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REPORTAGEM CURADORIA
NO GARIMPO DO ARTISTA
ARTE!Brasileiros PERGUNTOU A CINCO CURADORES
PARA ONDE ELES OLHAM QUANDO QUEREM ENCONTRAR
PRODUÇÕES À MARGEM DO CIRCUITO CENTRAL
POR SARAH MAIA
EM UM JANTAR COM AMIGOS, nas ruas, nos São Paulo, Rivitti participa com regularidade de
espaços independentes, entre alunos das escolas júris de salões. “É legal falar disso, pois muitas
de arte. O olhar de um curador precisa estar sem - vezes o artista envia um portfólio para um edital e
pre atento a novos talentos, obras reveladoras ou acaba não passando na seleção, mas isso não quer
exposições de circuitos à margem. Valem eventos dizer que seu esforço tenha sido inútil”, explica. A
de arte, vale também uma conversa de bar ou curadora circula também em museus e centros
qualquer outro universo para além das galerias. culturais, sobretudo em programas ligados a jovens
Curadora há quase 40 anos, Lisette Lagnado con - artistas. “Há inúmeros programas nesse sentido.
fessa que até o Instagram hoje serve como fonte A temporada de projetos do Paço das Artes e o
de busca. Com uma carreira consolidada e muitos programa anual do Centro Cultural São Paulo são
contatos em mente, a curadora de ensino e progra- dois bons exemplos”, afirma Rivitti.
mas públicos da Escola de Artes Visuais do Parque
Lage, no Rio de Janeiro, afirma que os artistas TALENTOS BRUTOS
chegam a ela naturalmente ou por indicação. “Uma Alves e Rivitti também concordam que a sala de aula
sorte que tenho, acho.” Mesmo há muito tempo no pode ser um celeiro de boas ideias. Professor do
circuito da arte, Lagnado mantém o olhar afiado curso de Arte da PUC, em São Paulo, Alves conta que
e investe tempo e paciência para conhecer novos tem muito contato com os artistas e suas produções
artistas. “Leio os folhetos que chegam, ainda que na fase de origem. No mesmo sentido, Rivitti observa
ruins. Se não conheço o artista, uma ferramenta que “a situação de aula, independentemente do tipo
essencial é a busca por entrevistas ou depoimentos de curso, é sempre uma oportunidade de troca”.
na Internet”, explica. Membro do grupo de estudo no Centro Universi-
Assim como Lagnado, o paulistano Cauê Alves, tário Maria Antônia, Alves lembra os encontros
atual curador do MuBE (Museu Brasileiro da Escul- quando Lorenzo Mammì era o diretor do centro
tura), busca por nomes menos óbvios e garante que e recorda-se também da revista Número, que era
até mesmo os trabalhos não selecionados por um feita ali, em meados dos anos 2000. “Foi no centro
júri podem despertar interesse. “Participei este ano universitário, por exemplo, que tive contato com os
do prêmio Marcantonio Vilaça, em Brasília, com trabalhos da Equipe 3 – Genilson Soares, Francisco
800 inscritos, e me chamaram atenção trabalhos Iñarra e Lydia Okumura. Lembro que Genilson
que não foram premiados, mas que foram vistos enviou um portfólio e acabei sendo convidado
por um grupo de curadores. Muitos artistas nem para escrever um texto sobre eles”, comenta o
imaginam que, mesmo sem estar em destaque, curador. “Hoje, Lydia Okumura está participando
eles podem aparecer”, comenta. de uma mostra no MuBE, e o Reino Sofia acaba de FOTO PATRICIA ROUSSEAUX
Thaís Rivitti não só concorda como cita a mesma adquirir uma obra dela”, observa.
situação. Curadora e diretora do Atêlie 397, em Responsável pela curadoria do Instituto Tomie
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