A mostra No Canto Escuro da Praia do Lázaro aborda o conceito das Águas de Kalunga, elaborado por Conceição Evaristo. Essas águas são entendidas como espaço de fabulação da memória,
A mostra No Canto Escuro da Praia do Lázaro aborda o conceito das Águas de Kalunga, elaborado por Conceição Evaristo. Essas águas são entendidas como espaço de fabulação da memória, onde o corpo se torna lugar de passagem: das águas que vieram antes, das que nos cercam agora e das águas que ainda virão.
Esse movimento se alinha a noção de tempo espiralar, onde passado, presente e futuro coexistem em sobreposição. As águas de kalunga se desdobram em dois espelhos: a Kalunga Grande, o mar e suas profundezas, que simboliza a linha d’água que separa vivos e mortos, lugar do mistério, da travessia e da grande mãe Iemanjá; e a Kalunga Pequena, o cemitério, onde o corpo físico retorna à terra, domínio de Obaluayê, orixá da morte, da doença e da cura.
Além disso, o conjunto de xilogravuras desta exposição parte dessa cosmovisão para dialogar com um episódio de minha história pessoal: a morte de meu tio materno, Mauro dos Santos da Cruz, afogado no mar da Praia do Lázaro, em Ubatuba (SP), durante o carnaval de 1998. Até hoje, sua partida permanece cercada de mistério, marcada por versões contraditórias narradas pelos amigos que estavam presentes.
Esse “canto escuro” é o local físico de sua morte, e também se apresenta como lugar de incerteza e da impossibilidade de reconstituir a verdade. Nesse fluxo, até o próprio nome Mauro — derivado de mouro, pele escura — ecoa no título da mostra, que mergulha em memória, corpo negro e nas fabulações das águas de Kalunga.
Serviço
Exposição | No Canto Escuro da Praia do Lázaro
De 04 a 25 de outubro
Quarta a sexta, das 15h às 19h, sábado, das 9h às 12h e 16h às 20h, domingo, das 16h às 20h
4 de outubro de 2025 - 25 de outubro de 2025 (O dia todo)(GMT-03:00)
Ativa Atelier Livre
Rua Tupinambás, 423 – Rio Vermelho, Salvador - BA