Kudzanai Chiurai Genesis [Je n'isi isi] III 2016 Pigment inks on premium satin photo paper Image: 130 x 140 cm; Paper 142.4 x 152.4 cm Edition of 10

A África é lembrada pelo sofrimento. Colonização, pragas, fome, segregação, inúmeros adjetivos de um continente abalado. Não obstante, parece importante observar que há movimentos na arte contemporânea que vem buscando, de forma notavelmente expressiva, trazer a tona séculos de identidade.

Nessa toada, a cidade de São Paulo recebe sua maior exposição de arte contemporânea africana, com 18 artistas do continente e dois brasileiros afrodescendentes. Em cartaz no CCBB, Centro Cultural Banco do Brasil, no centro da cidade, as montagens somam 90 obras, espalhadas pelos andares do prédio.

Ao todo, quatro eixos temáticos dão vida à exposição: Ecos da História, Corpos e Retratos, O Drama Urbano e Explosões Musicais. No último andar da exposição, por exemplo, há uma sala cuja montagem remete à cena musical popular nigeriana com afrobeat, dividido por sua vez em: Poder, Sexo, Riqueza e Religião.

Davido feat. Olamide “The Money”
Davido feat. Olamide “The Money”

Diferente da Europa e América do Norte, muitos dos países do continente africano encontram dificuldades para levar a conhecimento artistas e suas obras. As poucas oportunidades e baixos investimentos têm mantido muitos às margens. É o caso de Ibrahim Mahama, de 31 anos, nascido em Gana. Para expor em galerias ao redor do mundo, Mahama venceu adversidades que vão da própria falta de infraestrutura da cidade em que vive à ausência de curadores, críticos, galeristas e mesmo colegas artistas profissionais.

Alfons Hug, curador e idealizador alemão,  enfatiza que a exposição tenta mostrar a força que está por trás da realidade histórica africana, de divisões raciais, tribais e econômicas e que aparece nas obras do atual panorama artístico.

Ibrahim Mahama Non-Orientable Nkansa 2017 (screen res) 3
Ibrahim Mahama Non-Orientable Nkansa 2017 (screen res) 3

Para ele, artistas como Mahama são essencialmente aquilo que se deve buscar para compreender a importância do intercâmbio cultural direto e simbólico entre os países do continente e o Brasil. “O que conta, em última instância, é arte e seu artista. Ibrahim, por exemplo, além de ser provavelmente o único artista profissional de sua cidade [Accra], ele também é muçulmano. E isso é incrível considerando a história de muçulmanos com a arte contemporânea”, apontou o curador. Ele faz referência à preceitos religiosos e conservadores que tem colaborado, nos países de maioria musulmana, com a sua entrada tardía na arte contemporânea.

Afro-brasileiros

Entre os 20 artistas em exposição no CCBB estão dois brasileiros, afrodescendentes, Arjan Martins e Dalton Paula. Ambos foram convidados pelo curador, para uma residência, no bairro Brazilian Quarter, na Nigéria, onde pesquisaram e desenvolveram trabalhos. Esta região foi povoada por africanos e seus descendentes que, após a abolição legal da escravatura no Brasil, deixaram o país e voltaram para a Nigéria.

Arjan Martins - Fotos da fotógrafa: Ayesca Borenstein Ariza
Arjan Martins – Fotos da fotógrafa: Ayesca Borenstein Ariza

Há, nas obras de artistas brasileiros grande contribuição cultural dos países do continente, em especial a Nigéria, dada a experiência de ambos no encontro com a ancestralidade durante seus estudos.

Para Hug, este é um bom momento para expor a pluralidade africana. “Existe maior valorização da arte africana e afro-brasileira, porque a presença negra nessa cultura vem aumentando em quase todos as áreas”, disse o curador.


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