Page 67 - ARTE!Brasileiros #40
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como interno em Friburgo e tive a sorte de meu pai é fotógrafo!”. Daí o cara vai em Inhotim e percebe que
ser transferido para a Suíça, onde vivi um período minhas coisas podem estar muito mais relacionadas
muito rico. Foi quando comecei a pintar no Instituto ao cinema e às instalações do que com a fotografia.
Flaureamont, um colégio, em Genebra, onde havia Atuo com várias conexões: cinema, música, fotografia. O
professores de Desenho que nos incentivavam muito. problema é que ainda existem curadores que são muito
Foi aí que preparei minha primeira exposição, aos 18 ortodoxos e querem que sua exposição seja dividida.
anos, em 1964. Esse pensamento é uma coisa que, em termos de arte
Pouco depois dessa exposição você partiu para os Estados Unidos… e criação, é profundamente negativo.
Sim. Em Nova York, vivi também um período muito bom, E reducionista…
entre 1964 e 1967, tempos em que Bob Dylan e os Rolling Reduz e empobrece. E existem poucos críticos com
Stones surgiram, uma época culturalmente muito pode- uma visão ampla. O Paulo Herkenhoff – talvez o mais
rosa. Voltei para o Brasil em 1967, e em 1968 ingressei interessante que eu conheço – é um dos poucos que tem
na ESDI (Escola Superior de Design Industrial). Fiz uma isso. Uma pessoa que já foi artista plástico conceitual e
primeira exposição na Galeria Relevo, mas meu trabalho tem uma abertura de mente muito interessante. Tem o
de pintura já não era tão intenso, estava mais ligado à Mário Pedrosa, que é um cara interessante, mas muito
fotografia e ao cinema. Seguia outros caminhos, apesar retido. O Paulo é rico em ideias. Fiz um livro com ele
de, tempos depois, nos anos 1980, eu voltar à pintura. (Notes on The Tides, 2010), e pude perceber isso de
Sinais de maturidade também, uma vez que, em Genebra, você perto. Tínhamos ideias que levavam a outras e revelavam
ainda era muito jovem… esse lado generoso da arte, que é muito necessário. A
Sim. Depois é que percebi que tudo se conectava, que gente não pode pensar em arte somente em termos de
não havia essa questão de fazer apenas isso ou aquilo. mercado e dizer “Não vou fazer isso, porque não vai
Algumas pessoas, às vezes, me dizem: “Ah, não… Você render o que espero”.
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