Imagem: Divulgação

O escritor, crítico literário, e tradutor de diversos títulos – alguns presentes nas indicações da categoria “Imperdíveis“, Julián Fuks, publicou em suas redes sociais o “Manifesto da Literatura pela Democracia”, por ele escrito.

O texto posiciona a classe literária assinante frente à fragilidade democrática instaurada pelo cenário político do país, que aproxima-se do 2º turno eleitoral.

“Diante do descalabro que parece iminente nestas eleições, me pediram que escrevesse este ‘Manifesto da Literatura pela Democracia’, a ser subscrito por escritores e escritoras e demais profissionais do livro”, escreveu Julián.

Nomes como Raduan Nassar, Chico Buarque, Lygia Fagundes Telles, Luis Fernando Veríssimo, Roberto Schwarz, Diamela Eltit, Mia Couto, Bernardo Kucinski, Gregorio Duvivier, Alberto Martins,  Maria Betânia Amoroso, Mirna Queiroz, entre muitos outros, assinaram o Manifesto. Para assinar, acesse o link.

Fuks chama também para um ato na Tapera Taperá, em São Paulo, no dia 26/10, às 19h. “Para reunirmos forças e palavras, e para enfrentarmos juntos esse horror que nos afronta. Cedo ou tarde, a democracia, a liberdade, a empatia, hão de se impor”, finaliza.

Confira o texto na íntegra:

 Manifesto da Literatura pela Democracia

“Se o país não estivesse imerso em tanta fúria, tanto ódio, tanto grito, se por um instante se instalasse algum silêncio, talvez todos ouvissem o sinal de alarme: algo está em perigo. Funcionam os hospitais, os tribunais, as delegacias, abrem-se as repartições, mas não há nenhuma normalidade em nossos dias, nenhuma tranquilidade é possível. Em pouco tempo caminharemos às urnas com as mãos desarmadas, exerceremos com liberdade o ofício do voto, e ainda assim o alarme soará por toda parte: a democracia está em perigo.

A democracia não se resume à possibilidade de depositar um voto na urna; supõe, antes disso, o direito de todos e todas, pleno e absoluto, à existência. O candidato Jair Bolsonaro fere a democracia porque defende o desaparecimento de muitos: de seus adversários, que anseia por banir da política; dos ativistas, que quer extirpar do país; de quilombolas e índios, que pretende privar de suas terras; da comunidade LGBT, intimidada a conter em público seu afeto; dos jornalistas críticos, constantemente ameaçados por ele próprio ou por seus seguidores.

A democracia não sobrevive apenas com um respeito momentâneo às normas; sua preservação requer um compromisso constante com o Estado de Direito. Bolsonaro vem ferindo a democracia há décadas, em seu louvor às opressões da ditadura, em sua defesa insistente da tortura e do extermínio. Ameaçou a democracia no passado, e sua candidatura a ameaça no futuro, com o aceno a medidas autoritárias. A cada declaração ou insinuação, o sinal de alarme soa mais alto.

A cultura ele também quer abater, mas a cultura não se abate. A literatura ele quer calar, mas a literatura não se cala. Contra a censura, contra o desprezo, contra o desdém, contra a imposição de falsas verdades e de equívocas certezas, escritores e escritoras sempre souberam se erguer. Eis o ativismo da literatura, o ativismo que ele não poderá extirpar: a literatura será sempre um dos grandes antídotos para a desumanidade e a indiferença.

Por isso aqui nos erguemos, escritores e escritoras, críticos e críticas, editores e editoras, exercendo nosso ofício da palavra, ouvindo como outros o ruído das sirenes. Por isso clamamos por uma união de todos e todas que prezem pela democracia, que valorizem a existência da diversidade e do dissenso. A literatura, afinal, tem como ideal e como fim a aproximação ao outro, a compreensão de suas aflições, de seus suplícios, o encontro entre diferentes. E ainda que resista às circunstâncias mais adversas, como resistimos e resistiremos, a liberdade há de ser sempre o seu maior instrumento.”

 


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