Jorge Soledar, A morte do boneco, 2017-2019.

Entre 3 e 7 de abril, o Pavilhão da Bienal, no Parque do Ibirapuera, será casa do Festival de Arte de São Paulo (SP-Arte) novamente. Comemorando a 15ª edição, a feira terá seus setores de arte comandados por novos curadores. Além disso, haverá 165 expositores no total: 121 galerias de Arte, e 44 de Design e inaugura o setor OpenSpace, que leva esculturas para a parte externa do prédio, com curadoria de Cauê Alves.

Quando convidada para a curadoria do setor SOLO, a chilena Alexia Tala pensou imediatamente em uma frase que lhe foi dita por Aracy Amaral há alguns anos: que o Brasil estava de costas para a América Latina. O que ela queria dizer é que o país estava sempre com o olhar voltado à Europa e aos Estados Unidos, sem criar vínculos com o próprio continente do qual faz parte. Foi por isso, conta Alexia, que ofereceu como proposta à Fernanda Feitosa, diretora da instituição, “usar a feira, especificamente os projetos em SOLO, como uma plataforma para nos abrirmos para olhar para si mesmos, entendendo que o Brasil é tão parte da América Latina como o resto”, conta a curadora para a ARTE!Brasileiros.

O pensamento a levou para uma obra da série Profecias, de Randolpho Lamonier, artista que estará presente na mostra do setor, na qual há a previsão de que em 2050 todos irão descobrir que o Brasil é a América Latina. Alexia, que também está trabalhando na curadoria da Bienal de Arte Paiz, na Guatemala, foi juntando ideias e moldando o seu desejo por formar uma estrutura curatorial que falasse de território por meio de teorias pós-coloniais: “Fiz a seleção de artistas desde uma perspectiva territorial contextual da América Latina. Como nos vemos? Quantas identidades diferentes foram criadas? E quais se tornam fictícias? Estas foram as primeiras perguntas que me fizeram pensar sobre a ideologia colonial”, explica.

Nesta perspectiva, a curadora de SOLO leva à SP-Arte Rafael Pagatini (Brasil, OÁ), María Edwards (Chile, Patricia Ready), Ayrson Heráclito (Brasil, Portas Vilaseca), Nicole Franchy (Peru, IK Projects), Feliciano Centurión (Argentina, Walden), Manata Laudares (Brasil, Sé), Randolpho Lamonier (Brasil, Periscópio), Alejandra Pietro (Chile, Die Ecke), Sandra Vásquez de la Horra (Chile, Bendana-Pinel) e Fernando Bryce (Peru, Espaivisor). São artistas que, com formas muito diferentes de trabalhar, levantam os questionamentos que ela se fez: “Perguntas atemporais que são atualizadas toda vez que vemos o exotismo exigido de fora para nosso território”.

Seja na recuperação de “uma memória religiosa e a força mística da cultura afro-baiana” feita por Heráclito, na reconstrução da História e na reflexão sobre ela “a partir do registro do que é necessário para manter dentro da história e não esquecer” feitas por Pagatini ou na conscientização sobre a AIDS feita por Centurión em uma “crônica pessoal de seu caminho para a morte” o setor SOLO vai aproximando os países do continente por meio de questões em comum.

Já no setor Masters, antigo Repertório, o novo curador, Tiago Mesquita, não buscou um eixo temático ou histórico. O crítico de arte conta que a experiência na curadoria de um evento como a SP-Arte ainda é muito nova para ele: “É muito atípico em relação a outros trabalhos que já fiz em curadoria”.

Tiago escolheu trazer para o Masters obras produzidas entre os anos 50 e 80, por serem trabalhos que “podemos olhar com certa distância temporal” para compreendê-los e compreender também a produção de seus respectivos autores. Carlos Fajardo (Marcelo Guarnieri), Ridyas (Central) e um projeto de Rubens Gerchman (Superfície), dentre outros.

A maior surpresa talvez seja no setor Performance. Marcos Gallon, que também organiza a mostra de performance arte VERBO, escolheu não destinar um espaço só para os trabalhos que serão apresentados. As performances aconteceram em espaços destinados a elas espalhados entre os expositores. A ideia de Gallon é incentivar as galerias a também levarem seus artistas que atuam com performance, assim o gênero se incorpora como outro meio possível de arte, não ficando marginalizado a um canto fechado. Até porque, segundo Gallon, a grande maioria das galerias de arte do estado de São Paulo representam artistas que trabalham com a performance.

Gallon também é impulsionado pela ideia de estimular colecionadores a comprar performances, fazer com que olhem ela como algo possível de ser vendido pelas galerias: “Assim, ela é trazida para o eixo da feira, que é a comercialização”. Para isso, a SP-Arte comprará uma das obras apresentadas e doará para o acervo da Pinacoteca de São Paulo. A obra será escolhida pela equipe da instituição, liderada por Jochen Volz. Estarão no setor os artistas Cadu (Vermelho), Cristiano Lenhardt (Fortes D’Aloia & Gabriel), Jorge Soledar (Portas Vilaseca), Maria Noujaim (Galeria Jaqueline Martins) e Jaime Lauriano (Galeria Leme/AD).

Premiações

O Prêmio SP-Arte de Residência, que oferece ao vencedor três meses de residência na conceituada Delfina Foundation, em Londres, têm seis finalistas, ao invés de cinco, como é de costume. Desta vez, o grande número de inscritos fez com que a SP-Arte escolhesse um nome a mais. Os selecionados foram: Bruno Faria (Periscópio Arte Contemporânea), Daniel Lie (Casa Triângulo), Jaime Lauriano (Galeria Leme A/D), Leticia Ramos (Mendes Wood DM), Paul Setúbal (Andrea Rehder Arte Contemporânea) e Virginia de Medeiros (Galeria Nara Roesler).

Na terceira edição, o Prêmio de Arte Marcos Amaro, uma parceria com a feira, mostrou o quanto foi interessante para os artistas que participam da feira, já que este ano se inscreveram 139 artistas com projetos, sites specifics, o que fez com que o anúncio dos finalistas fosse postergado por alguns dias. O ganhador será agraciado com um valor de R$ 50 mil, além de uma bolsa de até R$ 45 mil para a produção de um projeto artístico inédito na FAMA – Fábrica de Arte Marcos Amaro em Itu. O trabalho desenvolvido poderá ser adquirido posteriormente para o acervo da Fundação Marcos Amaro. Ambas as premiações terão seus resultados divulgados no dia 4 de abril, na SP-Arte.


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