
O primeiro escalão do governo interino de Michel Temer não tem mulheres. Entre os 23 nomes que compõem a equipe ministerial anunciada na tarde de 12 de maio, data da posse, não há nenhuma ministra. Tampouco há negros. As duas parcelas da população – mulheres e negros – representam mais da metade dos brasileiros, que é composta por 51,4% de mulheres e 53,6% de negros.
Para agravar ainda mais o cenário sexista e racista, Temer extinguiu as secretarias especiais de Políticas para as Mulheres, de Igualdade Racial e de Direitos Humanos, transformando-as em meras secretarias sem status de ministério. Respondem ao Ministério da Justiça e Cidadania, comandado por Alexandre de Moraes, que tem muito mais afinidade com a esfera da segurança pública do que com os direitos humanos. Ele foi secretário de Segurança Pública de São Paulo na gestão de Geraldo Alckmin (PSDB) e tem em sua conta a conduta violenta da Polícia Militar contra os estudantes secundaristas, além da chacina de Osasco (SP) em agosto de 2015, praticada por policiais, que exterminou 19 pessoas em uma madrugada.
A lua de mel política, comum nas trocas de governo, durou pouco. Michel Temer havia dito em sua primeira entrevista como presidente interino (ao Fantástico, da Rede Globo) que formaria um “ministério de notáveis”, mas seu ministro do Planejamento, Romero Jucá (PMDB-RO), caiu em 12 dias. O da Transparência, Fabiano Silveira, foi forçado a sair em 17. Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), do Turismo, pediu demissão ao ter o nome citado em delação. Temer também afirmou que traria uma representante do “mundo feminino” (como se fosse um outro planeta) para ocupar cargos na Cultura, ministério que havia extinto. Não teve sucesso.
Com esse perfil, ficou difícil encontrar candidatas para ocupar pastas no segundo nível do governo Temer. Entre convites e sondagens, em 15 dias, sete mulheres disseram “não”, mesmo com a mediação da senadora Marta Suplicy (PMDB-SP). Nos últimos 37 anos de gestão federal, todos os presidentes brasileiros, até mesmo João Figueiredo, último presidente da ditadura militar, tiveram mulheres em ministérios. No período democrático todos os ex-presidentes escolheram ministras. Fernando Collor teve uma, Itamar Franco e Fernando Henrique Cardoso tiveram duas, Luiz Inácio Lula da Silva contou com 11 e Dilma Rousseff comandou 16 ministras.
Os próprios aliados do presidente interino criticaram a falta da presença feminina nos ministérios. “Tem o meu protesto absoluto, teria que ter (mulheres na equipe)”, afirmou o senador Aécio Neves (PSDB-MG), durante votação da abertura do processo de impeachment no Senado. “Existem mulheres altamente competentes em vários partidos, certamente ele vai encontrar espaços para que as mulheres possam ajudar.”
A primeira a aceitar um cargo de segundo escalão no governo Michel Temer foi a economista Maria Silvia Bastos Marques, quatro dias depois de o presidente interino tomar posse. Reconhecida por sua competência e eficácia técnica, ela assumiu a presidência do BNDES, pela primeira vez ocupada por uma mulher. Até o final de maio, apenas três mulheres compunham esse patamar de governo, além de Bastos Marques: Nara de Deus, chefe de gabinete de Temer, Flavia Piovesan, na Secretaria de Direitos Humanos, e Ana Paula Vescovi, na Secretaria do Tesouro Nacional. Nesta quinta-feira (16), uma nova tentativa de incluir mulheres nos ministérios de Temer saiu errado. O ministro da Transparência, Fiscalização e Controle, Torquato Jardim, nomeou sua sócia em um escritório de advocacia para chefiar o seu gabinete no ministério. A nomeação da advogada Lilian Claessen Miranda Brandão foi publicada no Diário Oficial da União. Pegou mal. Além de um evidente conflito de interesses, o presidente interino disse há poucos dias que congelaria nomeações de cargos comissionados.

Para a Secretaria de Políticas para as Mulheres, Michel Temer escolheu a socióloga e ex-deputada federal Fátima Pelaes (PMDB-AP), presidenta reeleita do PMDB Mulher. Pelaes tem uma história triste. Foi feminista por muito tempo. Lutou pelo direito ao aborto. Mas, em 2002, ao sofrer um grave acidente de barco no rio Amazonas e sobreviver, se converteu à igreja evangélica. Posicionou-se contra o aborto. Em uma sessão na Câmara dos Deputados para votar o Estatuto do Nascituro, em maio de 2010, Pelaes revelou que nasceu em uma penitenciária, do ventre de uma mulher que tinha sido abusada por três homens. “Depois de muito trabalho, terapia e de buscar Deus eu posso falar normalmente. Ela (a mãe) chegou a pensar no aborto. Não via saída. Como uma mulher encarcerada poderia continuar com essa gravidez?”, contou. “Ela não teve como fazer. Depois que eu já estava adulta, ela pediu perdão. Hoje eu estou aqui podendo dizer: a vida começa na concepção, sim. Que direito nós mulheres temos de tirar uma vida?” Pelaes também enfrenta investigação sobre desvio de R$ 4 milhões em emendas.
O fato de o presidente interino não ter se preocupado em conduzir mulheres ao primeiro escalão de seu governo demonstra muito mais que falta de habilidade política. É um forte indicador de que as políticas públicas para mulheres, direitos humanos, igualdade racial e agenda social não são prioridades para o governo federal temporário. No recorte de gênero, quer dizer também que o processo de impeachment não só legitimou o machismo presente na sociedade brasileira como explicitou, sem constrangimentos, a conduta sexista de muitos parlamentares, o que se reflete na sociedade em geral. O deputado Jair Bolsonaro (PSC-RJ), o mais evidente dos exemplos, além de celebrar o torturador de Dilma, se referiu a ela como “anta”. Nas ruas, manifestantes pró-impeachment não tiveram pudores em chamar a presidenta eleita de “vaca”, entre outros xingamentos impublicáveis. Na noite de 11 de maio, enquanto acontecia a votação da admissibilidade do impeachment no Senado, a Polícia Legislativa reprimiu violentamente uma manifestação de mulheres contra o golpe. “É a retomada de uma perspectiva de exclusão e preconceito”, alerta a socióloga Marcia Lima, professora de Desigualdades Raciais na USP. “Precisaríamos seguir por décadas enfrentando o preconceito e seus efeitos. Mas estamos voltando à estaca zero.”

Políticas Públicas para mulheres
São inegáveis os avanços na agenda dos direitos das mulheres nos últimos 13 anos, desde que foi criado o Ministério de Políticas para Mulheres. Um dos marcos mais importantes é a Lei Maria da Penha, de 2006, contra a violência doméstica, uma realidade cruel e silenciosa para mais de um milhão de brasileiras, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE/2015). Como consequência, em dez anos, a taxa de homicídios contra mulheres em âmbito doméstico caiu 10%, segundo o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea/2015). “Vamos perder tudo o que conquistamos com muita luta nesses 13 anos. É o maior retrocesso que eu já vi na história do meu País dentro da democracia”, declara a ex-ministra de Políticas para as Mulheres, Eleonora Menicucci.
Outra ação fundamental foi a mudança na legislação sobre estupro. Até 2009, o estupro era considerado “crime contra os costumes”, ou seja, o “ofendido” em sua honra era o pai ou o marido. Com a Lei 12.015/2009, a mulher deixou de ser “propriedade” para ter direitos sobre seu corpo. A nova lei também considerou todas as formas de violência sexual (atos libidinosos) como estupro, mesmo sem conjunção carnal. A pena é agravada no caso de a vítima ser adolescente ou vulnerável, como pessoas com deficiências.
No Brasil, uma mulher é estuprada a cada 11 minutos, de acordo com a estatística do Fórum Brasileiro de Segurança Pública. São 131 estupros por dia, em média. O enfrentamento a essa realidade segue extremamente ameaçado. Tramita no Congresso o Projeto de Lei 5069/2013, de autoria de Eduardo Cunha (PMDB-RJ), que interfere no direito de interromper a gravidez em caso de estupro. Pelo PL, a vítima de estupro deve ser obrigada a fazer exame de corpo de delito para acessar o aborto legal, submetendo-se a constrangimento. Também indica punição severa aos profissionais que ajudarem a vítima, inclusive ao “instruir”, “orientar” ou “prestar auxílio” à mulher. O projeto é assinado por 13 homens, entre eles André Moura (PMDB-RJ), líder do governo na Câmara. “A gente não pode ter a mistura entre o Estado e a religiosidade”, diz a deputada federal Maria do Rosário (PT-RS), responsável pelo projeto de lei que mudou o crime de estupro. “O Estado laico é a garantia de que todas as pessoas sejam respeitadas. Você não pode impor a sua perspectiva filosófica”, completa.
Pouco mais de dez dias depois da votação do impeachment, o Brasil assistiu online ao abuso sofrido por uma adolescente no Rio de Janeiro. O caso demonstrou que a cultura do estupro é muito presente no País. Insuflou mulheres e homens a saírem às ruas indignados pelo crime brutal. Na mesma medida, demonstrou a força fascista que espreita a sociedade, com julgamentos contra a menina (por sua roupa ou comportamento) e pedidos de pena de morte e castração para os suspeitos.
O fato de uma mulher ter ocupado o cargo mais poderoso do Brasil é um legado simbólico incontestável que está sob ameaça. Para a ex-ministra do Desenvolvimento Social Tereza Campello, um dos ganhos importantes foi a maior autonomia feminina. As mulheres passaram a dizer “eu posso”. Mas o novo governo pode botar tudo abaixo. “Apesar de termos avançado muito na construção de uma agenda de direitos para as mulheres, isso ainda é tão frágil a ponto de poder ser revertido. Eu me sinto agredida como mulher. É muito duro”, afirma Campello.
Demonstra a vulnerabilidade da mulher na sociedade brasileira. “Todas as mulheres estão vulneráveis nesse processo: as pobres, as negras, as indígenas, as lésbicas, as deficientes, as jovens, as idosas. Todas”, declara a ex-ministra das Mulheres Eleonora Menicucci. Não basta o presidente interino, Michel Temer, afirmar que foi o primeiro a criar uma Delegacia da Mulher, quando era secretário de Segurança Pública de São Paulo, 31 anos atrás.
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Depois de atrair quase 1 milhão de visitantes com a exposição “Dos Brasis – arte e pensamento negro” – considerada uma das maiores mostras dedicadas exclusivamente à produção negra nacional -, o Centro Cultural Sesc Quitandinha, em Petrópolis, abrirá, neste sábado (24/5), um novo projeto expositivo que promete grande repercussão. Trata-se de “Insurgências Indígenas: Arte, Memória e Resistência“, que reunirá obras e performances de artistas indígenas aldeados de diferentes partes do país.
A mostra será aberta em etapas – ou em “fogueiras”, terminologia utilizada pela curadoria do projeto. Ela é assinada pela antropóloga e ativista indígena Sandra Benites e pelo curador-chefe do Museu de Arte do Rio (MAR), Marcelo Campos, com a assistência de Rodrigo Duarte, artista visual e ativista socioambiental. O termo fogueiras (TATA YPY, a origem do fogo, em guarani) faz referência às práticas culturais ancestrais de reunião ao redor do fogo. Para a mostra, a palavra se refere aos encontros e debates que abrem cada etapa da exposição.
“É nas fogueiras que há compartilhamento e diálogo aquecido pela força e afeto. É o lugar de encontro de uma comunidade, um lugar de debate, tomadas de decisões, recontar nossas histórias e acordar memórias”, explicam os curadores.
Andrey Guaianá e debate com lideranças indígenas
A primeira fogueira, neste sábado (24/5), será marcada pela inauguração da obra comissionada de Andrey Guaianá Zignnatto, na Galeria Brasil, e por uma conversa entre público, artistas e lideranças indígenas no Salão das Convenções. Participarão Lutana Kokama, Vanda Witoto, Iracema Gãh Té Kaingang e Alice Kerexu Takua, além da curadora Sandra Benites. A atividade, que acontece das 14h às 17h, tem entrada franca. Também haverá transmissão ao vivo através de um link que será disponibilizado em www.sescrio.org.br.
Nascido em Jundiaí (SP), descendente de povos Tupinaky’ia e Gûarini, Andrey é reconhecido por trabalhos que fazem referência ao universo do labor. Neto de pedreiro, do qual foi ajudante quando criança, Andrey utiliza em suas obras materiais como sacos de cimento, tijolos, juntas de argamassa e fragmentos e sobras de intervenções urbanas. Sua intenção é provocar uma reflexão sobre a relação instável e dinâmica que o ser humano estabelece com o meio que o cerca.
Diversidade de povos
A fogueira seguinte será no dia 7 de junho, com o desenvolvimento das obras comissionadas, ou seja, desenvolvidas exclusivamente para a mostra. O público poderá acompanhar o processo de criação dos trabalhos, que envolverá instalações, pinturas e ilustrações. As peças serão criadas por artistas e coletivos de Amazonas, Mato Grosso do Sul, Pará, Pernambuco, Rio Grande do Sul e Santa Catarina, dos povos Desana, Baniwa, Anambé, Guarani Nhandeva, Xavante, Guarani, Mbya e Karapotó.
A composição do projeto prossegue no dia 10 de julho, coincidindo com o Festival Sesc de Inverno, quando serão apresentadas obras audiovisuais, incluindo mapping, e inaugurada a obra da artista Tamikuã Txihi no entorno do lago Quitandinha. Para o dia 9 de agosto está prevista a última fogueira, que completa a exposição, com obras que remetem à arte e à memória. A mostra se estenderá até fevereiro de 2026.
Serviço
Exposição | Insurgências Indígenas: Arte, Memória e Resistência
De 24 de maio a 24 de fevereiro
Terça a domingo e feriados, das 10h às 16h30
Período
24 de maio de 2025 10:00 - 24 de fevereiro de 2026 16:30(GMT-03:00)
Local
Centro Cultural Sesc Quitandinha
Avenida Joaquim Rolla, 2, Petrópolis, Rio de Janeiro - RJ
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Claudia Andujar é um paradigma internacional de humanismo construído ao longo de décadas de dedicação a seu trabalho com a fotografia. Seu foco sempre esteve, sobretudo, nos
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Claudia Andujar é um paradigma internacional de humanismo construído ao longo de décadas de dedicação a seu trabalho com a fotografia. Seu foco sempre esteve, sobretudo, nos segmentos da população brasileira que viveram à margem da vida, como os migrantes nordestinos, mulheres, afrodescendentes e indígenas do Brasil, entre outros. Nascida numa família judia em 12 junho de 1931 em Neuchâtel na Suíça. Quando ela tinha 5 anos sua família se mudou para a Hungria. Grande parte de sua família era judia. Seu pai foi aprisionado pelos nazistas e morreu num campo de concentração. Com sua mãe, a jovem Claudia se exilou em Nova York durante a Segunda Guerra Mundial, em fuga do Holocausto. Claudine Haas se tornou Claudia Andujar ao se casar com o espanhol Julio Andujar nos Estados Unidos. Em 1955, ela veio morar em vieram para São Paulo.
Desde a infância, Claudia Andujar escrevia poemas e depois passou a pintar até que descobriu a fotografia. “Na pintura, eu me fechava. Na fotografia, eu me abri” Sua entrega política mais surpreendente foi em prol da mudança da consciência coletiva sobre a violência das formas de hegemonia imperantes no país, por grupos que chegaram ao ponto de praticar o genocídio, como no caso dos garimpeiros historicamente espoliados de suas terras e bens e eliminados como povos.
Para Claudia Andujar, a fotografia foi sua arma de “violentação da violência” social, dimensão tomada emprestada de Michel Foucault. O regime ótico de sua produção foi primeiramente marcado pelo compartilhamento de valores éticos necessários ao olhar de compaixão, simpatia e aliança com os dominados e à defesa da vida. Só depois, caberia pensar na excelência estética de sua fotografia.
Sustentabilidade. A conservacionista Claudia Andujar colocou sua câmera a serviço da natureza. Sua produção fotográfica denunciou diante do mundo o genocídio dos povos indígenas da América do Sul, o genocídio, a espoliação das terras e dos saberes indígenas, o garimpo ilegal, inclusive como o envenenamento dos rios amazônico pelo uso do mercúrio.
Ciência. Aconselhada por Darcy Ribeiro, Claudia Andujar se encaminhou para documentar sociedades indígenas sobre o prisma do conhecimento antropológico, incluindo a vida simbólica e a cultura material dos povos originários. Claudia Andujar compõe uma história de mais de 150 anos de emprego da fotografia nesse processo investigativo, ao lado de Sebastião Salgado, Milton Guran, Elza Lima, entre outros – aqui referidos por conta da dimensão estética de suas imagens.
Espiritualidade. Em seus primórdios, algumas sociedades não brancas, consideravam que a fotografia “roubava a alma” dos retratados. Ademais, as sociedades indígenas foram catequizadas por missionários católicos, uma guerra simbólica hoje acirrada pelo exacerbado proselitismo de seitas evangélicas. O delicado respeito ético de Claudia Andujar pelas diferenças e especificidades das crenças resultou numa “arte sacra” sui generis ao registrar com formidável qualidade plástica cerimônias, adereços ritualísticos, cerimônias como a da ingestão dos alucinógenos religiosos, observando teogonias e unidade entre todos os seres que compõe a terra: água, pedras, montanhas, vegetais, animais, um reino da natureza no qual os humanos se inscrevem sem hierarquização de qualquer espécie.
Serviço
Exposição | Claudia Andujar e seu Universo
De 18 de julho a 04 de novembro
Quinta a terça-feira, das 10h às 18h
Período
18 de julho de 2025 10:00 - 4 de novembro de 2025 18:00(GMT-03:00)
Local
Museu do Amanhã
Praça Mauá, 1 - Centro, Rio de Janeiro - RJ
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O IMS Paulista abre a mostra Paiter Suruí, Gente de Verdade: um projeto do Coletivo Lakapoy. A exposição apresenta um acervo inédito de fotografias familiares tiradas majoritariamente pelo povo indigena Paiter Suruí, reunidas e digitalizadas pelo Coletivo Lakapoy. Esse acervo inclui cenas e retratos tirados desde a década de 1970, quando as câmeras chegaram ao território pelas mãos de missionários, mas passaram a ser utilizadas pela população local para registrar seu dia a dia. Além do acervo histórico, a exposição apresenta fotos e vídeos atuais, reforçando o papel da fotografia como importante ferramenta de afirmação dos direitos indígenas.
As imagens do acervo histórico estavam armazenadas nas casas das famílias, guardadas em álbuns, caixas e estantes das diferentes aldeias do território indígena, localizado entre os estados de Rondônia e Mato Grosso. Para preservá-las, o Coletivo Lakapoy – grupo formado por comunicadores indígenas, com o apoio de não indígenas, com o objetivo de fortalecer a cultura Paiter Suruí – reuniu, catalogou e digitalizou as fotografias. Em 2021, o projeto foi publicado na revista ZUM e, em 2023, selecionado pela Bolsa ZUM/IMS, de fomento à produção artística. O resultado dessa pesquisa agora se desdobra nesta exposição, que ocupa o 6º andar do IMS Paulista, com entrada gratuita. (Saiba mais sobre o Coletivo Lakapoy no serviço.)
A mostra tem curadoria da líder e ativista Txai Suruí, que integra o Coletivo Lakapoy, da arquiteta, pesquisadora e curadora Lahayda Mamani Poma e de Thyago Nogueira, coordenador da área de Arte Contemporânea do IMS, além de supervisão do cacique-geral Almir Narayamoga Suruí, nome fundamental da história da luta indígena no Brasil. No sábado (26/7), às 11h, os curadores participam de uma conversa com Almir Suruí e Ubiratan Suruí, do Coletivo Lakapoy, no cinema do IMS Paulista. No domingo (27/7), às 15h, um grupo de anciãos do povo Paiter Suruí conduz uma atividade sobre os cantos tradicionais da sua cultura. Os eventos são gratuitos e abertos ao público.
Na exposição, o público encontra reproduções de cerca de 800 fotografias analógicas, da década de 1970 até 2000, que documentam o dia a dia do território, registrando aniversários, casamentos, batizados e competições esportivas, mas também os desafios decorrentes dos contatos com os não indígenas. Este acervo histórico ocupa todas as paredes da exposição, transformando-as em um grande álbum de família, composto de registros informais e pessoais.A mostra apresenta ainda cerca de 20 retratos recentes do povo Paiter Suruí tirados em maioria por Ubiratan Suruí, primeiro fotógrafo profissional do povo e integrante do Coletivo Lakapoy, além de depoimentos e vídeos dos influencers Oyorekoe Luciano Suruí e Samily Paiter. A exposição também apresenta redes, cestos e colares produzidos pelas artesãs do território, valorizando o conhecimento ancestral e artístico das mulheres Paiter Suruí.
Contatados oficialmente pela Funai em 1969, os Paiter Suruí resistiram a invasões, doenças e à omissão governamental até obterem, em 1983, a homologação da Terra Indígena Sete de Setembro, localizada entre os estados de Rondônia e Mato Grosso. Hoje, são aproximadamente 2.000 pessoas, distribuídas em mais de 30 aldeias. Com um modo de vida integrado à floresta amazônica, mas também profundamente transformado desde o contato com a sociedade não indígena, os Paiter Suruí seguem lutando para garantir sua soberania e a integridade de seu território, ameaçado pelo garimpo, pela pecuária e pelo extrativismo predatório. A fotografia e as redes sociais, entre outras ferramentas tecnológicas, foram apropriadas pela juventude como formas de difundir sua cultura, denunciar invasões e fortalecer a resistência.
Txai Suruí comenta a exposição e a importância de preservar essa memória: “A vontade de guardar, registrar e contar a história do povo Paiter Suruí é um sonho que agora se realiza, antes de os últimos anciãos nos deixarem, antes de essa história se ocultar de vez em algum canto esquecido do tempo, na memória dos que viveram essa saga. […] Com as câmeras nas mãos, vemos um olhar diferente daqueles que vieram de fora, podemos notar a espontaneidade e naturalidade de quem tira fotos para um álbum de família. São imagens cheias de amor, carinho e afetividade, mas também de conhecimento, de amor à humanidade e à natureza, de orgulho de pertencer ao povo Paiter Suruí.”
A maioria das pessoas retratadas nas imagens foram identificadas e contatadas, autorizando a reprodução das fotos, num movimento de propor novas lógicas de construir, guardar e expor acervos indígenas, como pontua a curadora Lahayda Mamani Poma: “De modo geral, o contato entre instituições de arte e culturas originárias abre não apenas para conhecimento de novas produções e linguagens artísticas, mas para a reflexão sobre modos de fazer museologia”.
O curador Thyago Nogueira também ressalta que o acervo é um “documento inédito da história Paiter Suruí, muito diferente das imagens oficiais e etnográficas produzidas sobre os povos indígenas brasileiros”. Segundo o curador do IMS, “montar um acervo visual de um povo é uma forma de refazer laços e dinamizar a própria cultura, criando pontes entre as novas e velhas gerações. É também uma forma de mostrar que as fotografias atuam como ferramenta de resistência e afirmação − uma estratégia que pode interessar a outros povos indígenas e grupos minorizados ou excluídos de sua própria história”.
Essa lógica aparece nas legendas da exposição, elaboradas coletivamente pelos Paiter Suruí, com coordenação de Ubiratan Suruí (ver exemplo abaixo). Essa opção reforça o trabalho coletivo, em contraponto à ideia de autoria individual, já que é frequentemente difícil determinar quem bateu cada foto, pois a câmera circulava entre várias mãos. Outro aspecto importante é a presença de intervenções manuais nas fotografias. Rasuras, desenhos e anotações mostram que estas fotografias são fragmentos de memória vivos, e não apenas documentos do passado.
Ubiratan Suruí, integrante do Coletivo Lakapoy, comenta o processo de construção deste acervo: “Essas fotos foram coletadas nas casas de vários Paiter. Quando muitas delas foram feitas, eu era apenas uma criança. Assim, para entender melhor o que estava vendo e o porquê de cada registro, passamos a ir atrás dos personagens ou seus familiares. Às vezes, a fotografia era brincadeira de criança ou até um disparo acidental de alguém que não estava tão acostumado com a câmera. Mas, como a máquina era analógica, com a limitação dos filmes, a maioria dos cliques era de momentos realmente importantes.” Segundo o fotógrafo, o “acervo catalogado já passou das centenas de registros, e cada um deles traz outra centena de narrativas. Quando um álbum novo é encontrado na aldeia, vários parentes se sentam em volta dele para trocar relatos e lembrar do passado.”
Ubiratan é o autor de parte das fotos contemporâneas exibidas na mostra, tiradas a partir de 2024. As imagens mostram o cotidiano atual das aldeias do território Paiter Suruí, marcadas tanto por costumes tradicionais quanto por novas sociabilidades e pelo uso das tecnologias. A exposição traz também vídeos de entrevistas com lideranças e integrantes da comunidade, como Almir Narayamoga Suruí. Nos depoimentos, as pessoas falam da importância do acervo e comentam temas como política, espiritualidade e alimentação.
Outro destaque, feito especialmente para a exposição, é uma projeção audiovisual que documenta o contato de anciãos do território com as imagens históricas do fotógrafo Jesco von Puttkamer. Jesco participou do contato da Funai com os Paiter Suruí na virada dos anos 1960 para os 1970, e, ao longo da vida, reuniu um dos acervos audiovisuais indígenas mais importantes do país, depositado no IGPA da PUC Goiás. A maioria dos Paiter Suruí, no entanto, nunca havia visto as imagens, que retornaram ao território pela primeira vez depois de uma colaboração entre o Coletivo Lakapoy e o IGPA da PUC Goiás.
Em cartaz até 2 de novembro, a exposição apresenta ao público um conjunto inédito de imagens de grande importância histórica e política. Trata-se de um acervo em expansão, que, em 2026, também será exposto no próprio Território Sete de Setembro.
Serviço
Exposição | Paiter Suruí, Gente de Verdade
De 26 julho a 2 novembro
Terça a domingo e feriados das 10h às 20h (fechado às segundas).
Última admissão: 30 minutos antes do encerramento.
Período
26 de julho de 2025 10:00 - 2 de novembro de 2025 20:00(GMT-03:00)
Local
IMS - Instituto Moreira Salles
Avenida Paulista, 2424 São Paulo - SP
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A exposição Tableau, de Valeska Soares, na Fortes D’Aloia & Gabriel, em São Paulo, apresenta obras novas e recentes que exploram temas como ausência, presenças fantasmagóricas, impermanência e erotismo. O
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A exposição Tableau, de Valeska Soares, na Fortes D’Aloia & Gabriel, em São Paulo, apresenta obras novas e recentes que exploram temas como ausência, presenças fantasmagóricas, impermanência e erotismo. O título alude à dimensão narrativa do trabalho de Soares, em que cada obra funciona como um fragmento de uma trama maior. O significado permanece aberto à interpretação, mas os enigmas e ambiguidades tecem uma rede de alusões que conectam e aprofundam muitas de suas preocupações conceituais de longa data: as tensões entre visão e som, memória e apagamento, objeto e desejo.
A mostra é composta por três núcleos distintos. Na série Blindface (2025), um desdobramento de sua produção anterior Doubleface, Soares utiliza imagens descartadas de nus femininos, montando-as de verso para frente sobre chassis e cortando a tela para revelar fragmentos de paisagens e corpos. A obra lida com visibilidade e ocultamento: o que é mostrado está sempre em relação com o que é escondido ou apagado. Na instalação calling (2025), um sino de bronze fundido no formato de uma maçã está suspenso sobre uma grande mesa de madeira. Um mecanismo oculto põe o sino em movimento em intervalos irregulares, produzindo um tilintar suave que rompe brevemente o silêncio. A obra se desdobra no tempo, sugerindo um chamado ou sinal que permanece sem resposta. A transformação da maçã em sino combina ideias de atração e interrupção, marcando o tempo através do som em vez do movimento.
Em outra parte da exposição, esculturas de bronze de utensílios domésticos, como uma vassoura, uma brocha e um rodo, são apresentadas em posições estáticas e improváveis. Esses objetos parecem animados, mas intocados, sugerindo uma ruptura com sua função original. Em Upside-down (2024), um vaso de bronze é invertido, equilibrando-se sobre suas flores e folhas, subvertendo um objeto decorativo familiar e transformando-o em uma estrutura que resiste ao uso para o qual foi concebida. Em conjunto, as obras da exposição apontam para deslocamentos sutis na forma como percebemos o trabalho, a memória e a presença no espaço doméstico.
Serviço
Exposição | Tableau
De 30 de agosto a 18 de outubro
Terça a sexta, das 10h às 19h, sábado, das 10h às 18h
Período
30 de agosto de 2025 10:00 - 18 de outubro de 2025 19:00(GMT-03:00)
Local
Galpão Fortes D'Aloia & Gabriel - SP
Rua James Holland 71, Barra Funda, São Paulo
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A Fortes D’Aloia & Gabriel tem o prazer de anunciar a exposição Onda Avalanche Vulcão, uma série de fotografias colaborativa de Mauro Restiffe e Maria Manoella. Este novo conjunto de obras
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A Fortes D’Aloia & Gabriel tem o prazer de anunciar a exposição Onda Avalanche Vulcão, uma série de fotografias colaborativa de Mauro Restiffe e Maria Manoella.
Este novo conjunto de obras apresenta uma exploração sensível da relação entre o corpo humano e a paisagem natural. A série reúne retratos íntimos e eróticos junto a fotografias dos vastos ambientes percorridos pelos artistas, registrando o desejo e o tempo como elementos centrais da criação de imagens. Juntas, essas fotografias estabelecem um diálogo simbólico entre a corporeidade e as forças da natureza.
As imagens mostram corpos revelados e sugeridos que operam como metáforas para os processos de transformação observados no mundo físico. Montanhas cobertas de neve, cachoeiras, gêiseres e formações rochosas aparecem ao lado dessas figuras, evocando ideias de desejo e erupção por meio de suas transformações viscerais. Tanto o sexo quanto essas paisagens selvagens implicam certo grau de volatilidade e incontrolabilidade.
No centro da série está a ênfase na experiência sensorial como forma de apreensão do mundo. O erotismo se manifesta a partir da textura e da luz, em diálogo com o drama físico do contato amoroso e da presença atmosférica. A esfera íntima do envolvimento tátil e das sugestões de toque e sensação interagem com as amplas dimensões físicas e temporais das paisagens, moldando correspondências sensuais entre formas humanas e geológicas.
Um livro de artista homônimo, publicado pela Familia Editions, será lançado no dia da abertura (30.08).
A visitação é recomendada para maiores de 18 anos.
Serviço
Exposição | Onda Avalanche Vulcão
De 30 de agosto a 18 de outubro
Terça a sexta. das 10h às 19h, sábado, das 10h às 18h
Período
30 de agosto de 2025 10:00 - 18 de outubro de 2025 19:00(GMT-03:00)
Local
Galpão Fortes D'Aloia & Gabriel - SP
Rua James Holland 71, Barra Funda, São Paulo
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Como se constrói uma exposição de arte? Qual o papel de um curador de uma coleção? Na 69ª edição do programa Ocupação Itaú Cultural, somos convidados a conhecer a trajetória
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Como se constrói uma exposição de arte? Qual o papel de um curador de uma coleção? Na 69ª edição do programa Ocupação Itaú Cultural, somos convidados a conhecer a trajetória de um dos mais importantes pesquisadores das artes no Brasil, o curador, gestor cultural, crítico de arte e artista Paulo Herkenhoff.
A mostra – com curadoria de Leno Veras e da equipe do Itaú Cultural – apresenta documentos, fotografias, livros, obras de arte e diversos de seus cadernos de anotação para se debruçar sobre três aspectos fundamentais do trabalho de Paulo: o colecionismo, a curadoria de exposições e a edição de publicações de arte.
Nascido em Cachoeiro de Itapemirim, no Espírito Santo, nosso homenageado tem um trabalho marcado pela investigação profunda da história da arte, da cultura e de seus protagonistas; pela tessitura de redes de saber e pelas ações estruturantes em museus e organizações nas quais atua, sempre preocupado com o fortalecimento das bases que sustentam as instituições culturais, garantindo sua perenidade e permanência. Como gestor e crítico, se engaja na construção de coleções e análises críticas que olhem e representem, de fato, a multiplicidade que constitui o país, e a transmissão de seus saberes inerentes.
Na juventude, ainda em Cachoeiro de Itapemirim, Paulo Herkenhoff cresceu imerso em uma escola criada e gerida por sua família. Foi nela onde começou a trabalhar na biblioteca aos 10 anos, ministrou aulas aos 14 e montou sua primeira curadoria, uma mostra dedicada ao estado da Paraíba, aos 6 anos. Frequentou a Escolinha de Arte de Cachoeiro de Itapemirim, fundada por Isabel Braga em 1950 e, na década de 1970, foi aluno do artista Ivan Serpa. Foi inclusive enquanto aluno de Serpa que Paulo começou a carreira artística. Sua receptividade foi imediata, sendo premiado no Salão Universitário da PUC-Rio, no Salão de Verão, na exposição Valores Novos e na VII Jovem Arte Contemporânea. Nessa mesma década participou da Bienal de Veneza e da Bienal de Paris.
Seu sonho, desde a juventude, era trabalhar com diplomacia, que o leva a cursar Direito, carreira que deixaria de lado anos mais tarde para se dedicar à cultura e à arte. Foi Curador-chefe do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (MAM/RJ), Diretor Cultural do Museu de Arte do Rio (MAR), também com passagens pelo Museu de Arte Moderna de Nova Iorque (MoMA), pelo Museu de Belas Artes do Rio de Janeiro (MNBA) e muitas outras organizações dentro e fora do Brasil. Foi responsável por curadorias que ficaram para a história da arte brasileira, como a 24ª Bienal Internacional de São Paulo, conhecida como a “Bienal da Antropofagia”; o Pavilhão brasileiro da 47ª Bienal de Veneza (Itália), o Salão Arte Pará, em dezenas de edições; o Tempo, no MoMA (Nova Iorque); Vontade Construtiva na Coleção Fadel, no MAM-RJ; entre outras. No Itaú Cultural, foi curador das mostras Investigações: o trabalho do artista (2000), Trajetória da Luz na Arte Brasileira (2001), Caos e Efeito (2011), Modos de Ver o Brasil: 30 anos do Itaú Cultural (2017) e Sandra Cinto: das Ideias na Cabeça aos Olhos no Céu (2020).
Além da exposição, a Ocupação Paulo Herkenhoff conta com um site e uma publicação – disponíveis na data de abertura – que expandem e aprofundam os conteúdos trabalhados na mostra, com textos do próprio homenageado, além de depoimentos de parceiros e pesquisadores sobre o legado de sua atuação para a arte brasileira.
Serviço
Exposição | Ocupação Paulo Herkenhoff
De 30 de agosto a 23 de novembro de 2025
Terça a sábado, das 11h às 20h, domingos e feriados, das 11h às 19h
Período
30 de agosto de 2025 11:00 - 23 de novembro de 2025 20:00(GMT-03:00)
Local
Itaú Cultural
Avenida Paulista, 149, Sâo Paulo - SP
Detalhes
A nova exposição de Iván Argote “Arroz com feijão” na Vermelho presta homenagem à cultura popular sul-americana a partir de uma investigação crítica da tradição dos monumentos. No lugar de
Detalhes
A nova exposição de Iván Argote “Arroz com feijão” na Vermelho presta homenagem à cultura popular sul-americana a partir de uma investigação crítica da tradição dos monumentos. No lugar de erguer memoriais a heróis notáveis, Argote monumentaliza a cultura compartilhada a partir de elementos cuja história foi elaborada pela ressignificação de ideias impostas por culturas dominantes.
A reelaboração das narrativas hegemônicas se inicia do lado de fora da galeria, no pátio, recebendo os visitantes. Em Antípodo: Curupira – uma monumental escultura em concreto pigmentado de 3 metros de altura – Argote celebra o Curupira, figura do folclore brasileiro que é protetor das florestas e dos animais, e que pode ser interpretado como uma reelaboração crítica da noção de “antípoda” elaborada pelos colonizadores europeus.
Desde a Antiguidade, a ideia de que os habitantes do hemisfério sul viveriam “invertidos” em relação ao norte foi mobilizada para sustentar uma visão hierarquizante e racializada do mundo, em que a diferença geográfica era convertida em signo de alteridade inferiorizada. Os pés voltados para trás do Curupira ecoam diretamente essa lógica de inversão, mas deslocam seu sentido: em vez de signo de inferioridade, tornam-se estratégia mítica de proteção da floresta. Ao caminhar pela mata, o Curupira deixa pegadas invertidas, fazendo caçadores e exploradores se perderem. Assim, o que, na leitura colonial, era marca de estranhamento e desumanização, no mito ganha um valor nobre, de astúcia e resistência, apropriando-se e subvertendo um imaginário imposto para criar uma entidade que inverte não apenas os pés, mas também a hierarquia simbólica entre colonizador e colonizado.
A escultura tem como fundo a fachada da galeria, onde Argote realizou uma imponente pintura mural que combina texto e formas vegetais. A imagem é composta por plantas nativas, como o feijão, espécies especulativas – inventadas por ele – e espécies invasoras, como o arroz. Plantas invasoras são espécies não nativas de um determinado local que, ao serem introduzidas, se adaptam tão bem que se espalham de forma agressiva. Elas competem por recursos com as plantas nativas, o que pode causar desequilíbrios no ecossistema.
Em meio a essa vegetação hipotética, Argote escreveu “COM A BOCA”. A frase é fragmentada em duas partes (COM A em cima, e BOCA embaixo), criando uma dupla leitura possível. A primeira (COM A BOCA) refere-se ao alimentar-se; a segunda (COMA BOCA), ao alimentar-se do outro. Na escala da fachada, o texto se torna um lema ou um slogan, em que comer pode ser lido como a possibilidade antropofágica de incorporar e ressignificar o outro.
Da entrada até a sala principal, Arroz com feijão, série que dá nome à exposição, engrandece a dupla de grãos que constitui a base da alimentação do Brasil e de grande parte da América Latina. As esculturas são versões ampliadas de grãos de arroz e de feijão, feitas artesanalmente em faiança, e se distribuem horizontalmente pela sala principal da Vermelho, rompendo com a tradicional verticalidade dos monumentos a figuras masculinas.
A obra se fundamenta na ideia de Ternura Radical, conceito que Argote vem desenvolvendo ao longo de sua carreira, em que propõe a construção de outras narrativas possíveis sobre a história, capazes de gerar relações de convivência com o diferente a partir de uma visão compartilhada do passado.
Nesse sentido, Argote presta homenagem à sabedoria popular que uniu o arroz e o feijão para formar um alimento que não apenas reúne pessoas em torno da mesa, mas que também constitui uma das combinações nutricionais mais ricas. A união dos grãos, contudo, carrega um potente simbolismo cultural.
Essa combinação, hoje tradicional, surgiu do encontro de diferentes matrizes culturais. O feijão, cultivado há milênios pelos povos indígenas, já era alimento essencial do Caribe ao extremo sul da América; o arroz, por sua vez, foi introduzido pelos colonizadores europeus e difundido sob a exploração do trabalho de escravizados de origem africana. A introdução visava abastecer as crescentes demandas alimentares e comerciais da Europa. Gradualmente, o consumo conjunto se espalhou, adaptou-se às particularidades regionais e consolidou-se como referência da dieta latino-americana. Embora o prato reflita desigualdades históricas, ele expressa a criatividade popular diante das adversidades de estruturas persistentes de exclusão que dificultam a ampliação e a democratização do acesso à alimentação.
No segundo andar da exposição, o mesmo tipo de articulação pictórica da fachada pode ser visto na série de pinturas em seda Breathings [Respirações]. Aqui, as frases combinadas à vegetação fazem referência ao existir junto, a fluidos corporais e a canções populares. São frases como “O que flui por dentro”, “Caminhar da tua mão” e “Com a boca de feijão”. Todas estão instaladas sobre uma pintura mural que amplia a folhagem da fachada, construindo um horizonte de ideias de afeto, de dilatação do tempo e do conviver.
Para observar essa paisagem, Argote instalou na sala um conjunto de cadeiras coloridas chamadas Pájaros [Pássaros]. São cadeiras de balanço que celebram modelos que podem ser vistos em várias partes do Brasil e da Colômbia, mas aqui são construídas em duplas ou trios. Cada cadeira é ladeada por outra, virada para lados opostos, como namoradeiras. As cadeiras foram feitas para o compartilhar e para ver o tempo passar – para uma pausa conjunta. Embora estejam voltadas para direções opostas, permitem ver o parceiro de balanço, unindo lados contrários no mesmo ritmo, no mesmo tempo, juntos.
Serviço
Exposição | Arroz com feijão
De 02 de setembro a 10 de outubro
Segunda a sexta, das 10h às 19h, sábado, das 11h às 17h
Período
2 de setembro de 2025 10:00 - 10 de outubro de 2025 19:00(GMT-03:00)
Local
Galeria Vermelho
Rua Minas Gerais, 350, São Paulo - SP
Detalhes
Em Jonathas de Andrade: Permanência Relâmpago, primeira exposição de Jonathas de Andrade (n. 1982, Maceió, Brasil) na galeria Nara Roesler São Paulo, o artista apresenta um novo corpo de trabalho com obras
Detalhes
Em Jonathas de Andrade: Permanência Relâmpago, primeira exposição de Jonathas de Andrade (n. 1982, Maceió, Brasil) na galeria Nara Roesler São Paulo, o artista apresenta um novo corpo de trabalho com obras totalmente inéditas em torno dos jangadeiros e canoeiros de Alagoas – sujeitos que fazem sua vida e trabalho através do mar do litoral e do Rio São Francisco, no sertão – e a relação com cores e abstração presentes nas velas e barcos.
Com curadoria de José Esparza Chong Cuy, diretor-executivo e curador-chefe da Storefront for Art and Architecture, em Nova York, Permanência Relâmpago abrange três conjuntos de obras dentro deste universo a que Jonathas de Andrade vem se dedicando nos últimos meses. Entre eles, estão trabalhos da pesquisa em andamento do artista para um comissionamento feito pelo Victoria and Albert Museum, em Londres, a convite de Catherine Troiano, curadora do departamento de fotografia da instituição. Em novembro de 2025, as obras produzidas por Jonathas de Andrade nesta pesquisa serão exibidas no V&A, quando passarão a integrar a coleção do Museu.
O título da mostra se refere ao nome de uma das jangadas fotografadas pelo artista, e que traduz poéticamente aspectos das vidas dos jangadeiros e canoeiros e que também toca nossas vidas de modo geral. “Esse título fala sobre algo que é muito fugaz e ao mesmo tempo permanente, que é a vida, é sobre esse estar muito rápido e ao mesmo tempo muito permanente. ‘Permanência relâmpago’ é também tocar de alguma forma os sentimentos abstratos da vida”, conta Jonathas de Andrade.
Em Jonathas de Andrade: Permanência Relâmpago, primeira exposição de Jonathas de Andrade (n. 1982, Maceió, Brasil) na galeria Nara Roesler São Paulo, o artista apresenta um novo corpo de trabalho com obras totalmente inéditas em torno dos jangadeiros e canoeiros de Alagoas – sujeitos que fazem sua vida e trabalho através do mar do litoral e do Rio São Francisco, no sertão – e a relação com cores e abstração presentes nas velas e barcos.
Com curadoria de José Esparza Chong Cuy, diretor-executivo e curador-chefe da Storefront for Art and Architecture, em Nova York, Permanência Relâmpago abrange três conjuntos de obras dentro deste universo a que Jonathas de Andrade vem se dedicando nos últimos meses. Entre eles, estão trabalhos da pesquisa em andamento do artista para um comissionamento feito pelo Victoria and Albert Museum, em Londres, a convite de Catherine Troiano, curadora do departamento de fotografia da instituição. Em novembro de 2025, as obras produzidas por Jonathas de Andrade nesta pesquisa serão exibidas no V&A, quando passarão a integrar a coleção do Museu.
O título da mostra se refere ao nome de uma das jangadas fotografadas pelo artista, e que traduz poéticamente aspectos das vidas dos jangadeiros e canoeiros e que também toca nossas vidas de modo geral. “Esse título fala sobre algo que é muito fugaz e ao mesmo tempo permanente, que é a vida, é sobre esse estar muito rápido e ao mesmo tempo muito permanente. ‘Permanência relâmpago’ é também tocar de alguma forma os sentimentos abstratos da vida”, conta Jonathas de Andrade.
Em sua trajetória, Jonathas de Andrade vem questionando os sistemas em transformação que moldam identidade, trabalho e memória. Suas instalações, filmes e obras conceituais atuam como arquivos vivos, reativando histórias orais, saberes marginalizados e tradições artesanais. Nas obras que integram Permanência Relâmpago, o artista se debruça sobre duas culturas de navegação presentes no Nordeste brasileiro: os jangadeiros da praia de Pajuçara, em Maceió, que navegam em jangadas de madeira e velas tradicionais, levando turistas às piscinas naturais, e os canoeiros do Rio São Francisco, no sertão de Alagoas, que usam canoas de velas quadradas duplas de grande escala, notavelmente gráficas para um circuito de competições sobre o rio, de forma recreativa e esportiva. Ambas manifestações representam culturas náuticas seculares transmitidas de pai para filho, praticadas por comunidades de pescadores e barqueiros, revelando um jogo cultural que tensiona intimamente tradição, patrimônio, turismo e economia.
A exposição terá três eixos de trabalhos. Na série Jangadeiros Alagoanos, Jonathas de Andrade usa como suporte as velas originais das jangadas marítimas, usadas na praia de Pajuçara, em Maceió, marcadas pelo sol e pelo uso. A cada estação, elas são substituídas por outras novas. O artista passou então a coletar essas velas coloridas de grande escala descartadas, que apresentam também pinturas feitas à mão, de anúncios de marcas diversas, que funcionam como renda complementar dos jangadeiros na disputada orla da elite alagoana.
Deixando apenas rastros desses anúncios, Jonathas de Andrade aplica sobre eles serigrafias monocromáticas com os retratos dos jangadeiros e roleiros (aqueles que empurram os barcos para dentro e fora do mar), personagens fundamentais deste circuito beira-mar. Com isso, o artista busca tensionar “o lugar tradicional da publicidade que ocupa aquele espaço, substituindo-o pelos rostos dos protagonistas, muitas vezes invisibilizados”. Dessa forma, ele subverte o lugar destinado às mensagens das propagandas, que agora estampam rostos, “deixando as mensagens originais fragmentadas e desconexas”. Nas serigrafias, as imagens dos trabalhadores em retículas, só perceptíveis quando vistas de perto.
As coloridas velas de três metros de altura cada são apresentadas em um sistema de bastidores que, ao enquadrar os retratos gravados sobre as velas, também fragmentam e inviabilizam a legibilidade das propagandas que outrora dominavam aquela superfície. O tecido da vela que resta após o enquadramento do bastidor, por sua vez, se comporta de maneira diferente a cada obra: o excesso de pano é ora recolhido atrás do bastidor, ora ganha um caráter escultórico, assumindo dobras, cordas, e volumes que podem se despejar da parede até o chão. Cada obra leva o nome do fotografado, como por exemplo na obra “Roleiro Maurício e a vela verde”.
Na segunda série que compõe a exposição, Canoeiros Neoconcretos, Jonathas de Andrade parte das velas de padrões gráficos ousados utilizados pelos canoeiros do Rio São Francisco, próximo à Ilha do Ferro, paisagem carregada de histórias de seca, migração e sobrevivência no Sertão. A série inclui os Metaesquemas-canoeiros, inspirados nos Metaesquemas de Hélio Oiticica, e outras composições baseadas no universo cromático e formal do artista carioca Ivan Serpa. As obras misturam campos de cor com a fotografia reticulada, própria da serigrafia, com a imagem do barco e seus barqueiros mergulhada em aspectos da pintura neoconcreta, unindo o design popular à abstração modernista.
Em outra série, Puro torpor do transe do sol,as velas gráficas dos barcos no Rio São Francisco inspiram composições abstratas com pintura automotiva, “dando volume escultórico e objetual aos campos de cor que atravessam o rio, na corrida das canoas e as velas gigantes”, comenta o artista. As obras, em serigrafia sobre folhas de sucupira, são acompanhadas por textos poéticos, escritos pelo próprio artista, e gravados em placas de acrílico.
O terceiro eixo da exposição é a estreia do filme Jangadeiros e Canoeiros (2025, 15′), que terá uma sala especial para sua exibição. No filme, Jonathas de Andrade costura o universo e o cotidiano dos protagonistas dos dois cenários distintos – o mar e o Rio São Francisco – propondo o fio narrativo a partir da relação deles com as cores e as formas, em um diálogo entre as manifestações populares e o universo cromático e afetivo.
O artista empenha seu particular equilíbrio entre aproximação documental e toques ficcionais, decupando o gestual e os movimentos de corpo repetidos ao longo de séculos, na medida em que inventaria as cores presentes nas jangadas e canoas bem como na vida e memórias dos protagonistas, através de trechos de falas captados em conversas com eles. Com foco nos gestos corporais e no trabalho coletivo de levar a jangada ao mar e trazê-la de volta, um ritual secular hoje entrelaçado ao turismo na disputada orla de Maceió, a obra contrasta estas cenas com as imagens idílicas frequentemente usadas para promover a região, evocando o anonimato e a resiliência das vidas moldadas pelo legado colonial brasileiro. Desta forma, o filme circunda uma espécie de paleta cromático-emocional dos jangadeiros, da orla maceioense, das canoas, das velas e dos canoeiros do sertão do Rio São Francisco.
A trilha sonora é de Homero Basílio, profícuo percussionista e produtor musical que colaborou em diversos filmes de Jonathas de Andrade. Vale mencionar ainda que, em 2024, Jonathas de Andrade teve seu processo artístico documentado pela realizadora Maria Augusta Ramos, que dirigiu o minidoc Northern Winds (17′), produzido pela fundação holandesa Ammodo como parte de uma série de filmes de artistas. O minidoc acompanha e registra o início da pesquisa que deu origem ao filme Jangadeiros e Canoeiros, que tem sua estreia na exposição.
Jonathas de Andrade fez este ano duas expoosições individuais na França: Tropical Hangover and Other Stories, no Jeu de Paume, Tours, e L’art de ne pas être vorace, na Commanderie de Peyrassol. Ele é o único artista brasileiro a participar da grande mostra “30th anniversary of Museum of Contemporary Art Tokyo (MOT), em Tóquio, que abre em 22 de agosto. E em Akita, também no Japão, está em cartaz até setembro a exposição “Minebane! Contemporary Art!”, no Akita Museum of Art, com obras do artista. Em novembro, participará da coletiva no Victoria & Albert Museum, em Londres. Em dezembro, Jonathas de Andrade fará uma individual no Vaticano, dentro do Jubileu 2025.
Enraizada no Nordeste, mas em diálogo com questões globais, a prática de Jonathas de Andrade navega pelo cruzamento entre narrativas pessoais e histórias sistêmicas, das estruturas pós-coloniais e economias regionais ao valor mutável do trabalho manual. O artista se envolve com a resistência cultural e com as práticas do fazer, confrontando tradição, resiliência em tensão com a gentrificação e o capitalismo predatório. Nesse contexto, a cultura náutica da beira mar e da beira de rio Nordeste, o universo de barqueiros, canoeiros, roleiros e pescadores, surge como ofício e resistência, sustentada por saberes transmitidos ao longo do tempo.
Serviço
Exposição | Permanência Relâmpago
De 02 de setembro a 26 de outubro
Segunda a sexta, das 10h às 19h, sábado, das 11h às 15h
Período
2 de setembro de 2025 10:00 - 26 de outubro de 2025 19:00(GMT-03:00)
Local
Galeria Nara Roesler - SP
Avenida Europa, 655, São Paulo - SP
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A Nara Roesler São Paulo tem o prazer de apresentar Àkùko, Eiyéle e Ekodidé – Uma revoada de Alberto Pitta, primeira individual do artista baiano na sede paulistana da galeria.
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A Nara Roesler São Paulo tem o prazer de apresentar Àkùko, Eiyéle e Ekodidé – Uma revoada de Alberto Pitta, primeira individual do artista baiano na sede paulistana da galeria. Figura central no carnaval de Salvador, Alberto Pitta foi o autor das estamparias de importantes blocos como o Olodum e os Filhos de Gandhy, tendo criado em 1998 o seu próprio bloco, o Cortejo Afro.
A mostra, com curadoria e texto crítico de Galciani, conta com 24 trabalhos inéditos e outros resultantes de sua produção ao longo dos últimos anos, incluindo pinturas e serigrafias sobre tela e um carrinho de cafezinho, em madeira – uma referência aos coloridos carrinhos usados por ambulantes para vender cafezinho em Salvador, e também ao trabalho mostrado na coletiva “A Quietude da Terra: vida cotidiana, arte contemporânea e projeto axé”, com curadoria de France Morin, no Museu de Arte Moderna da Bahia, em 2000.
Para a exposição na galeria, Galciani destaca os pássaros presentes na produção pictórica do artista. De acordo com a curadora, os pássaros, “na ampla cultura yorubá os pássaros se apresentam como seres divinos”. “São guardiões das comunidades, evocam energia positiva e guiam as pessoas em situações adversas. Esta reunião de obras revigora, assim, o sentido de revoada: voar em bando, como aves da mesma espécie; coreografar no céu uma coletividade; migrar junto; mover-se rumo a um destino certo”.
Ela aponta também que três pássaros em especial têm protagonismo nas obras: Àkùko, Eiyéle e Ekodidé. Em suas palavras: “Eles habitam a primeira série de trabalhos, na qual predominam composições em preto, branco, vermelho e amarelo, como se dessem boas-vindas ao público; em seguida explodem em cores vibrantes e composições multicoloridas, para encantar; e, por fim, acontecem na calmaria de telas brancas – onde distintos matizes de branco compõem o trabalho”.
Àkùko “é frequentemente associado a um galo – o mensageiro do tempo, que anuncia o dia, que explica a ancestralidade e afirma a continuidade da vida. Eiyéle é a pomba branca, que traz a paz, a harmonia e a bem-aventurança. Por sua elegância e plumagem, Eiyéle também simboliza honra e prosperidade. Ekodidé é a única pena vermelha de um pássaro ou o papagaio, um símbolo de proteção, vitalidade, realeza. Sua pena é um elemento natural e uma presença essencial nos rituais de iniciação, para afastar energias negativas e consagrar objetos”, conta Galciani Neves.
Ela complementa: “Apresentar esses seres no campo da arte é acreditar que sua revoada pode ser um sopro de transformação para reanimar os ares, reorganizar os pensamentos, renovar as esperanças, refazer as conexões. O gesto artístico e insurgente de Pitta – como nos diz a poeta, pesquisadora e dramaturga brasileira Leda Maria Martins – é um dos que mais transformam, pois afetam as imagens estéticas inscritas como únicas e verdadeiras. Por isso, trata-se de um gesto que, por refazer as narrativas e apresentar novos caminhos para enxergar o mundo, nos mobiliza a viver com esperança (“o fermento da revolução”, o que faz emergir o novo, segundo o filósofo e professor sul-coreano Byung-Chul Han) e nos encoraja a reivindicar ambientes onde possamos celebrar, nos alegrar e regozijar”.
No dia da abertura da exposição ocorrerá também o lançamento do livro Alberto Pitta, editado pela Nara Roesler Books, dedicado a obra do artista. Com 152 páginas, a edição bilíngue (português/inglês) inclui o texto de Galciani Neves para a exposição, além de uma entrevista dada pelo artista a Jareh Das, curadora que vive entre a África Ocidental e o Reino Unido e introdução é de Vik Muniz, amigo do artista desde que ambos participaram da já mencionada exposição “A Quietude da Terra: vida cotidiana, arte contemporânea e projeto axé”, com curadoria de France Morin, no Museu de Arte Moderna da Bahia, em 2000.
Serviço
Exposição | Àkùko, Eiyéle e Ekodidé – Uma revoada de Alberto Pitta
De 02 de setembro a 26 de outubro
Segunda a sexta, das 10h às 19h, sábado, das 11h às 15h
Período
2 de setembro de 2025 10:00 - 20 de dezembro de 2025 19:00(GMT-03:00)
Local
Galeria Nara Roesler - SP
Avenida Europa, 655, São Paulo - SP
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O Ministério da Cultura, por meio da Lei Federal de Incentivo à Cultura (Lei Rouanet), e o Instituto Tomie Ohtake apresentam a exposição A terra, o fogo, a água e os ventos – Por
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O Ministério da Cultura, por meio da Lei Federal de Incentivo à Cultura (Lei Rouanet), e o Instituto Tomie Ohtake apresentam a exposição A terra, o fogo, a água e os ventos – Por um Museu da Errância com Édouard Glissant. Concebida como um museu em movimento e dedicada à obra e ao pensamento do poeta, filósofo e ensaísta martinicano Édouard Glissant (1928–2011), a exposição integra a Temporada França-Brasil 2025 como um de seus principais destaques.
Com seu título inspirado na antologia poética La Terre, le feu, l’eau et les vents (2010), organizada pelo escritor martinicano, a mostra ensaia o que seria um “Museu da Errância”. Errância é uma vivência da Relação: recusa filiações únicas e propõe o museu como arquipélago – espaço de rupturas, apagamentos e reinvenções sem síntese forçada. Contra genealogias rígidas, propõe-se uma memória em trânsito, feita de alianças provisórias, traduções e tremores – um processo institucional movido pelo encontro entre tempos, territórios e linguagens. Ainda que Glissant tenha deixado fragmentos de sua visão para um museu do século 21, não chegou a concretizá-lo.
A exposição imagina como poderia ser esse Museu da Errância em múltiplas camadas e conexões inesperadas entre obras, documentos e paisagens. As duas ideias-chave da organização da montagem da exposição são a palavra da paisagem e a paisagem da palavra, concebidas a partir da concepção de Glissant de “parole du paysage”. Para o poeta, a paisagem não é apenas cenário externo, mas força ativa que molda memórias, gestos e linguagens.
Além disso, estão presentes em frases, manuscritos e entrevistas do autor outras ideias como Todo-mundo, crioulização, arquipélago, tremor, opacidade, palavra da paisagem e aqui-lá. Trata-se de um arco de assuntos interligados com profunda relevância no mundo contemporâneo, que mais uma vez se vê permeado por discursos e medidas de intolerância perante o diverso e incapaz de criar canais de escuta dos elementos naturais e das paisagens ameaçados de destruição.
É nesse horizonte que se apresenta, pela primeira vez no Brasil, parte da coleção pessoal reunida por Glissant e atualmente preservada no Mémorial ACTe, em Guadalupe. O conjunto inclui pinturas, esculturas e gravuras de artistas com quem o pensador conviveu e sobre os quais escreveu, como Wifredo Lam, Roberto Matta, Agustín Cárdenas, Antonio Seguí, Enrique Zañartu, José Gamarra, Victor Brauner e Victor Anicet, entre outros. São artistas de crescente reconhecimento internacional, que viveram trajetórias de diáspora e imigração, e produziram em trânsito entre línguas, linguagens, paisagens e histórias múltiplas.
À coleção de obras somam-se documentos, cadernos, vídeos e fragmentos de textos e entrevistas de Glissant, igualmente inéditos. A mostra apresenta também trechos da extensa entrevista concedida em 2008 a Patrick Chamoiseau, escritor martinicano e parceiro intelectual de Glissant, da qual resultou o monumental Abécédaire.
Este extenso e rico acervo é apresentado em diálogo com trabalhos de mais de 30 artistas contemporâneos das Américas, Caribe, África, Europa e Ásia, que convocam o público a experimentar, de forma sensorial, o entrelaçamento entre paisagem, linguagem e memória.
A exposição é parte da pesquisa de longo prazo do Instituto Tomie Ohtake em torno da produção de memória, a exposição dá sequência a iniciativas recentes como a mostra Ensaios para o Museu das Origens (2023) e o seminário Ensaios para o Museu das Origens – Políticas da memória (2024), que reuniu representantes de museus, arquivos e comunidades em um intenso debate sobre preservação e cidadania.
Serviço
Exposição | A terra, o fogo, a água e os ventos – Por um Museu da Errância com Édouard Glissant
De 03 de setembro a 25 de janeiro
Terça a domingo, das 11h às 19h – última entrada às 18h
Período
3 de setembro de 2025 11:00 - 25 de janeiro de 2026 19:00(GMT-03:00)
Local
Instituto Tomie Ohtake
Av. Brigadeiro Faria Lima, 201, Pinheiros, São Paulo – SP
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Ailton Krenak consolidou-se, ao longo dos anos, como um dos principais porta-vozes da causa indígena no Brasil e no exterior. Sua trajetória impulsionou um movimento coletivo para repensar
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Ailton Krenak consolidou-se, ao longo dos anos, como um dos principais porta-vozes da causa indígena no Brasil e no exterior. Sua trajetória impulsionou um movimento coletivo para repensar o mundo, trazendo para o centro do debate temas como humanidade, natureza, espiritualidade e futuro.
Um marco histórico aconteceu em 1987, quando ele pintou o rosto com jenipapo durante um discurso na Assembleia Constituinte, gesto que se tornou símbolo de resistência, um aviso de que os povos indígenas existem, resistem e têm muito a dizer.
A Ocupação Ailton Krenak, realizada pelo Itaú Cultural (IC), celebra esse percurso. Nascido em 1953, no Vale do Rio Doce (MG), ele é autor de obras fundamentais que se tornaram referência em tempos de crise, como Ideias para adiar o fim do mundo, A vida não é útil e Futuro ancestral. Além da produção literária, Ailton foi responsável por importantes iniciativas, como a criação do Programa de Índio, do Jornal Indígena e do Núcleo de Cultura Indígena (NCI), que ampliaram e fortaleceram a voz dos povos originários.
A mostra ocupa o piso térreo do IC e apresenta depoimentos, manuscritos e registros de uma vida dedicada a pensar caminhos fora da lógica do consumo e da destruição. O projeto inclui, ainda, uma publicação impressa (disponível on-line) e um site com conteúdos exclusivos (itaucultural.org.br/ocupacao).
Além da dimensão de homenagem, esta Ocupação – palavra que na língua Krenak se traduz como Men am-ním – é um convite a desacelerar, conceber outros horizontes e descolonizar o olhar.
Serviço
Exposição | Ocupação Ailton Krenak
De 04 de setembro a 23 de novembro
Terça a sábado, das 11h às 20h, domingos e feriados, das 11h às 19h
Período
4 de setembro de 2025 11:00 - 23 de novembro de 2025 20:00(GMT-03:00)
Local
Itaú Cultural
Avenida Paulista, 149, Sâo Paulo - SP
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A PARADA 7, evento anual de arte, cultura e política, chega à sua quarta edição com o tema “Imagine um novo mundo – bandeiras da utopia”. Neste domingo, dia 7
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A PARADA 7, evento anual de arte, cultura e política, chega à sua quarta edição com o tema “Imagine um novo mundo – bandeiras da utopia”. Neste domingo, dia 7 de setembro, bandeiras com obras de 100 artistas sairão em cortejo do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (MAM Rio) em direção ao Centro Municipal de Artes Hélio Oiticica (CMAHO), onde ficarão em exposição até o dia 15 de novembro de 2025. Pela primeira vez, além dos artistas brasileiros, o evento também contará com a participação de artistas estrangeiros, pertencentes a países integrantes do BRICS, selecionados pela BRICS Arts Association.
A edição deste ano abrirá a 1ª Semana de Arte e Cultura do Rio, iniciativa da ArtRio em parceria com a Secretaria Municipal de Cultura, e terá a participação de renomados artistas, como Cildo Meireles, Denilson Baniwa, Ernesto Neto, Jarbas Lopes, Lenora de Barros, Mana Bernardes, Marcos Chaves, Matheus Ribbs, Opavivará, Regina Silveira, Sepideh Mehraban, entre outros. Artistas indígenas de cinco diferentes etnias também participarão do evento.
“A PARADA 7 é um meio de participação efetiva do universo da arte e da cultura na discussão dos problemas do Brasil e do mundo, além de levar às ruas as manifestações da arte contemporânea. Um posicionamento efetivo dos artistas que trazem a visão da arte sobre as questões cruciais do nosso tempo”, afirmam César Oiticica Filho e Evandro Salles, idealizadores e organizadores do evento.
Realizada desde 2022 no Rio de Janeiro, a PARADA 7 reúne, em seu cortejo, músicos, atores, poetas, dançarinos e artistas visuais que percorrem, juntos, algumas das principais ruas do centro da cidade, em diálogo direto com a rua e as pessoas que ali transitam e que são convidadas a se juntarem ao evento. Por meio de pinturas, danças, performances, poemas e cantos, eles trazem, através de arte, discussões sobre temas relevantes para a sociedade.
Para o evento deste ano, serão produzidas 100 bandeiras, cada uma com a obra de um artista, com imagens do que imaginam ser um novo mundo. Através das bandeiras, serão apresentadas visões e reflexões sobre as principais questões contemporâneas, pensando temas como: Qual a nossa utopia de mundo? Que mundo queremos construir? Como queremos que o nosso mundo seja? Como gostaríamos que a nossa civilização fosse? E o que queremos fazer de nosso planeta, a mãe Terra que nos acolhe, cria e alimenta?
Dentre os participantes da PARADA 7 deste ano, haverá 40 brasileiros convidados, 20 estrangeiros selecionados pela BRICS Arts Association, que lançará o primeiro número de sua revista durante o evento, e outros 40 artistas selecionados através de chamada pública pelo comitê curatorial do evento − formado por Giselle Lucía Navarro (Cuba), Yang Shu (China), Pooja Sod (Índia), Barbara Santos (Colômbia), Mai Abu Eldahab (Egito), Raquel Schuartz de Vargas (Bolívia), Shabbir Hussain Mustafa (Singapura) e pelos brasileiros Cesar Oiticica Filho, Helmut Batista, Evandro Salles e Sergio Cohn.
A PARADA 7 2025 é organizada e produzida pelas seguintes instituições: BRICS Arts Association, Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro – MAM Rio, Centro Municipal de Artes Hélio Oiticica, Capacete, Companhia de Mysterios e Novidades, Fina Batucada, Florestas Cidade – UFRJ, Guerrilha da Paz, Instituto de Artes da Universidade Federal Fluminense – UFF, Oasis, Programa de Pós-Graduação em Estudos Contemporâneos das Artes (PPGCA-UFF) e Secretaria Municipal de Cultura do Rio de Janeiro.
Serviço
Exposição | A PARADA 7
De 07 de setembro a 15 de novembro
De segunda a sábado, das 10h às 18h
Período
7 de setembro de 2025 10:00 - 15 de novembro de 2025 18:00(GMT-03:00)
Local
Centro Municipal de Arte Hélio Oiticica
Rua Luís de Camões 68, Praça Tiradentes, Centro, Rio de Janeiro - RJ