lage, no Rio.
Estranho na imagem é a ausência do fundador
do local, Klaus Biesenbach, que acaba de deixar
seu posto de curador no MoMA, em Nova York,
para tornar-se diretor do MOCA, o museu de arte
contemporânea, de Los Angeles.
A imagem é uma espécie de reencenação de uma
foto feita por Man Ray, em 1941, e que incluía Peggy
Guggenheim, André Breton, Mondrian e Marcel
Duchamp, um time estelar da arte moderna. Já a
imagem de Marcelle apresenta de certa forma os Rosa Masilela, Moses Serubiri, e o brasileiro Thiago
bastidores de instituições culturais. de Paula Souza.
O trabalho se encaixa perfeitamente na 10ª. edição Berlim é uma bienal que costuma ser marcada
da Bienal de Berlim, “We don´t need another hero”, pela ousadia, como em 2012, em sua 7ª. edição,
em cartaz até 9 de setembro na capital alemã. Com quando a sala principal do KW foi cedida aos movi-
curadoria da sul-africana Gabi Ngcobo, que parti- mentos de ocupação que se espalhavam por todo
cipou da equipe de Jochen Volz na Bienal de São o mundo após o Occupy Wall Street. Em suas
Paulo há dois anos, a mostra reuniu artistas que, últimas edições, contudo, predominaram críticas
a exemplo de Marcelle, buscam revelar camadas contundentes por mostras um tanto herméticas
muitas vezes opacas na sociedade. e confusas.
Pela primeira vez em Berlim – e o que nunca acon- A Bienal de Ngcobo é um alívio nesse sentido.
teceu na Bienal de São Paulo, é bom lembrar, toda Ela possui uma expografia clara, com amplos
a equipe de Ngcobo é composta de negros, em sua espaços para cada obra, ocupa poucos locais
maioria mulheres: Yvette Mutumba, Nomaduma da cidade _apenas cinco_ e reúne um número
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