Exposição "CPF 282991208-02”, de Leandro Spett

Como sabemos, o número do Cadastro de Pessoa Física (CPF) de um cidadão é aquilo que permite que seja identificado junto aos órgãos e serviços públicos e privados. Obrigatório a todos os 212,6 milhões de brasileiros, o CPF tem valor legal/ jurídico, mas também pode ser entendido como representante de um indivíduo único, com suas memórias, peculiaridades, ideias, desejos, curiosidades, erros, manias e histórias.

Quem porta o CPF de número 282991208-02, que dá título a esta exposição, é Leandro Spett. Artista múltiplo, que há anos domina a prática do desenho e da pintura com destreza e desenvoltura raramente encontradas, Spett é, desde sempre, um colecionador. E essa é uma de suas características mais marcantes. Suas coleções extravasam as clássicas reuniões de selos, discos de vinil, moedas e objetos artísticos; são coleções atípicas e inusitadas, por assim dizer. Em uma delas, ele reúne contas pagas, multas que tomou, cartões de visitas que recebeu, passaportes antigos, prescrições médicas recebidas, jogos americanos de lanchonetes em que comeu, resultados de exames, entre outros itens. É uma coleção que reconta sua história por vias que se cruzam e completam. Outra coleção, é composta por fotografias que o artista fez ao longo dos últimos anos no centro da cidade de São Paulo, em que aparecem pessoas que lá transitam, vivem, trabalham e passam. É um mapeamento fascinado de um local histórico e intrigante da cidade.

Aqui na Kovak & Vieira apresentamos parte dessas duas coleções, divididas em dois núcleos. No primeiro, vemos as engenhosas intervenções do artista em seus próprios documentos, reiterando a natureza da informação ali contida, ou o trabalhador com ela envolvido. Na segunda, pessoas que trabalham ou transitam pelo centro da cidade vêm representadas por meio do guache sobre papel. São pinturas baseadas nas fotos que o artista faz e coleciona. Nesse núcleo, pessoas ou profissões, muitas vezes invisibilizadas, são dignificadas e singularizadas pelo tratamento plástico que Spett emprega, ao deixá-las protagonistas ante o fundo branco do papel.

A mostra de Leandro Spett é autobiográfica. É única como seu CPF. Ela revela o modo como ele olha, preserva e repensa a sua história e a de outros, que com ele dividem a cidade e também histórias de vida.

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