Raízes nº1: Tributo a Aguinaldo Camargo, 1987. Museu de Arte Negra - IPEAFRO. Divulgação Inhotim.
Raízes nº1: Tributo a Aguinaldo Camargo, 1987. Museu de Arte Negra - IPEAFRO. Divulgação Inhotim.

Inhotim inaugura no dia 28 de maio novas obras e exposições temporárias que trazem Isaac Julien, importante nome nos campos da instalação e do cinema, convidado a expor um de seus trabalhos mais emblemáticos na Galeria Praça. Já o Acervo em Movimento, programa criado para compartilhar com o público as obras recém-integradas à coleção, inaugura com trabalhos dos artistas brasileiros Arjan Martins e Laura Belém, ambos instalados em áreas externas do Instituto.

Jaime Lauriano também integra a lista dos artistas participantes da programação, e abre o projeto Inhotim Biblioteca. A instalação do artista mantém relação direta com o Segundo Ato do projeto Abdias Nascimento e o Museu de Arte Negra (MAN), ao propor a curadoria de uma nova bibliografia que contempla autores negros para integrar o acervo da biblioteca do Inhotim. Por último, instalado na Galeria Mata, o Segundo Ato do projeto, realizado em curadoria conjunta entre Inhotim e IPEAFRO, aborda o Teatro Experimental do Negro, movimento encabeçado por Abdias Nascimento, e que está nas origens do Museu de Arte Negra.

As inaugurações são parte do Território Específico, eixo de pesquisa que norteia a programação do Instituto no biênio de 2021 e 2022, pensada para debater e refletir a função da arte nos territórios a níveis local e global, e também a relação das instituições com seu entorno.

Confira os detalhes de cada abertura abaixo:

Looking for Langston, de Issac Julien

Em Looking for Langston um trabalho que une poesia e imagem, Isaac Julien parte de uma exploração lírica sobre o mundo privado do poeta, ativista social, romancista, dramaturgo e colunista afro-americano Langston Hughes (1902 – 1967) e seus colegas artistas e escritores negros que formaram o Renascimento do Harlem – movimento cultural baseado nas expressões culturais afro-americanas que ocorreu ao longo da década de 1920.

“Em 1954, Langston Hughes trocou correspondências com Abdias Nascimento, autorizando o Teatro Experimental do Negro a encenar suas peças. Nesse sentido, tanto Hughes, Abdias e Isaac Julien, cada um à sua época, buscavam representatividade e reconhecimento da produção artística e intelectual negra”, diz Julieta González, diretora artística do Inhotim.

Acervo em movimento: Arjan Martins e Laura Belém

São latentes nas obras de Arjan Martins conceitos sobre migrações e outros deslocamentos de corpos e presenças entre espaços de luta e poder, e ainda as diásporas e os movimentos coloniais que se deram em territórios afro-atlânticos.

Na instalação de Birutas (2021), Arjan expõe aparelhos destinados a indicar a direção dos ventos, que se fundem às bandeiras marítimas e seus códigos internacionais para transmitir mensagens entre embarcações e portos.

“Na fusão desses dois elementos, birutas e bandeiras náuticas, Arjan trata do trânsito de corpos através dos oceanos, do tráfico de pessoas escravizadas e das diásporas causadas pelos movimentos coloniais”, explica Douglas de Freitas, Curador do Inhotim.

No lago entre as Galerias Mata e True Rouge, o visitante vai se deparar com dois barcos a remo equipados com holofotes que se iluminam, frente a frente, na água. As luzes de um dos barcos se acendem, enquanto as do outro permanecem apagadas. Após 20 segundos, eles invertem. As luzes de ambos os barcos são então acesas simultaneamente e, ao final, todas se apagam até o ciclo se reiniciar automaticamente. Trata-se de Enamorados (2004), trabalho da artista mineira Laura Belém, exibido na 51ª Bienal de Veneza e que entra, então, em diálogo com a obra de Martins.

Segundo Ato do Museu de Arte Negra Abdias do Nascimento

Emanoel Araújo, Mulher com frutas na cabeça, 1966. Museu de Arte Negra - IPEAFRO. Divulgação Inhotim.
Emanoel Araújo, Mulher com frutas na cabeça, 1966. Museu de Arte Negra – IPEAFRO. Divulgação Inhotim.

O Museu de Arte Negra é um museu próprio dentro do espaço do Inhotim que traz a iniciativa sonhada por Abdias Nascimento (1914-2011) no início da década de 1950. O projeto parte do legado multidisciplinar de Abdias, poeta, escritor, dramaturgo, curador, artista plástico, professor universitário e parlamentar com uma longa trajetória trilhada no ativismo e na luta contra o racismo. Apresentado em quatro exposições temporárias, renovadas a cada cinco meses -, a realização do projeto no Inhotim se constrói com base nos aspectos de quatro Orixás, presenças constantes nas pinturas do artista, e na história e desdobramentos do Museu. Sob o signo de Oxóssi, guardião das matas e Orixá do trono do conhecimento, o Segundo Ato do projeto, intitulado Dramas para negros e prólogo para brancos, abarca um período marcado pelo teatro na formação artística e política de Abdias Nascimento, e na concepção inicial da coleção do Museu de Arte Negra, de 1941 até 1968 – ano em que Abdias iniciou o exílio nos Estados Unidos e na Nigéria.

Exibida na Galeria Mata, a mostra aborda o Teatro Experimental do Negro (TEN) – uma iniciativa da qual nasceu o Museu de Arte Negra, criado por Abdias Nascimento em 1944 -, que tinha como propósito central conquistar espaço para pessoas negras nas artes cênicas. A exposição traz ao público documentos sobre a trajetória do Teatro Experimental do Negro, pinturas de Abdias e trabalhos de artistas como Anna Bella Geiger, Heitor dos Prazeres, Iara Rosa, José Heitor da Silva, Sebastião Januário, Octávio Araújo e Yêdamaria, que integram a coleção do Museu de Arte Negra do IPEAFRO. As atividades do Teatro Experimental do Negro perduraram até 1968 e foi dentro de uma delas, o 1º Congresso do Negro Brasileiro, realizado na cidade do Rio de Janeiro em 1950, que surgiu o projeto Museu de Arte Negra.


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