Exposição: “O que nos eleva”, de Daniela Schiller, Flávia Renault e Simone Dutra

Sob este mote telúrico, o Ateliê Casa Um no bairro dos Jardins, em São Paulo, apresenta a exposição “O que nos eleva”, um encontro entre as artistas Daniela Schiller, Flávia Renault e Simone Dutra, sob curadoria de Shannon Botelho. Obras em sua grande maioria inéditas, traduzem em suas montagens e composições – pinturas, tecidos, objetos e desenhos – a produção atual de cada uma.

A presente mostra propõe uma experiência de transcendência que não se define por hierarquias ou verticalidades, mas pela partilha sensível, feita de afeto e contemplação, segundo o curador. Por meio de obras inéditas e séries recentes, as artistas convidam o público a adentrar territórios onde o invisível se torna forma, a matéria se abre para o espiritual e a arte se apresenta como gesto sagrado — uma prática de presença e escuta.

Entre os trabalhos de Daniela Schiller, um dos destaques é a obra Duo Nebulosa 5 (acrílica sobre algodão e técnicas mistas), concebida em dois planos sobrepostos. O primeiro, um fundo azul profundo, pintado em nuances que evocam a vastidão do cosmos, onde se inscrevem pequenos pontos como estrelas luminosas. Em um segundo plano, mais etéreo, o voil traz leveza e movimento. Sobre essa camada, uma nebulosa dourada se expande em manchas orgânicas, lembrando explosões de energia e poeira estelar. “A intenção é criar um diálogo entre o azul e o dourado, entre profundidade e brilho, no qual o olhar atravessa camadas que sugerem tanto o infinito quanto a delicadeza da matéria”, explica a artista.

Com materiais em sua maioria orgânicos, papéis, lãs, linho, linha, sementes e latão, Flávia Renault expõe objetos esculturais – colagens, desenhos e pinturas em óleo com bordado – que se entrelaçam em suas investigações poéticas sobre memória, espiritualidade e cultura. No contato com as obras de Flávia, há um convite delicado à interlocução — não apenas entre artista e espectador, mas entre o humano e o divino, entre o visível e o mistério. “Acolher a arte, neste caso, é também acolher os encontros e suas infinitas camadas de sentido”, assim Shannon define o trabalho de Flávia.

Simone Dutra apresenta ao público quatro polípticos e um díptico, trabalhos recentes e inéditos, oriundos de suportes como pintura, cerâmica, madeira pintada e papel sobre madeira. Entre os destaques, está o políptico “habitam em mim” (2025), composto por oito partes em papel sobre madeira (aproximadamente 80 x 170 cm), em que memória e geometria se entrelaçam em narrativas visuais. “A poética de Simone encontra na forma o seu ponto de partida. Suas investigações, embora ressoem com a tradição construtiva, não buscam a pureza da forma, mas a potência evocativa da estrutura. A geometria em seu trabalho não é destino, mas origem”, conceitua o curador Shannon Botelho.