Page 37 - ARTE!Brasileiros #41
P. 37
EXPOSIÇÕES VIBRANTES movimentam a assemelha-se a uma constelação repleta de uni-
cena de Buenos Aires para além da Bienalsur. versos, um desses trabalhos quando a palavra
O Museu de Arte Latinoamericano (Malba) além sublime não dá conta de expressar tudo o que
de apresentar a reorganização de seu acervo ele representa.
permanente, com Verboamerica, um excelente As outras duas mostras do Mamba apresentam
conjunto de narrativas sobre a produção latina artistas que tiveram suas carreiras interrom-
por meio de destaques de sua coleção, exibe pidas de forma precoce, Liliana Maresca (1951
“México Moderno, Vanguarda e Revolução”, – 1994), vítima de Aids, aos 43 anos, e Sergio
até fevereiro de 2018. Avello (1964 – 2010), aos 36 anos, por conta
Uma das últimas mostras da gestão de Agustin de um câncer.
Perez Rúbio a frente da instituição, a mostra, Apesar das exposições terem curadorias e mes-
com curadoria de Victoria Giraudo, Sharon mos salas distintas, ambas são essencialmente
Jazzan e Ariadna Patiño Guadarrama reúne expressões de artistas sintonizados com seu
170 obras de 60 artistas, que atestam como tempo.
a arte mexicana vai além de Frida Kahlo e dos Maresca, com uma larga produção nos anos 80
muralistas Diego Rivera e David Siqueiros. e 90, abordou questões de gênero, em fotos
Já a Fundação Proa exibia “Manifesto”, de Julian performativas, assim como temas do mundo da
Rosefeldt, uma videoinstalação com 13 proje- arte e das políticas neoliberais que a Argentina
ções de interpretação de Cate Blanchett em atravessou após o fim da ditadura.
distintos papéis, misturando trechos de 50 Ela participou agora em 2017 da Bienal de
manifestos artísticos. A Mostra de São Paulo Istambul, justamente com “Recoleta” (1990),
apresentou uma versão para a sala de cinema, peça que também faz parte da exposição em
sem, obviamente, o poder imersivo que 13 telas Buenos Aires. Composta por uma dessas car-
possibilitam, como se viu na Proa. roças de carregar papéis velhos, ela é uma
Já o Museu de Arte Moderna de Buenos Aires crítica ao regime do presidente Carlos Menen
(Mamba) apresentava três mostras individuais (1989 – 1990), ao abordar o empobrecimento
dedicadas a artistas argentinos, em um con- da Argentina, naquele período.
junto realmente impressionante, a começar por Já Avello, com uma produção mais centrada no
“Tomás Saraceno: como prender o universo em início do século 21, também aborda questões
uma teia ”. argentinas, como o nacionalismo, só que usa
A primeira impressão de quem entra na única, materiais mais pop, como lâmpadas de neon,
ampla e escurecida sala da mostra é que Sara- que constroem “Bandera”, exibida na Bienal do
ceno se apropriou da “TTéia”, a icônica obra Mercosul, em 2003, e reconstruída na retros-
de Lygia Pape composta por fios dourados. No pectiva do Mamba.
entanto, trata-se de uma instalação constru- Sua obra abrange também trabalhos sonoros,
ída de fato por sete mil aranhas, durante seis desenhos, pinturas, instalações, refletindo um
meses, alcançando um total de 40 mil fios. artista que transitava por várias mídias, como
Com uma iluminação dramática, semelhante à é grande parte da produção da atual geração,
de Pape, a obra permite uma experiência tão em diálogo com a produção minimalista norte-
intensa como a brasileira. A instalação de Sara- -americana, que Avello ironizava.
ceno, no entanto, por seu tamanho e natureza, Por meio desses três artistas, o Mamba con-
segue, com mostras de fôlego, apresentar as
últimas décadas da produção argentina, em
2
NO MAMBA, NUMA SALA DE QUASE 200 M , uma seleção complementar, mas respeitando
SETE MIL ARANHAS, TECERAM DURANTE individualidades. Programação exemplar desen-
SEIS MESES MAIS DE 40 MIL FIOS volvida por sua diretora, Victoria Noorthoorn.
37
Book_ARTE41.indb 37 11/29/2017 4:51:25 AM