Page 62 - ARTE!Brasileiros #40
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EXPOSIÇÃO SÃO PAULO





































             FRAME DE O BATEDOR DE BOLSA, DE DALTON PAULA (2011, VÍDEO, 1’30”)






             Cultural Videobrasil e idealizadora do  Festival Interna-  binária. O xis vem como um recurso de atualização.”
             cional de Arte Contemporânea Sesc_Videobrasil, que,   O título da mostra também faz alusão à histórica revo-
             em outubro, chega à vigésima edição, além de exercer   lução liderada por Toussaint L’Overture que, após cinco
             o papel de vitrine, Agora Somos Todxs Negrxs? tem o   anos de conflitos sangrentos, libertou os escravos hai-
             caráter de questionar convenções estruturais. “Existe   tianos do império francês de Napoleão Bonaparte em
             uma produção enorme e potente de artistas que tem   1804. No ano seguinte, instituída a república foi con-
             discursos importantes, com uma produção simbólica   cluída a constituição do novo país caribenho. No artigo
             maravilhosa, mas que é pouco vista e que tem pouca   14, o documento determina:  “Todos os cidadãos, de
             inserção no circuito de arte. A mostra é também um   agora em diante, serão conhecidos pela denominação
             lugar para mexer com esses pontos nebulosos da nossa   genérica de negros”.
             própria cultura. É preciso dar espaço para esses artistas   “Isso trouxe a perspectiva de uma aliança, dentro do
             e coloca-los em contato com a cena que eles querem   conceito de negritude, de todo processo de descoloni-
             estar inseridos”, defende.                        zação, de os não brancos se aliarem em torno de um
             A utilização da letra x, adotada para definir a orien-  guarda-chuva conceitual de negritude”, explica Lima.
             tação não binária de gênero, nas palavras “todos” e   Aparentemente irônico, sobretudo se lido por brancos,
             “negros”, reverbera, segundo o curador, Daniel Lima,   o título da mostra, defende o curador, também tem
             discussões irrecusáveis da contemporaneidade. “O   proposições afirmativas:  “O ponto de interrogação do
             uso do xis traz uma perspectiva diferente do que foi   título pode ser entendido como ‘sim, agora somos todos
             a afirmação do Movimento Negro da década de 1960   negros’, mas nele cabe também a interpretação de que,
             e 1970. Hoje é impossível pensar a questão negra sem   num processo de exceção, temos uma exposição toda
             também equacionar a questão de gênero. Impossível   constituída por artistas negros. A ideia é contemplar
             pensar essa aliança sem a ideia de resistência contra   essa nova geração, dialogar com as gerações anteriores,
             um mundo patriarcal, branco e euro-centrado, e sem   mas também marcar essa trama única e singular que
             equacionar a perspectiva feminina e a perspectiva não   existe hoje de artistas negros”, conclui.


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