Page 20 - ARTE!Brasileiros #45
P. 20

BIENAIS BERLIM






             A UTOPIA


             É AGORA





             BIENAL DE BERLIM PÕE EM PRATICA
             AÇÕES IGUALITÁRIAS AO DENUNCIAR
             PERVERSIDADES DO SISTEMA ATUAL


             POR FABIO CYPRIANO EM BERLIM







             LOGO NA ENTRADA do KW Instituto de Arte
             Contemporânea, em Berlim, uma foto retrata as
             14 figuras mais representativas do local, em uma
             seleção de seus próprios funcionários. Trata-se de
             “Lendários”, da brasileira Cinthia Marcelle, uma
             série iniciada em 2008, e que já foi feita no Copan,
             Centro Cultural São Paulo e Parque Lage, no Rio.
             Estranho na imagem é a ausência do fundador
             do local, Klaus Biesenbach, que acaba de deixar
             seu posto de curador no MoMA, em Nova York,
             para tornar-se diretor do MOCA, o museu de arte
             contemporânea, de Los Angeles.
             A imagem é uma espécie de reencenação de uma
             foto feita por Man Ray, em 1941, e que incluía Peggy
             Guggenheim, André Breton, Mondrian e Marcel
             Duchamp, um time estelar da arte moderna. Já a
             imagem de Marcelle apresenta de certa forma os   Rosa Masilela, Moses Serubiri, e o brasileiro Thiago
             bastidores de instituições culturais.       de Paula Souza.
             O trabalho se encaixa perfeitamente na 10ª. edição   Berlim é uma bienal que costuma ser marcada
             da Bienal de Berlim, “We don´t need another hero”,   pela ousadia, como em 2012, em sua 7ª. edição,
             em cartaz até 9 de setembro na capital alemã. Com   quando a sala principal do KW foi cedida aos movi-
             curadoria da sul-africana Gabi Ngcobo, que parti-  mentos de ocupação que se espalhavam por todo
             cipou da equipe de Jochen Volz na Bienal de São   o mundo após o Occupy Wall Street. Em suas
             Paulo há dois anos, a mostra reuniu artistas que,   últimas edições, contudo, predominaram críticas
             a exemplo de Marcelle, buscam revelar camadas   contundentes por mostras um tanto herméticas
             muitas vezes opacas na sociedade.           e confusas.
             Pela primeira vez em Berlim – e o que nunca acon-  A Bienal de Ngcobo é um alívio nesse sentido.
             teceu na Bienal de São Paulo, é bom lembrar, toda   Ela possui uma expografia clara, com amplos
             a equipe de Ngcobo é composta de negros, em sua   espaços para cada obra, ocupa poucos locais
             maioria mulheres: Yvette Mutumba, Nomaduma   da cidade _apenas cinco_ e reúne um número


            20




         ARTEBrasileiros_44.indb   20                                                                            30/08/18   07:23
   15   16   17   18   19   20   21   22   23   24   25