Exposição "Walter Lewy: O sonhador e a sublime criação do mundo"
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Desde a sua inauguração, faz parte dos objetivos da Galeria Frente ressaltar o trabalho de grandes artistas e apresentar obras históricas, por meio de exposições retrospectivas, individuais e coletivas e
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Desde a sua inauguração, faz parte dos objetivos da Galeria Frente ressaltar o trabalho de grandes artistas e apresentar obras históricas, por meio de exposições retrospectivas, individuais e coletivas e com “Walter Lewy: O sonhador e a sublime criação do mundo” não seria diferente. Proveniente de uma grande coleção privada, as cerca de 80 obras que compõem a mostra deste grande surrealista, pertencem ao casal Claude Martin Vaskou e Eliana Minillo e estarão em exibição na galeria a partir de 19 de outubro. Sob a curadoria de Jacob Klintowitz, que também assina o livro que acompanha a exposição, a mostra segue em cartaz até 22 de fevereiro de 2025.
A expressão ‘surrealismo’ foi criada por Guillaume Apollinaire em 1917, mas o manifesto Surrealista foi lançado oficialmente em Paris em 1924 por André Breton, Yvan Goll, Marcel Alland e Guillaume Apollinaire, e teve Walter Lewy (1905 – 1995) como um de seus grandes representantes no Brasil com seus primeiros esboços surrealistas ainda durante o modernismo, por volta de 1930. Fugido da situação opressora que já desenhava o que seria a Segunda Guerra Mundial, o alemão nascido em Bad Oldesloe, Walter Lewy, chega ao Brasil em 1938 e já encontra terreno fértil acerca do estilo que já influenciava por aqui as obras de Tarsila do Amaral (1886 –1973), Cícero Dias (1907 – 2003) e Ismael Nery (1900 – 1934).
Entre os trabalhos mais icônicos de Lewy, e que ilustra a capa do livro, a obra “Sem título” traz uma ‘espécie’ de nobre ser humano, como explica Jacob. “Na cor azul, uma cor espiritual, aí está uma figura feminina iluminada por uma lua. Uma mulher lunar, capaz de concentrar em si a energia e dirigir esta energia para a humanidade. É a profecia de um momento em que a humanidade será um ser de pura energia.” Uma leitura clara e assertiva acerca dos trabalhos desse mestre que segue no mesmo tom acerca outra obra em que há dois seres ‘fascinantes’ que trazem em suas mãos a chave e o código da realidade cósmica. “Trata-se de duas figuras cujas cabeças são núcleos de percepção e ligações infinitas. Um destes seres carrega a chave da linguagem e do entendimento; o outro carrega e expõe o manuscrito sagrado. Os dois personagens em cores primárias, o amarelo e o vermelho. Geradoras. E são, por sua vestimenta e solenidade, dois guardiões do novo mundo. Seres portadores do conhecimento e da luz sideral”, pontua o curador.
Com todas as obras à venda, para Claude Martin Vaskou e Eliana Minillo, que adquiriram o primeiro trabalho do artista em 2003, é um momento muito especial. “Esse evento, a exposição juntamente com o lançamento do livro, conclui, de uma certa maneira, nossa contribuição para a salvaguarda desse grande artista alemão adotado pelo Brasil, e que deu ao nosso país sua lettre de noblesse (carta de nobreza) surrealista”, celebra o casal. Admiradores do surrealismo, viram que a obra de Walter Lewy estava a caminho do esquecimento e decidiram, em suas próprias palavras, “fazer algo para preservar a memória desse grande artista.” Assim, o acervo adquirido entre os anos de 2003 a 2018, apresenta décadas de sua produção, entre 1942 e 1995. “O objetivo sempre foi de abranger ao máximo as diversas fases, e na medida do possível, com suas pinturas mais emblemáticas”, finalizam Claude Martin Vaskou e Eliana Minillo.
Faz parte do acervo, assim como da exposição, a ilustração que o artista fez acerca do clássico literário de Franz Kafka, “Metamorfose”. A xilogravura de 1956 compôs mil exemplares de uma edição brasileira, sendo que 12 desses foram acompanhados do desenho original. Outro destaque da mostra é um óleo sobre tela cujas formas abstratas e, ao mesmo tempo delicadas, se destacam, como observa Jacob. “É uma pintura feita de formas dançarinas, em movimento, em relação permanente. É um projeto de triângulos em ocupação espacial. Certamente, lembra as importantes formas que a arquitetura cria até hoje. No campo da pintura, Walter Lewy concebe estas mesmas formas revolucionárias, formas de liberdade em espaço urbano, combinação cromática de leveza e luminosidade. Um jogo fascinante de cores e formas livres e etéreas.”
Lewy, no Brasil, participou ativamente do cenário cultural de época sendo figura presente nas primeiras Bienais de São Paulo (1ª Bienal em 1951; 2ª Bienal em 1953; 3ª Bienal em 1955; 6ª Bienal em 1961; 8º Bienal: Sala Especial Surrealismo e Arte Fantástica em 1965; 13ª Bienal em 1975; E na mostra Tradição e Ruptura: síntese de arte e cultura brasileiras, em 1985). O artista também fez parte de várias edições do ‘Salão Paulista de Arte Moderna’, além de inúmeros ‘Panorama de Arte Atual Brasileira’, realizado pelo Museu de Arte Moderna de São Paulo. Seu extenso currículo de exposições lhe confere um amplo reconhecimento de seu trabalho e prestígio entre os importantes atores e agentes culturais do sistema das artes visuais no Brasil, ainda em seu estágio inicial, mas garantindo ao artista imigrante um vasto lugar de reconhecimento.
Para Acácio Lisboa, diretor da Galeria Frente, um momento especial na história da galeria e no cenário das artes no Brasil. “Acreditamos ser muito importante marcar presença e prestigiar o centenário da vanguarda Surrealista e não haveria melhor forma do que homenagear o artista Walter Lewy, um surrealista inteiro que imigrou para os trópicos e continuou se expressando nesta linguagem de forma fiel, autoral e com características apropriadas da cultura brasileira”, pontua o diretor da galeria ao fazer coro à uma fala do artista: “O Surrealismo, mais do que uma escola ou um estilo, é um modo de viver, uma filosofia de vida, uma maneira de encarar e manifestar coisas. Sempre se renova, já que a imaginação não tem limites, e não se acabará como um movimento qualquer de arte.” (Walter Lewy).
O ponto alto desta exposição, ainda segundo Acácio, é poder apresentar essa mistura: como uma vanguarda de origem europeia pode se desenvolver e ser realizada no Brasil. “É esse o grande trunfo das obras de Lewy: a brasilidade empregada nas obras de um judeu alemão brasileiro, que, como o próprio artista mesmo dizia: ‘nos últimos anos, acho que tenho muito do Brasil, no colorido, nas paisagens, e isso eu fui absorvendo aos poucos, organicamente. Naturalizei-me brasileiro, aqui vivo.’”
Serviço
Exposição | Walter Lewy: O sonhador e a sublime criação do mundo
De 19 de outubro a 22 de fevereiro
Segunda à sexta-feira 10h às 17h30, sábado 10h às 13h30
Período
19 de outubro de 2024 10:00 - 22 de fevereiro de 2025 17:30(GMT-03:00)
Local
Galeria Frente
R. Dr. Melo Alves, 400 - Cerqueira César São Paulo - SP