O silêncio alinhava. A calma faz sua escuta entre as frestas do asfalto e aplaina os veios com o líquido viscoso que deixa a marca de um grafismo denso, mas delicado. Maria Laet e seu trabalho têm a rara identidade entre autor e obra. Ambos atuam em silêncio e com um tempo dilatado. Ela está entre os artistas convidados da 33ª Bienal de São Paulo com um vídeo ainda não revelado, mas que pode tangenciar a reflexão do presente e sua fugaz duração, tomando o silêncio como objeto de reflexão.
Seu trabalho é pendular no sistema de arte, intimista, pensado, sem pressa. De qualquer ângulo que se olhe, ele transmite leveza e se revela como um invento do olhar recuperando apagamentos da cidade. A ideia de que o presente se compõe da justaposição de realidades distintas e camadas desconexas surge em Leito (2013), em que a superfície da calçada ou da rua é camuflada e transforma-se em um “mapa” ao receber o leite em suas rachaduras, constituindo-se em um canal fluído. Na contramaré da espetacularização, Maria trabalha na quietude e as transformações formais aparecem naturalmente e adquirem uma qualidade existencial acumulativa, por meio de um ciclo sutil.
O corpo é uma fonte de mensagem em si mesmo e destaca um de seus trabalhos singulares. A apropriação do poema concreto Galáxias, de Haroldo de Campos, escrito sem pontuação, abre várias possibilidades de leitura dos versos que ela transforma em fragmentos. Acompanhando o CD encartado, Haroldo lê 16 páginas de sua obra que deveria, segundo ele, ser lida em voz alta, como um livro-canção. Essas páginas compõem o trabalho da artista, e os furos correspondem aos silêncios que pontuam as breves pausas que Haroldo realiza durante a leitura. São espaços de respiração, tornam visível o invisível, como o limite que não é limite, como limite aonde se dá o encontro. Os furinhos são aonde o próprio papel respira, por onde passa luz e ar.
O que mais atrai no trabalho de Maria é essa leveza do tempo que perpassa tanto pela natureza, mas também pelo homem, de maneira tão fluída como uma névoa, como se a memória se diluísse nos pensamentos. As costuras, as rachaduras que sugam areias, líquidos que parecem veias preenchidas com algum apagamento indevido. Quando vi sua obra, no documentário de um canal de arte, pude perceber melhor o efeito do tempo em seu fazer. “Fico bastante tempo sozinha. E mesmo quando não estou, existe um silêncio íntimo, um estado de solidão que se mantém”, conta a artista. Ao contrário de algumas afirmações, não sinto acasos em seus desenhos, tudo parece como rios que escorregam calados, reforçando sulcos. O presente em sua obra se compõe pela sobreposição de realidades atemporais, no entanto tudo parece harmônico em torno de um tempo de condições efêmeras ou temporárias. Qual seria a chave do conceito? “Me interesso por elementos, estruturas que não sejam fechadas ao outro, que se deixem marcar, transformar e permear, falando ao mesmo tempo de limite e de continuidade”.
Em um voo sobre sua obra percebe-se a analogia entre a imagem, sujeito e olhar. Mas existiria uma busca fenomenológica da presença contínua? “Minha linguagem é visual e meu processo é movido pela percepção, intuição e sentimento. Não tenho questões de ordem filosófica como meu ponto de partida, como algo que me oriente. Mas é claro que o trabalho pode ser interpretado de um ponto de vista filosófico, e isso é bem-vindo”.
Em vídeo ou em instalação, ela tematiza o tempo e parece captar fragmentos do mundo irritadiço contemporâneo que, para o cidadão comum, apressado, parece o tempo não produtivo, desperdiçado, excedente, uma temporalidade suspensa. Mas, em seu universo é tudo ao contrário, porque justamente essa cadência lenta que dá ritmo à pulsação contínua e repousante de sua arte.
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O Sesc Vila Mariana recebe a exposição inédita Jardim do MAM no Sesc, uma correalização do Museu de Arte Moderna de São Paulo e do Sesc São
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O Sesc Vila Mariana recebe a exposição inédita Jardim do MAM no Sesc, uma correalização do Museu de Arte Moderna de São Paulo e do Sesc São Paulo. A mostra tem curadoria de Cauê Alves e Gabriela Gotoda e reencena na entrada do Sesc Vila Mariana elementos do Jardim de Esculturas do MAM. Nela, o público poderá apreciar obras da coleção do MAM, entre esculturas icônicas de Alfredo Ceschiatti, Amilcar de Castro e Emanoel Araújo, e trabalhos que exploram críticas sociais, como as obras de Regina Silveira, Luiz 83 e Marepe.
Para a presidente do MAM, Elizabeth Machado, a parceria com o Sesc reforça o compromisso do museu em ampliar o acesso à arte: “O acervo do MAM é um patrimônio vivo, e essa exposição no Sesc Vila Mariana permite que um público ainda mais amplo entre em contato com obras fundamentais da nossa história, promovendo o encontro e a reflexão sobre a arte brasileira. O Sesc é um parceiro longevo do MAM, e essa colaboração reafirma nossa missão conjunta de ampliar o acesso à cultura.”
Os artistas participantes da mostra são Alfredo Ceschiatti, Amílcar de Castro, Bruno Giorgi, Eliane Prolik, Emanoel Araujo, Felicia Leirner, Haroldo Barroso, Hisao Ohara, Ivens Machado, Luiz83, Marepe, Mari Yoshimoto, Márcia Pastore, Mário Agostinelli, Nicolas Vlavianos, Regina Silveira, Roberto Moriconi, Rubens Mano e Ottone Zorlino.
A seleção de obras inclui peças que já integraram o Jardim do MAM, além de trabalhos do acervo do museu que dialogam com temas como natureza, cidade e materialidade. A montagem no Sesc Vila Mariana recria a dinâmica do Jardim de Esculturas, utilizando elementos cenográficos que evocam a topografia sinuosa do Parque Ibirapuera projetada pelo escritório do emblemático arquiteto paisagista Burle Marx, estimulando novas interações entre corpo, espaço e arte.
Inaugurado em 1993, o Jardim de Esculturas do MAM marca uma iniciativa que reavivou a coleção do museu em um espaço próprio, gratuito e de grande circulação de pessoas. “Ao propor uma espécie de reencenação do Jardim do MAM na Praça Externa do Sesc Vila Mariana buscamos elaborar a ideia de que, assim como o espaço do jardim no Parque Ibirapuera, o espaço do Sesc funciona como um centro de encontros urbanos”, diz Cauê Alves. “A exposição inclui obras da coleção do MAM que se relacionam, por diferentes vias, com a natureza, o corpo, a cidade, a materialidade, e com linguagens que expressam algumas das tensões inescapáveis à sociedade.”, completa o curador.
A proposta da exposição do Jardim do MAM no Sesc Vila Mariana é estimular essa relação entre corpos, obras e espaço, transformando a Praça Externa da unidade em um território de circulação, experimentação e descoberta. Sem a pretensão de emular o paisagismo do parque, a cenografia do projeto recria as curvas e volumes que marcam o jardim original, propondo um ritmo espacial entre as esculturas. Para Gabriela Gotoda, curadora da exposição ao lado de Cauê Alves: “Se o princípio mais original e autêntico da arte moderna é de que ela se aproxima da vida, um museu que se dedica a colecioná-la e atualizá-la no seu tempo presente deve continuamente se esforçar para oferecer aos públicos possibilidades de fruição que não os distanciam das suas realidades, e sim vão de encontro a elas.”
MAM Educativo
Durante o período da exposição, o público poderá participar gratuitamente de atividades educativas promovidas pelo MAM Educativo, que desenvolve programas e projetos em diálogo com seus públicos, por meio de uma programação acessível e gratuita que busca equiparar oportunidades e reduzir barreiras físicas, sensoriais, intelectuais, sociais ou de saúde mental.
Inspiradas nas experiências realizadas no Jardim de Esculturas do museu no Parque Ibirapuera, parte das ações de maio do MAM Educativo serão adaptadas ao espaço do Sesc Vila Mariana, propondo diferentes formas de interação entre corpos, obras e o ambiente expositivo. Voltadas a públicos de todas as idades e perfis, as atividades buscarão estimular novas formas de olhar, habitar e refletir sobre o espaço urbano por meio da arte.
As atividades serão divididas em programas. “Contatos com a arte” promove a formação cultural de professores, educadores, pesquisadores e estudantes universitários, fomentando seu papel de multiplicadores das diferentes expressões artísticas e abordagens pedagógicas a partir de processos criativos diversos. Já “Família MAM” promove o encontro do universo artístico do museu com as culturas da infância, através de narrações de histórias, brincadeiras, oficinas artísticas, visitas mediadas seguidas de experiências poéticas, entre outras atividades. Em “Domingo MAM” estão atividades que convidam o público a experimentar diversas linguagens artísticas a partir de eixos temáticos que englobam dança, música, cultura popular, cultura de rua, debates e oficinas plásticas.
Tem ainda o “Programa de Visitação”, que atende a todos os perfis de público e incentiva o acesso à arte e à cultura por meio do exercício do pensamento crítico. Fazem parte do programa visitas mediadas, experiências poéticas e o programa de relacionamento com escolas parceiras. Visitas mediadas com o MAM Educativo são conversas nas quais é estimulada a reflexão crítica por meio da arte e experiências poéticas, que aproximam o público do museu de vivências e processos artísticos. Agendamentos de grupos para visitas na exposição Jardim do MAM no Sesc são realizados pelo e-mail educativo@mam.org.br.
A programação traz ainda atividades que fazem parte da Semana Nacional de Museus – iniciativa do Instituto Brasileiro de Museus (Ibram) em comemoração ao Dia Internacional dos Museus (18 de maio) e que, em 2025, acontece de 12 a 18 de maio sob o tema “O Futuro dos Museus em Comunidades em Rápida Transformação” – e da Semana Mundial do Brincar – ação promovida pela Aliança pela Infância que convida a sociedade a valorizar o brincar e a importância da infância e que, em 2025, terá como tema “Proteger o Encantamento das Infâncias” e ocorrerá de 24 de maio a 1 de junho.
Serviço
Exposição | Jardim do MAM no Sesc
De 14 de maio a 31 de agosto
Terça a sexta, das 7h às 21h30, aos sábados, das 10h às 20h30, e aos domingos e feriados, das 10h às 18h
Período
14 de maio de 2025 07:00 - 31 de agosto de 2025 21:30(GMT-03:00)
Local
Sesc Vila Mariana
Rua Pelotas, 141 - Vila Mariana – São Paulo - SP
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A Gentil Carioca tem o prazer de anunciar Desde sempre o mar, exposição individual da artista Mariana Rocha no prédio 17 d’A Gentil Carioca Rio de Janeiro. Inspirada pela vastidão marítima
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A Gentil Carioca tem o prazer de anunciar Desde sempre o mar, exposição individual da artista Mariana Rocha no prédio 17 d’A Gentil Carioca Rio de Janeiro. Inspirada pela vastidão marítima e pelos mistérios da vida microscópica, Rocha mergulha em um universo onde as fronteiras entre ciência, mito e arte se dissolvem. A mostra reúne pinturas inéditas que transitam entre figuração e abstração, evocando formas orgânicas como raízes, cílios, braços e membranas — elementos que se desdobram como símbolos da origem e da continuidade da vida.
Nas palavras do historiador da arte e curador Renato Menezes, que assina o texto de apresentação da mostra, “Mariana Rocha trapaceia a escala e, assim, a própria pintura parece se tornar, para a artista, um meio de reequacionar os mínimos essenciais da vida. Partícula e todo, célula e organismo, gota e oceano renegociam suas ordens de grandeza bem diante de nossos olhos. Não é por acaso que sua pesquisa se volta para o mar: foi lá, nessa vastidão imensa e profunda, que as mais simples formas de vida começaram a aparecer. Mas, como sempre, o mínimo é também o máximo: barroca, dramática, misteriosa e vibrante, sua pintura metaboliza o mundo, para ver, de sua parte mais íntima, obscura, o que de mais superficial ele pode revelar.”
Serviço
Exposição | Desde sempre o mar
De 24 de maio a 09 de agosto
Segunda a sexta, das 12h às 18h
Sábado, das 12h às 16h (com agendamento prévio)
Período
24 de maio de 2025 12:00 - 9 de agosto de 2025 18:00(GMT-03:00)
Local
A Gentil Carioca
Rua Gonçalves Lédo, 17 - Centro, Rio de Janeiro - RJ, 20060-020
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A Nara Roesler São Paulo tem o prazer de convidar para a abertura da exposição “Sangue Azul”, com novos e inéditos trabalhos de Marcos Chaves. As obras são resultado
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A Nara Roesler São Paulo tem o prazer de convidar para a abertura da exposição “Sangue Azul”, com novos e inéditos trabalhos de Marcos Chaves. As obras são resultado de uma pesquisa iniciada em 2013, em que o artista imprimiu em tapetes fotografias que fez de tecidos variados da Coleção Eva Klabin, dentro do 17º Projeto Respiração, na Fundação Eva Klabin, no Rio de Janeiro. Na grande sala de pé direito duplo, no lado esquerdo da galeria Nara Roesler, Marcos Chaves vai criar um ambiente imersivo com baixa iluminação, e foco nos tapetes pendurados nas paredes, todos produzidos em 2025. As dimensões das obras variam de 200 x 266 cm a 150 x 112,5 cm. Cobrindo todo o chão estará um carpete de 5,90 m x 8,39m, versão em grande escala de uma fotografia de 2013, feita de um veludo da Coleção Eva Klabin. Os tapetes nas paredes, em tons de vermelho, reproduzem as fotografias feitas pelo artista do chão acarpetado de locais históricos europeus, como o Palazzo Doria Pamphilj, construído em Roma, no século 16; a escadaria que leva ao único trono existente de Napoleão Bonaparte (1769-1821), no Castelo de Fontainebleau, na França, residência dos reis franceses, e que data dos primórdios do século 12; e a Ópera Garnier, projetada durante o reinado de Napoleão III (1808-1873), o décimo-terceiro palácio a abrigar a Ópera de Paris, fundada por Luís XIV.
“Gosto muito da ideia de degradê, da cor que vai sumindo, e de seu significado em francês também de degradado, coisa gasta, decadente. Com o uso ao longo do tempo, é possível ver nesses tapetes europeus suas várias camadas, em que a trama sobressai e forma um grid. Também ficam visíveis marcas do peso sobre o chão em que o tapete está colocado, formando baixos-relevos. Essa ideia de coisa gasta e a geometria que surge são o que gosto nesse trabalho, que acaba por quase ser uma homenagem à pintura, como se eu estivesse pintando com a fotografia e o pelo do tapete”, conta Marcos Chaves. Alguns trabalhos criam uma perspectiva “ao contrário”, como o que traz os degraus para o trono de Napoleão, e que estará na fachada da galeria, na vitrine.
“OUR LOVE WILL GROW VASTER THAN EMPIRES”
Na primeira sala da exposição, Marcos Chaves vai mostrar três objetos, também na cor vermelha. O primeiro é “Our Love Will grow vaster than empires” (2025), verso do poeta inglês Andrew Marvell (1621–1678) inscrito em um pedaço de veludo e fincado na parede por um canivete suíço. A obra é derivada de um trabalho de 1991, “MessAge”, com canivete e plástico. Os dois outros trabalhos são “readymade”, de 1992 – a bolsa “Jaws”, descoberta por Marcos Chaves emuma feira tipo “mercado de pulgas”, e “Sem título”, um par de sapatos de salto alto encontrado na rua, em uma áreafrequentada por travestis.
O texto crítico é de Ginevra Bria,curadora com vinte anos de trajetória, dedicada a examinar as artes moderna e contemporânea no Brasil. Ela é professora-assistente na Unicamp, onde finaliza sua dissertação iniciada há seis anos para seu PhD em História da Arte na Rice University, em Houston, EUA – “The NoncolorofIndigeneity. Na Art History of Scientific Racism in Brazil, 1865-1935”.Em seu texto sobre a exposição de Marcos Chaves na Nara Roesler São Paulo ela enfatiza: “Em total admiração pela prática da pintura, que Chaves nunca abordou e formalizou, ‘Sangue Azul’ entrelaça fotografias, instalações e esculturas”. “Mas, como eixo expositivo, a fotografia toma emprestado os títulos das obras às contradições de supremacia da nobreza, da política e das uniões de razão de ser históricas (citando espaços de poder como Fontainebleau, Pamphilij e Garnier”. GinevraBria destaca ainda que “neste projeto, entre o lento apagamento das dimensões verticais e horizontais, cada elemento representado, ou ampliado, é hipostasiado num movimento temporal, enquanto a nobre dinâmica dos vermelhos é intemporal. E enobrecida”.
Serviço
Exposição | Sangue Azul
De 07 de junho a 16 de agosto
Segunda a sexta, das 10h às 19h, sábado, das 11h às 15h
Período
7 de junho de 2025 10:00 - 16 de agosto de 2025 19:00(GMT-03:00)
Local
Galeria Nara Roesler - SP
Avenida Europa, 655, São Paulo - SP
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A Galeria Vermelho apresenta Vai que dá zebra, nova exposição individual do JAMAC. A mostra ocupa a fachada, a banca e os dois andares da galeria com duas séries
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A Galeria Vermelho apresenta Vai que dá zebra, nova exposição individual do JAMAC. A mostra ocupa a fachada, a banca e os dois andares da galeria com duas séries inéditas. A produção retoma e reafirma o uso do estêncil na produção das pinturas do coletivo. A técnica está na raiz do trabalho do JAMAC, que a usa na capacitação de pessoas no bairro da Zona Sul de São Paulo e em suas produções colaborativas para exposições institucionais como Blooming Brasil-Japão, que ocorreu no Toyota Municipal Museum of Art, no Japão, em 2008; e na Ocupação de seis meses que o coletivo fez no Pavilhão das Culturas Brasileiras, em 2011 – para citar alguns. Em Vai que dá zebra, as pinturas são produzidas a partir da combinação do estêncil com a serigrafia.
A série Escuta propõe um inventário de convivências por meio de pinturas que sobrepõem imagens de cadeiras com significado para o coletivo. Cada composição sugere modos de estar junto — registos de encontros cotidianos e possibilidades de novas escutas.
Aposta cruza arte, cultura popular e jogo. A série reúne pinturas feitas a partir dos 25 animais do jogo do bicho e convida colecionadores a participar de um jogo com uma das obras – a única que reúne todos os bichos. Essa pintura será sorteada entre os compradores de uma das pinturas que funcionam como bilhetes para o jogo. Ao adotar a lógica da aposta, o JAMAC discute valor, risco e mercado, tendo a zebra — o resultado improvável — como símbolo central de incerteza e reinvenção.
É ela quem ocupa a fachada, marcando o ponto onde a aposta falha — ou começa de novo.
A Ocupação JAMAC, na Banca da Vermelho continua ativa, agora também com itens relacionados à exposição.
JAMAC: Vai que dá zebra
Vai que dá zebra parte da presença e do imprevisto que organizam ideias, espaços, imagens. Quando um conjunto de cadeiras se torna espaço de escuta, o jogo vira gesto artístico e o risco deixa de ser desvio para se tornar método. Apostas e dúvidas, imagens e presenças conformam arranjos provisórios, como quem se senta para desenhar sem saber o que vai sair. Neste espaço o acaso não atrapalha, é ele o disparador do processo.”
É assim que Bruno o., um dos integrantes do Jardim Miriam Arte Clube (JAMAC), aproxima as duas séries que o coletivo da Zona Sul de São Paulo apresenta em sua nova individual na Vermelho. Aparentemente opostas, elas se unem pela abordagem da aposta — tanto como gesto artístico quanto como dimensão social. De um lado, o jogo de azar e o sonho da ascensão pela sorte; de outro, a permanência de um trabalho coletivo que entrelaça arte, educação e ativismo.
O uso do estêncil — técnica fundadora do coletivo — é reafirmado nas pinturas da exposição, em diálogo com a serigrafia, reforçando a dimensão gráfica e colaborativa da produção do JAMAC.
Em Escuta, um inventário de cadeiras é transformado em pinturas. Esses assentos, recorrentes nas vivências do coletivo — oficinas, rodas de conversa, encontros —, carregam significados simbólicos e afetivos. Desenhos de seis cadeiras diferentes foram recortados em estênceis e gravadas em telas serigráficas. As composições que entrelaçam esses ícones, sugerem modos de estar junto, de escutar e de esperar, e convidam à reflexão sobre os gestos e relações que sustentam a vida em comum e a ocupação dos espaços.
Já Aposta explora o cruzamento entre arte, cultura popular e mercado, a partir das imagens dos 25 animais do Jogo do Bicho. Impressas sobre tecido, em padrões que também combinam estêncil e serigrafia, essas figuras remetem à lógica da incerteza, aproximando o fazer artístico do risco do jogo. A zebra — animal ausente da cartela oficial — simboliza o imprevisto e se torna elo entre o azar e a instabilidade do próprio sistema da arte.
A série inclui pinturas com um ou mais animais do jogo, além de uma colcha que reúne todos os 25 bichos — essa, não à venda, será sorteada entre quem adquirir uma de outras 100 pequenas obras disponíveis que se desdobram em quatro versões para cada um dos 25 animais. Assim como no jogo, em que cada bicho corresponde a quatro números, aqui a chance de sorteio aumenta conforme o número de aquisições.
Aposta é a convergência entre jogo e arte. Ambos envolvem riscos pessoais — do jogador e do artista — e contam com a imprevisibilidade, representada pela zebra. Embora ausente da cartela, ela simboliza o inesperado. “Dar zebra” vem do Jogo do Bicho e expressa exatamente isso: o resultado que escapa ao controle. Com esse 26º bicho, o JAMAC propõe uma reflexão sobre o fracasso e a surpresa como parte do processo criativo.
A zebra torna-se ícone da exposição e ocupa a fachada da galeria como símbolo central de incerteza e reinvenção.
Cada animal foi desenhado por um colaborador convidado — de funcionários da galeria a pessoas próximas ao JAMAC. Essa prática é um dos fundamentos do coletivo: quando participa de exposições, o grupo realiza oficinas com comunidades do entorno, das quais surgem desenhos que se tornam estênceis usados nas obras apresentadas.
Ao transformar o risco em método, Vai que dá zebra reafirma a centralidade da experimentação coletiva na prática do JAMAC. A exposição articula técnica e política para propor formas de convivência sustentadas na participação e na incerteza — estratégias que atravessam tanto os processos de criação quanto os modos de atuação do grupo.
Serviço
Exposição | Vai que dá zebra
De 19 de julho a 23 de agosto
Segunda a sexta, das 10h às 19h, sábados, das 11h às 17h
Período
19 de julho de 2025 10:00 - 23 de agosto de 2025 19:00(GMT-03:00)
Local
Galeria Vermelho
Rua Minas Gerais, 350, São Paulo - SP
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A exposição CORpo MANIFESTO reúne 113 obras que atravessam diversas linguagens artísticas, como fotoperformance, escultura, pintura, instalação e vídeo. Cada obra compõe um panorama da
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A exposição CORpo MANIFESTO reúne 113 obras que atravessam diversas linguagens artísticas, como fotoperformance, escultura, pintura, instalação e vídeo.
Cada obra compõe um panorama da produção do artista visual Sérgio Adriano H ao longo de sua carreira, com destaque para 33 inéditas.
As obras não apenas documentam o corpo como manifestação política e social, mas também questionam as narrativas históricas sobre a negritude e a identidade negra no Brasil.
Através de uma linguagem poética e visualmente impactante, o artista usa o corpo como ferramenta de denúncia e reflexão, criando uma conexão profunda entre passado e presente.
Serviço
Exposição | CORpo Manifesto
De 23 de julho a 15 de setembro
De quarta a segunda, 9h às 20h
Período
23 de julho de 2025 09:00 - 15 de setembro de 2025 20:00(GMT-03:00)
Local
CCBB RJ
R. Primeiro de Março, 66 - Centro Rio de Janeiro - RJ
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O IMS Paulista abre a mostra Paiter Suruí, Gente de Verdade: um projeto do Coletivo Lakapoy. A exposição apresenta um acervo inédito de fotografias familiares tiradas majoritariamente pelo povo indigena Paiter Suruí, reunidas e digitalizadas pelo Coletivo Lakapoy. Esse acervo inclui cenas e retratos tirados desde a década de 1970, quando as câmeras chegaram ao território pelas mãos de missionários, mas passaram a ser utilizadas pela população local para registrar seu dia a dia. Além do acervo histórico, a exposição apresenta fotos e vídeos atuais, reforçando o papel da fotografia como importante ferramenta de afirmação dos direitos indígenas.
As imagens do acervo histórico estavam armazenadas nas casas das famílias, guardadas em álbuns, caixas e estantes das diferentes aldeias do território indígena, localizado entre os estados de Rondônia e Mato Grosso. Para preservá-las, o Coletivo Lakapoy – grupo formado por comunicadores indígenas, com o apoio de não indígenas, com o objetivo de fortalecer a cultura Paiter Suruí – reuniu, catalogou e digitalizou as fotografias. Em 2021, o projeto foi publicado na revista ZUM e, em 2023, selecionado pela Bolsa ZUM/IMS, de fomento à produção artística. O resultado dessa pesquisa agora se desdobra nesta exposição, que ocupa o 6º andar do IMS Paulista, com entrada gratuita. (Saiba mais sobre o Coletivo Lakapoy no serviço.)
A mostra tem curadoria da líder e ativista Txai Suruí, que integra o Coletivo Lakapoy, da arquiteta, pesquisadora e curadora Lahayda Mamani Poma e de Thyago Nogueira, coordenador da área de Arte Contemporânea do IMS, além de supervisão do cacique-geral Almir Narayamoga Suruí, nome fundamental da história da luta indígena no Brasil. No sábado (26/7), às 11h, os curadores participam de uma conversa com Almir Suruí e Ubiratan Suruí, do Coletivo Lakapoy, no cinema do IMS Paulista. No domingo (27/7), às 15h, um grupo de anciãos do povo Paiter Suruí conduz uma atividade sobre os cantos tradicionais da sua cultura. Os eventos são gratuitos e abertos ao público.
Na exposição, o público encontra reproduções de cerca de 800 fotografias analógicas, da década de 1970 até 2000, que documentam o dia a dia do território, registrando aniversários, casamentos, batizados e competições esportivas, mas também os desafios decorrentes dos contatos com os não indígenas. Este acervo histórico ocupa todas as paredes da exposição, transformando-as em um grande álbum de família, composto de registros informais e pessoais.A mostra apresenta ainda cerca de 20 retratos recentes do povo Paiter Suruí tirados em maioria por Ubiratan Suruí, primeiro fotógrafo profissional do povo e integrante do Coletivo Lakapoy, além de depoimentos e vídeos dos influencers Oyorekoe Luciano Suruí e Samily Paiter. A exposição também apresenta redes, cestos e colares produzidos pelas artesãs do território, valorizando o conhecimento ancestral e artístico das mulheres Paiter Suruí.
Contatados oficialmente pela Funai em 1969, os Paiter Suruí resistiram a invasões, doenças e à omissão governamental até obterem, em 1983, a homologação da Terra Indígena Sete de Setembro, localizada entre os estados de Rondônia e Mato Grosso. Hoje, são aproximadamente 2.000 pessoas, distribuídas em mais de 30 aldeias. Com um modo de vida integrado à floresta amazônica, mas também profundamente transformado desde o contato com a sociedade não indígena, os Paiter Suruí seguem lutando para garantir sua soberania e a integridade de seu território, ameaçado pelo garimpo, pela pecuária e pelo extrativismo predatório. A fotografia e as redes sociais, entre outras ferramentas tecnológicas, foram apropriadas pela juventude como formas de difundir sua cultura, denunciar invasões e fortalecer a resistência.
Txai Suruí comenta a exposição e a importância de preservar essa memória: “A vontade de guardar, registrar e contar a história do povo Paiter Suruí é um sonho que agora se realiza, antes de os últimos anciãos nos deixarem, antes de essa história se ocultar de vez em algum canto esquecido do tempo, na memória dos que viveram essa saga. […] Com as câmeras nas mãos, vemos um olhar diferente daqueles que vieram de fora, podemos notar a espontaneidade e naturalidade de quem tira fotos para um álbum de família. São imagens cheias de amor, carinho e afetividade, mas também de conhecimento, de amor à humanidade e à natureza, de orgulho de pertencer ao povo Paiter Suruí.”
A maioria das pessoas retratadas nas imagens foram identificadas e contatadas, autorizando a reprodução das fotos, num movimento de propor novas lógicas de construir, guardar e expor acervos indígenas, como pontua a curadora Lahayda Mamani Poma: “De modo geral, o contato entre instituições de arte e culturas originárias abre não apenas para conhecimento de novas produções e linguagens artísticas, mas para a reflexão sobre modos de fazer museologia”.
O curador Thyago Nogueira também ressalta que o acervo é um “documento inédito da história Paiter Suruí, muito diferente das imagens oficiais e etnográficas produzidas sobre os povos indígenas brasileiros”. Segundo o curador do IMS, “montar um acervo visual de um povo é uma forma de refazer laços e dinamizar a própria cultura, criando pontes entre as novas e velhas gerações. É também uma forma de mostrar que as fotografias atuam como ferramenta de resistência e afirmação − uma estratégia que pode interessar a outros povos indígenas e grupos minorizados ou excluídos de sua própria história”.
Essa lógica aparece nas legendas da exposição, elaboradas coletivamente pelos Paiter Suruí, com coordenação de Ubiratan Suruí (ver exemplo abaixo). Essa opção reforça o trabalho coletivo, em contraponto à ideia de autoria individual, já que é frequentemente difícil determinar quem bateu cada foto, pois a câmera circulava entre várias mãos. Outro aspecto importante é a presença de intervenções manuais nas fotografias. Rasuras, desenhos e anotações mostram que estas fotografias são fragmentos de memória vivos, e não apenas documentos do passado.
Ubiratan Suruí, integrante do Coletivo Lakapoy, comenta o processo de construção deste acervo: “Essas fotos foram coletadas nas casas de vários Paiter. Quando muitas delas foram feitas, eu era apenas uma criança. Assim, para entender melhor o que estava vendo e o porquê de cada registro, passamos a ir atrás dos personagens ou seus familiares. Às vezes, a fotografia era brincadeira de criança ou até um disparo acidental de alguém que não estava tão acostumado com a câmera. Mas, como a máquina era analógica, com a limitação dos filmes, a maioria dos cliques era de momentos realmente importantes.” Segundo o fotógrafo, o “acervo catalogado já passou das centenas de registros, e cada um deles traz outra centena de narrativas. Quando um álbum novo é encontrado na aldeia, vários parentes se sentam em volta dele para trocar relatos e lembrar do passado.”
Ubiratan é o autor de parte das fotos contemporâneas exibidas na mostra, tiradas a partir de 2024. As imagens mostram o cotidiano atual das aldeias do território Paiter Suruí, marcadas tanto por costumes tradicionais quanto por novas sociabilidades e pelo uso das tecnologias. A exposição traz também vídeos de entrevistas com lideranças e integrantes da comunidade, como Almir Narayamoga Suruí. Nos depoimentos, as pessoas falam da importância do acervo e comentam temas como política, espiritualidade e alimentação.
Outro destaque, feito especialmente para a exposição, é uma projeção audiovisual que documenta o contato de anciãos do território com as imagens históricas do fotógrafo Jesco von Puttkamer. Jesco participou do contato da Funai com os Paiter Suruí na virada dos anos 1960 para os 1970, e, ao longo da vida, reuniu um dos acervos audiovisuais indígenas mais importantes do país, depositado no IGPA da PUC Goiás. A maioria dos Paiter Suruí, no entanto, nunca havia visto as imagens, que retornaram ao território pela primeira vez depois de uma colaboração entre o Coletivo Lakapoy e o IGPA da PUC Goiás.
Em cartaz até 2 de novembro, a exposição apresenta ao público um conjunto inédito de imagens de grande importância histórica e política. Trata-se de um acervo em expansão, que, em 2026, também será exposto no próprio Território Sete de Setembro.
Serviço
Exposição | Paiter Suruí, Gente de Verdade
De 26 julho a 2 novembro
Terça a domingo e feriados das 10h às 20h (fechado às segundas).
Última admissão: 30 minutos antes do encerramento.
Período
26 de julho de 2025 10:00 - 2 de novembro de 2025 20:00(GMT-03:00)
Local
IMS - Instituto Moreira Salles
Avenida Paulista, 2424 São Paulo - SP
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A exposição Eu sou o Brasil: artistas populares ocupará o Sesc Santo Amaro com um conjunto de 57 obras pertencentes ao Acervo Sesc de Arte, reunindo produções de artistas autodidatas de diferentes regiões do Brasil. Produzida a partir de uma seleção criteriosa do curador Renan Quevedo, a mostra, que evidencia a relevância da coleção de artes visuais do Sesc São Paulo, inclui pinturas, esculturas, xilogravuras e objetos que revelam a pluralidade e a potência simbólica da chamada arte popular, força criativa marcada pela ancestralidade, pela memória coletiva e pela resistência.
Organizada em quatro núcleos temáticos – Fauna e Flora, Cotidiano, Ofícios e Festas –, a exposição reúne obras de 30 artistas do Norte ao Sul do Brasil. São eles: Maria Lira Marques, J. Borges, J. Miguel, Manoel Graciano, Francisco Graciano, Carmézia Emiliano, Mirian, Berbela, Jasson Gonçalves, Cornélio, Louco Filho, Agostinho Batista de Freitas, Waldomiro de Deus, Zica Bergami, Mestre Saúba, Mestre Molina, José Bezerra, Aberaldo Santos, José Antônio da Silva, Ranchinho, Juracy Mello, Nilson Pimenta da Costa, Neves Torres, Neri Agenor de Andrade, Paulo Orlando da Silva, Suene Oliveira Santos, Véio, Gersion de Castro Silva, Maria de Lourdes, Nilo e Cornélio.
Marcadas pela experimentação, pela oralidade e por saberes transmitidos de geração em geração, as obras de cada um desses artistas têm em comum a produção à margem do chamado circuito de arte e refletem a dinâmica de trabalhos que simbolizam vivências e territórios diversos, suscitando críticas sociais, retratando experiências cotidianas ou celebrando festas e rituais.
“Agentes-chave de definição da identidade brasileira, os artistas da mostra começam a esculpir, pintar, entalhar, modelar, imprimir, polir e encerar, entre tantos outros verbos obstinados, movidos pela vontade de externalizar poeticamente os impulsos criativos”, defende Quevedo no texto curatorial da exposição. “Aqui, nos distanciamos do caráter ingênuo ao qual a arte popular foi associada – e ainda é – para orgulhosamente descortinarmos seus aspectos e contornos densos, ambivalentes, extraordinários e profundos. Com a transmissão de saberes entre sucessores, de geração em geração, são consolidados pilares culturais e pertencimentos sociais, contribuindo para a formação de comunidades atentas ao imaterial, à ancestralidade e às permanências”, complementa.
Quatro núcleos em detalhes
No núcleo Fauna e Flora, elementos da natureza reproduzidos em diversos suportes revelam diferentes nuances de Norte a Sul do país. Papel, madeira, metal, tintas industriais e pigmentos naturais são utilizados para tecer narrativas que retratam bichos ora reais, ora imaginários, atravessando visões, cotidiano, crenças, lendas e salvaguardas. Entre outros destaques do núcleo, como as xilogravuras do mestre J.Borges, os tons do Vale do Jequitinhonha inspiram a mineira Maria Lira Marques nas pinturas da série Meus Bichos do Sertão. Já o baiano Berbela tem a soldagem e a reciclagem de descartes plásticos e metálicos da comunidade de Paraisópolis como ponto de partida para a criação de inventivos simulacros de insetos
Nas proposições do núcleo Cotidiano, Quevedo explora dinâmicas do dia a dia, em contextos urbanos e rurais, com obras que abordam relações de trabalho, crítica social, sonhos, insatisfações e manifestações de fé. Um painel imponente com mais de uma centena de Ex-votos abre caminho para as carrancas do alagoano Jasson, um anjo esculpido pelo piauiense Cornélio e os orixás do baiano Louco Filho. O lazer é visto nas pinturas de Waldomiro de Deus, nos desenhos de Zica Bérgami e na torre com brincadeiras de criança de Mestre Saúba. Zé Bezerra e Aberaldo criam a partir do movimento da madeira e ali observam seres que se insinuam nas curvas do material, trabalhando consistentemente a relação entre olhos e mãos.
Já em Ofícios são retratadas atividades ligadas ao fazer manual e aos trabalhos do campo, como na inventiva geringonça de Mestre Molina intitulada Vida na Roça, e às práticas comunitárias, destacando a diversidade das técnicas artesanais no Brasil e suas origens em processos de mistura entre culturas indígenas, africanas e europeias. O núcleo também evoca o fluxo de migrantes que contribuíram para a consolidação da economia paulistana e influenciaram fortemente a constituição de comunidades urbanas, como a do entorno do Sesc Santo Amaro, cujas memórias ecoam nas obras de artistas como José Antônio da Silva, Neves Torres, Ranchinho, Neri Agenor de Andrade, Waldomiro de Deus, Juracy Melo e Nilson Pimenta.
Por fim, o núcleo Festas destaca as manifestações culturais coletivas. Reunindo pinturas, esculturas e xilogravuras, o conjunto de obras revela olhares sobre folias, folguedos, danças, ritos e reuniões permeadas por humor, fé, críticas sociais, desejos, formas e cores. Articuladoras de símbolos, comunidades e territórios, as festas atravessam a rotina e possibilitam a atualização de significados para os grupos. Rituais de oferta e agradecimento de alimentos são vistos na produção do pernambucano Paulo Orlando da Silva, da paranaense Suene Oliveira Santos e de Carmézia Emiliano. A última, roraimense da etnia Macuxi, cria uma representação da Parixara, tradicional celebração em agradecimento à comida, culto à caça e à colheita e fortalecimento de laços comunitários. A alegria do frevo, do circo e dos parques de diversões é, respectivamente, registrada na obra de J. Borges, Véio e Mestre Molina. Já as reuniões de caráter religioso, como a Folia de Reis, celebram o nascimento de Jesus em desfiles processionais musicalizados, sendo representadas na obra de Manoel Graciano, nascido no Cariri cearense.
Ao reverenciar o trabalho dos 32 artistas presentes nesta mostra, expoentes de práticas muitas vezes marginalizadas e subdimensionadas, a exposição Eu sou o Brasil: artistas populares contribui para uma revisão do lugar da arte popular no imaginário nacional, convidando o público a ampliar os horizontes do que se entende por arte no Brasil contemporâneo.
Serviço
Exposição | Eu Sou o Brasil: artistas populares
De 9 de agosto a 28 de dezembro
Terça a sexta: 10h às 21h30. Sábados, domingos e feriados: 10h às 18h
Período
9 de agosto de 2025 10:00 - 26 de dezembro de 2025 21:30(GMT-03:00)
Local
Sesc Santo Amaro
Rua Amador Bueno, 505, Santo Amaro, São Paulo - SP
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A Galeria BASE inaugura a exposição “Vaga”, do artista mineiro Bruno Rios – sua primeira individual em São Paulo – com texto crítico assinado por Mariana Leme. Todas as obras expostas foram produzidas para a mostra. O conjunto marca uma nova fase do artista, seja na sua pesquisa ou suportes utilizados.
A exposição é composta por uma série de 22 pinturas, de 50×70 cm cada, que carregam o mesmo nome da mostra. As obras são realizadas a partir de uma técnica desenvolvida pelo artista, associando madeira, placa cimentícia, spray e massa acrílica. Os suportes permitem uma série de investidas gestuais a partir da incisão de goivas, ponta secas, serigrafias e colagens de objetos. O percurso poético investigado nesses trabalhos parte do caminhar na cidade e do encontro com elementos urbanos que são reconfigurados e manipulados, formulando outras perspectivas e modo de perceber o entorno.
Para além da série de pinturas, Bruno Rios ainda apresenta 5 fotografias, de 20×30 cm cada, da série “Inauguração, acontecimento”, que nos mostram fogos de artifícios sendo ativados em terrenos baldios, lotes vagos e construções abandonadas encontradas nos percursos pela cidade. As imagens partem novamente da investigação do entorno urbano e apontam para as problemáticas relacionadas à especulação imobiliária, aos modos como a cidade se desenha e as premissas que regem uma certa lógica construtiva/progressista que se impõe e se enaltece, mas que se mostra falha e efêmera nos contextos sociais presentes.
No dizer da curadora Mariana Leme “Em chapas rígidas de madeira, há pequenos desenhos gravados em sulcos, elementos coloridos colados sobre a superfície, traços retos e sinuosos, algumas letras do alfabeto latino. Mas parece não haver nenhuma síntese formal, como se as composições estivessem em movimento, algo reforçado pela característica serial dos trabalhos. Bruno Rios desenha e risca as superfícies como quem deambula pela cidade: não há projeto prévio, mas uma justaposição de gestos, acasos e pequenos acúmulos; talvez venha também daí a sensação de uma ligeira mobilidade dos elementos.
Num outro gesto, igualmente discreto, o artista posiciona fogos de artifício em terrenos baldios, registrando-os em fotografia. Construções abandonadas, árvores invasoras, mato e entulho coexistem brevemente com o cintilar da explosão, numa atmosfera ao mesmo tempo reconhecível, efêmera e inusitada. Mas não se trata de um espetáculo, ou de uma mensagem assertiva. Como nos desenhos, as fotos registram pequenos acontecimentos, no interior dos resíduos urbanos, por meio dos signos que constituem uma linguagem partilhada e da própria arte, enquanto linguagem aberta.”
A exposição ocupa os dois andares do espaço e mostra uma nova fase do artista, que abandona o papel e passa a trabalhar com materiais novos, assim como marca a primeira mostra individual no novo endereço da Base, acrescenta Daniel Maranhão, diretor da galeria.
Serviço
Exposição | Vaga
De 12 de agosto a 13 de setembro
Terça a sexta-feira, das 10hs às 19hs; sábado, das 10hs às 15hs
Período
12 de agosto de 2025 10:00 - 13 de setembro de 2025 19:00(GMT-03:00)
Local
Galeria BASE
Al Franca 1030, Jardim Paulista || 01422-002 | São Paulo - SP
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O Ministério da Cultura, via Lei Federal de Incentivo à Cultura (Lei Rouanet), o Nubank, na cota de Mantenedor Institucional, e o Instituto Tomie Ohtake têm o prazer de anunciar Marina Perez Simão – Diapasão, a primeira grande exposição institucional da artista no Brasil. Em cartaz de 15 de agosto a 19 de outubro de 2025, a mostra tem curadoria de Paulo Miyada e conta com o patrocínio do NEON na cota prata e apoio da Mendes Wood DM.
Diapasão, título da exposição, remete ao instrumento que serve de referência para afinação. No contexto da mostra, ele aponta para a experiência visual como um sentido que pode afinar nossa percepção do espaço, da cor e da matéria. Com cerca de 80 trabalhos entre pinturas, aquarelas e cadernos de estudos, a mostra reafirma o compromisso da instituição em ampliar o acesso à produção artística contemporânea e integra uma trajetória de exposições que destacam a força inventiva de artistas mulheres – Anna Maria Maiolino, Vânia Mignone, Iole de Freitas, Maria Lira Marques, Mira Schendel e Patrícia Leite são os exemplos mais recentes.
Considerada uma das maiores coloristas de sua geração, a artista explora luz, cor, textura e movimento, criando composições de forte impacto visual e emocional. Seu trabalho se destaca pela capacidade de envolver os sentidos, resultado de um enfoque sinestésico presente em toda a sua produção. A exposição propõe uma experiência de profunda interação com o público, convidando-o a um mergulho cromático e perceptivo em sua obra.
Não por acaso, a mostra ocupa a maior sala do Instituto Tomie Ohtake, cuja arquitetura foi modificada especialmente para a ocasião, expandindo a curva característica do espaço, alterando a percepção do visitante. A montagem induz esse percurso para expor os últimos quinze anos de produção da artista, especialmente o movimento de transição do desenho e das aquarelas de estudo para as grandes pinturas a óleo criadas entre 2024 e 2025 que, segundo a curadoria, envolverão o público numa ondulação cromática contínua.
Embora guiadas por pinceladas fluidas, essas grandes pinturas resultam de dinâmicas cuidadosas, que envolvem planejamento, experimentação e combinação de elementos formais. O processo criativo passa pela produção de dezenas de estudos em aquarela, nos quais a artista explora possíveis composições, cores e atmosferas. Esses estudos não são diretamente traduzidos para as telas, mas funcionam como ensaios visuais que alimentam a produção simultânea das pinturas multicoloridas. A artista utiliza gestos amplos e cores previamente definidas para criar campos que se justapõem ou se sobrepõem, formando superfícies vibrantes e ressonantes.
Como afirma Paulo Miyada no texto curatorial, “Cada cor, escolhida e preparada antes de encostar na tela, define um campo, uma onda, um órgão da pintura, o qual se justapõe ou sobrepõe a outros campos, ressoando em uníssono, sem se diluir ou se confundir… O efeito mesmerizante de cada pintura passa pelas relações de proporção entre as áreas de cor, assim como de proximidades e distâncias tonais dentro das suas relações de complementariedade… Assim, forma-se uma obra que, antes mesmo de ser uma imagem, é uma presença material que rebate a luz intensamente, de modo estimulante aos sentidos”, conclui.
Serviço
Exposição | Diapasão
De 15 de agosto a 19 de outubro
Terça a domingo, das 11h às 19h – última entrada até 18h
Período
15 de agosto de 2025 11:00 - 19 de outubro de 2025 19:00(GMT-03:00)
Local
Instituto Tomie Ohtake
Av. Brigadeiro Faria Lima, 201, Pinheiros, São Paulo – SP
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A obra de Joseca Mokahesi Yanomami (1971, Rio Uxi u, Terra Indígena Yanomami, Brasil) tem como ponto central a tradução da cosmologia yanomami em narrativas visuais, especialmente no desenho, dando corpo às histórias dos tempos ancestrais e às múltiplas dimensões da terra-floresta, conceito que vai além de um espaço físico e une a floresta, os rios, os espíritos, os animais e os humanos em um sistema vivo e interdependente, visível somente aos xamãs. É nessa atmosfera quase onírica que a Almeida & Dale inaugura, a partir de 16 de agosto, Urihi mãripraɨ – Sonhar a terra-floresta, individual do artista com curadoria de Bruce Albert, antropólogo franco-marroquino e autor, junto a Davi Kopenawa Yanomami, dos livros A Queda do Céu (2015) e O Espírito da Floresta (2022).
Os desenhos e telas de Joseca apresentam, com minúcias e cores vibrantes, entidades, lugares e episódios evocados pelos cantos dos grandes xamãs de sua comunidade, nos conduzindo por universos onde humanos e não-humanos se entrelaçam em uma rede complexa, cujas imagens são reveladas aos xamãs por meio de sonhos e cantos. Inspirado pelos seus sonhos, o artista transpõe, sobre papel ou tela, suas próprias imagens sonhadas, alcançando os múltiplos universos que constituem a “terra-floresta-mundo”, urihi a. Assim, seus sonhos se transformam um após o outro em “peles de imagens” (utupa siki) que nos dão acesso à saga dos ancestrais do “primeiro tempo” yanomami.
A exposição Urihi mãripraɨ – Sonhar a terra-floresta nos apresenta cerca de 30 obras que são espécies de “capturas de tela” oníricas, stills do filme metafísico desenrolado pela trama narrativa ancestral dos cantos xamânicos yanomami. “Para tornar visível e fazer conhecer o poder desse pensamento onírico para além de seu próprio mundo, Joseca Mokahesi Yanomami se apropriou de certos traços de nosso realismo figurativo com o qual foi confrontado na escola de sua comunidade quando adolescente. Desde então, ele passou a transformálos a serviço de um estilo radicalmente original que poderíamos qualificar de “realismo xamânico”, em alusão ao célebre “realismo mágico” literário”, explica o curador Bruce Albert.
Parte fundamental da mostra, os trabalhos da série Urihi a në mari vêm acompanhados de títulos-descrições escritos por Joseca na língua yanomami e que partilham sua cosmovisão. Para além do gesto artístico, sua produção é também um movimento de tradução entre mundos. Trata-se de uma linguagem híbrida, mas enraizada na cosmologia yanomami, que visa comunicar com os mais jovens de sua comunidade e sensibilizar os não-indígenas (napë pë) para a beleza, profundidade e urgência de preservar esse modo de vida ameaçado.
Serviço
Exposição | Urihi mãripraɨ – Sonhar a terra-floresta
De 16 de agosto a 11 de novembro
Segunda a sexta-feira, das 10h às 19h, sábado, das 11h às 16h Entrada gratuita
Período
16 de agosto de 2025 10:00 - 11 de outubro de 2025 19:00(GMT-03:00)
Local
Almeida & Dale
Rua Fradique Coutinho 1360 | 1430, São Paulo - SP