Max Perlingeiro
Max Perlingeiro foi considerado a personalidade atuante no meio artístico pela ABCA em 2019

No sistema brasileiro de arte sempre houve áreas de escape, desde a primeira edição da Bienal de São Paulo em 1951, quando o deserto cultural brasileiro foi surpreendido por uma avalanche internacional de diretores de museus, críticos, galerias, artistas e obras inimagináveis. Nas décadas seguintes, o aprendizado estimulou o surgimento de jovens empreendedores dispostos a enfrentar o incipiente sistema brasileiro de arte, entre eles Max Perlingeiro. O terreno era demarcado por história própria, influência europeia, crítica reduzida e raríssimas galerias profissionais. Com o tempo o cenário se alargou, e hoje Perlingeiro atua como empresário, editor, curador, organizador de cursos de arte e administrador de coleções. Sua história prova que lidar com arte é também um processo de territorialização. Em janeiro de 1979, cria a Pinakotheke Cultural no Rio de Janeiro, mais de duas décadas depois, em 2002, inaugura a filial em São Paulo. Antes disso, em 1987, abre as portas da Multiarte, em Fortaleza, uma espécie de ponte entre a Pinakotheke e o Nordeste.

Ao desempenhar múltiplas funções com objetivo de formação, pesquisa, questionamento, Perlingeiro gera conhecimento aplicado em várias plataformas de difusão da arte brasileira. O resultado dessa performance lhe valeu este ano o prêmio Ciccilo Matarazzo, da Associação Brasileira dos Críticos de Arte (ABCA). Hierarquicamente, parece não haver uma tarefa que suplante outra no cotidiano do empresário, demarcado pela coexistência entre todas as atividades com as quais está envolvido. Pesquisar é, para ele, peça fundamental, o que o torna crítico da superficialidade de alguns trabalhos curatoriais. Aprofundar o conhecimento é tornar o campo da arte em um espaço complexo e dinâmico, mas nem sempre é assim. “Quando surge uma exposição há curadores que aplicam o processo do copy/paste, em trabalhos já editados. Não se preocupam com um texto sério, profundo e de conteúdo”. Adotando o mesmo procedimento para sua atuação como editor de livros de arte, ele é enfático: “Não faço álbum de figurinhas, livros têm que ter conteúdo”. Em sua atuação no mercado livreiro tenta a mudança desse cenário com um conjunto de estratos de informação. “A consulta em nosso banco de dados conta com 1516 itens e a pesquisa é intensa”. Em Fortaleza, a Multiarte mantém 120 alunos divididos em 10, 12 por turma. “Com esse trabalho criamos conteúdos para publicação e formamos pessoas. Hoje a instituição recebe cerca de 200 visitantes por semana”.

Bruno Giorgi, Retrato de Leontina Giorgi
Bruno Giorgi, Retrato de Leontina Giorgi, década de 1970 – Foto Jaime Acioli

A historiografia da arte brasileira se compõe, em grande parte, de textos curtos publicados em jornais e revistas, além de catálogos, que nem sempre apresentam ensaios de fôlego. O buraco ainda persiste. Perlingeiro se especializou em edição de livros exclusivamente voltados para a história da arte brasileira, dos séculos 19 e 20, com extensa investigação. Entre as publicações vale destacar: Antônio Bandeira 1922-1967; Coleção Airton Queiroz Fortaleza/Ceará; Frans Post; Coleção Edson Queiroz – catálogo, entre outras. O reconhecimento editorial veio com o Prêmio Jabuti, atribuído pela Câmara do Livro em três anos diferentes, além de outras láureas na área de artes.

Hoje o sistema de arte participa diretamente das leis do sistema midiático e econômico. Para dar conta de sua agenda, Perlingeiro criou uma plataforma que divide com seus filhos Amanda, Max e Victor. “Um terço do meu tempo é empregado na administração de 18 coleções particulares e institucionais importantes, locadas em Fortaleza, Alagoas, Rio de Janeiro e São Paulo. Meus filhos se ocupam das exposições, dos livros e de outras questões mais particulares”.

Com trabalho prospectivo em setembro próximo Perlingeiro, galerista de longa data, vai revelar em exposição o que motivou Antonio Dias a seguir e colecionar a produção de Leonilson, cuja representação preferida é o universo dele mesmo. Perlingeiro é o co-curador da mostras: “O principal é Antonio Dias”, diz ele com o humor de quem lida com artistas desde a década de 60. Esta mostra é o desdobramento do projeto iniciado com Bruno Giorgi e Alfredo Volpi agora em cartaz na Pinakotheke do Rio, que envolve amigos artistas e suas afinidades vivenciais e artísticas. Vamos aguardar.


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