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Programado para o feriado de 7 de setembro na Fábrica de Arte Marcos Amaro (FAMA), em Itu, o seminário internacional A Arte como construção de mundos reúne quatro profissionais que apresentarão ao público a riqueza e a diversidade de artistas portadores de sofrimento psíquico no Brasil e no mundo – ligados ao movimento inicialmente cunhado pelo pintor francês Jean Dubufett como Art Brut, também conhecido como Arte Outsider. As convidadas debatem sobre a beleza e a força nos trabalhos de artistas asilares. O encontro é realizado pela FAMA-Fábrica de Arte Marcos Amaro, tem o apoio da Galeria Estação e organização de ARTE!Brasileiros.

A abertura do seminário terá falas de Marcos Amaro e Raquel Fayad, respectivamente presidente e diretora da FAMA. Amaro, que é empresário, colecionador e artista, vem investindo sistematicamente na preservação e recuperação de espaços à serviço da arte contemporânea e da cultura. Sua fundação participa da recuperação do acervo do artista Bispo do Rosário e da cela onde viveu, que será aberta ao público para visitação no Rio de Janeiro.

Elisabeth Telsnig, curadora e doutora em História da Arte, é uma das participantes que discorrem sobre o assunto. Representante do trabalho do artista austríaco Josef Hofer, ela comentará sua produção em uma organização social para pessoas com deficiências físicas e intelectuais em Ried, cidade da Áustria onde conheceu Hofer em 1997. Além disso, ela discutirá a obra do artista e pretende falar sobre a convergência entre seus trabalhos e os do artista Egon Schiele. “Hoje, Hofer é considerado um ‘clássico’ da Art Brut e suas obras estão representadas em todo o mundo em importantes coleções e museus”, ela pontua.

Pós-doutoranda no Departamento de Filosofia da Universidade de São Paulo, Solange de Oliveira tem graduação em Artes Visuais e em Filosofia e é doutora em Psicologia Social. Com a ausência de Savine Faupin (responsável por Art Brut no Museu de Arte Moderna, Contemporânea e Art Brut de Lille) no seminário, Solange se junta à mesa de conversa para falar sobre Art Brut, Dubuffet e da Collection de l’Art Brut de Lausanne. Ela é responsável por cursos de extensão como Paradoxos do campo Outsider Art, de Jean Dubuffet à Roger Cardinal na USP e estuda a artista outsider estadunidense Judith Scott.

Autora do livro O avesso do imaginário: arte contemporânea e psicanálise (Cosac Naify, 2013) e curadora da exposição Lugares do Delírio (Museu de Arte do Rio e Sesc Pompeia), a psicanalista Tania Rivera pretende apresentar a pesquisa em torno de seu artigo sobre Arthur Bispo do Rosário publicado no recente número 37 da revista Arte & Ensaios, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Doutora em Psicologia e professora da Universidade Federal Fluminense (UFF), Tania procura, nessa pesquisa, “suspender o véu de romantização da figura de Arthur Bispo do Rosário como gênio louco e marginal”. Essa tendência, de acordo com ela, acaba por “naturalizar sua condição como patologia e ocultar sua condição de imigrante, pobre e negro”.

Também sobre o artista, a médica e diretora do Museu Bispo do Rosário Arte Contemporânea, Raquel Fernandes, relatará o trabalho da instituição “com sua coleção e como suas ações se desdobram para além das galerias, em uma relação com seu território, que visam estabelecer novas possibilidades de convívio mediadas pela arte e cultura”. Fernandes deve discorrer sobre os trabalhos do museu, que fica dentro do Instituto Municipal de Assistência à Saúde Juliano Moreira, no Rio de Janeiro, e oferece a pacientes e moradores do entorno uma escola de artes.

O seminário foi concebido como parte da reflexão necessária em torno de Bispo do Rosário, diagnosticado com esquizofrenia-paranoide. Ele já teve suas obras expostas em inúmeras mostras nacionais e internacionais, incluindo a Bienal de São Paulo, e, agora, inaugura uma importante retrospectiva em Itu, na FAMA. Bispo do Rosário: as coisas do mundo tem curadoria de Ricardo Resende, que será mediador do seminário. “A seleção de trabalhos de Bispo observou o gesto de serializar, organizar e multiplicar como prática artística, tal como se via na indústria têxtil, quando os operários é que ‘produziam’ as coisas que seriam usadas no cotidiano”, escreve Resende no texto curatorial. Se desdobram no espaço da FAMA mostras simultâneas de Pola Fernandez (vencedora do Edital de Ocupação da instituição), com obras produzidas durante residência no Museu Bispo do Rosário, e uma coletiva de artistas com obras que conversam com a produção de Bispo: Carmela Gross, Louise Bourgeois, Nazareth Pacheco e Sonia Gomes.

Como parte da programação do seminário e para melhor apreciação da densidade e singularidade destes artistas, dia 9 de setembro a Galeria Estação abre, em São Paulo, exposições do brasileiro Fernando Diniz e do austríaco Josef Hofer. Falecido em março de 1999, Diniz era, para Mário Pedrosa, um artista dotado de uma força decorativa que nunca desarmava. O artista frequentou a Seção de Terapêutica Ocupacional (STO) do Centro Psiquiátrico Pedro II. O STO foi fundado por Nise da Silveira para estimular as habilidades de expressão dos pacientes. A mostra, com curadoria de Luiz Carlos Mello e Eurípedes Junior, faz um recorte entre as cerca de 30 mil peças produzidas pelo artista. A exposição de Diniz é uma parceria institucional com o Museu de Imagens do Inconsciente (MII).


Pela primeira vez no Brasil, Josef Hofer terá individual na Galeria Estação, com curadoria de Elisabeth Telsnig. O artista, surdo e mudo, nascido na Áustria, teve sua obra e sua história conhecidas por Vilma Eid, diretora galeria, em viagens aos Estados Unidos e à Europa. Em 2018, ela foi conhecer o trabalho de Telsnig frente à representação do trabalho de Hofer e, neste momento, decidiu mostrar a obra do artista para o público brasileiro. Para ela, é importante fomentar o interesse em Art Brut no Brasil. “Na Europa há interesse e também mercado, existe inclusive uma feira”, ela comenta.


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