Page 68 - ARTE!Brasileiros #39
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EXPOSIÇÃO SÃO PAULO





             UM MESTRE DE CERIMÔNIA





             COM LÂMINAS DE AÇO, ESTANTES PARA PARTITURAS, TAÇAS, LOUÇAS E VELHAS FOTOGRAFIAS,
             NINO CAIS COMPÕE IMAGINÁRIO SILENCIOSO – PORÉM RUIDOSO POR BAIXO DA SUPERFÍCIE



             POR GUSTAVO FIORATTI


































             EXISTE AO MENOS UM TEMA em evidência na     e de glamourização que encontra em seu caminho.
             individual que Nino Cais apresenta na Casa Triân-  Em uma obra específica, ele secciona o retrato de
             gulo até 13 de maio: 35 intervenções que ele fez em   uma atriz na diagonal, precisamente no ponto onde
             páginas extraídas de livros são protagonizadas por   está o pescoço dela; separada em duas partes, a
             estrelas do cinema, em preto e branco. Esse foco   imagem ganha naquele ponto a inserção de um
             foi, porém, estabelecido por um olhar randômico.   objeto: uma lâmina de aço.
             Cais se interessou, antes de tudo, pela qualidade   Cais considera que, durante seu processo de
             da impressão dos livros e não pelas imagens neles  criação, não há exatamente a alteração do sig-
             retratadas. “Depois que inicio o trabalho é que   nificado da imagem, mas sim uma amplificação,
             aqueles retratos começam a fazer algum sentido   “como se eu colocasse ali uma lupa”, diz. “Eu
             para mim e ganham alma.”                    me baseio em uma ideia de revelar uma imagem
             A recusa de um eixo temático pode soar estranha,   pela segunda vez”, sintetiza. Em outra obra, ele
             porque existe unidade entre as figurações que sur-  recorta, de uma fotografia, a figura de um barco
             gem do conjunto de obras de Cais, não apenas nesta   e faz um retrato de sua própria mão, extraindo
             mostra, mas também em produções mais antigas.   aquela imagem do plano dimensional, ressal-
             O artista paulistano permanece interessado em   tando a natureza metalinguística da obra, bem    FOTO EDOUARD FRAIPONT
             revelar algo por trás da superfície, perfurando com  como o princípio de se apropriar de fotografias
             ironia as camadas de fetichização, de dramaticidade   de autorias alheias.


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