É limitador atribuir à dupla Angela Detanico e Rafael Lain separadamente uma formação quando se fala em sua produção artística. É mais verdadeiro dizer que ambos são linguistas, designers gráficos, tipógrafos e semiologistas. E, claro, artistas. Afinal, há mais de 20 anos juntos, desde que migraram pela primeira vez, do Rio Grande do Sul para São Paulo, tudo o que foi aprendido era compatilhado. Tanto isso é verdade que chega a ser admirável, inclusive, o fato de um completar o outro de forma precisa quando uma palavra foge ao raciocínio, apesar de dificilmente palavras escaparem dessa dupla que a domina. “Uma parte grande da nossa produção é a criação de tipografias, de sistemas de escritas, nos interessamos muito pelos códigos, pelos alfabetos de diferentes lugares do mundo”, conta Angela. A mostra no Espaço Cultural Porto Seguro, em São Paulo, que se estende até 21 de abril, dá a dimensão disso na obra da dupla.
Hoje casados e com dois filhos, Rafael e Angela vivem em Paris e fazem parte de um grupo seleto de artistas, observados de perto por colecionadores e instituições de todo o mundo. A arte passou a ser a dedicação definitiva dos dois quando, em 2002, receberam uma bolsa no Palais de Tokyo. Já trabalhavam com design gráfico, desenvolvendo projetos e identidades visuais.
Angela e Rafael comentam que a ideia para organizar a mostra parte de um conceito de jardim, mas os japoneses, não os parisienses: “Os da França são muito organizados para nós”, ela brinca e continua: “Se bem que somos até bem ordenados nesses trabalhos, mas acho que a experiência de jardim corresponde mais ao japonês, um pouco mais selvagem”. Todas as obras possuem alguma ligação com a luz. Afinal, é a luz que indica a passagem do tempo, que permeia todas as obras em algum ponto. E é a luz que mantém um jardim vivo e forte.
Os primeiros trabalhos que o público encontra ao adentrar a exposição não dão ainda o tom exato do que será encontrado no andar de cima e no subsolo, além das obras na parte externa do prédio. Apesar de todos terem um diálogo entre si e partirem de códigos, não se invadem e não ditam uma obviedade. Cachoeira do silêncio (2018) foi produzida especialmente para a parede diagonal na entrada do local. Tendo como base uma foto de uma cachoeira que a dupla visitou em Kyoto, é trabalhada verticalmente em cima das linhas de pixels da imagem, desencadeando as cores por toda a parede, explica Angela: “É uma imagem fixa que vai sendo mostrada pouco a pouco”. Rafael conta que o som que acompanha a obra é o original da cachoeira japonesa.

Outra obra que representa um lugar afetivo para os artistas e que é mostrada pela primeira vez é Da Luz ao Paraíso (2018), que remonta o percurso entre os bairros paulistanos, respeitando o traçado das ruas e o relevo do trajeto. No mesmo ambiente, é reproduzida em uma parede Ulysses (2017), trabalho no qual uma figura humana definida por palavras caminha, em referência ao livro homônimo de James Joyce. Na narrativa, a personagem principal caminha pela cidade de Dublin durante 18 horas, redefinindo sua relação com o espaço (a cidade) e o tempo. O texto que constrói o corpo na parede é o livro de Joyce, cada passo é uma página virada.
Essa sensação da modificação do espaço e do tempo pode ser sentida por quem visita a exposição, que está a todo momento trazendo a reflexão sobre essa temporalidade. E é essa a intenção da dupla, podendo-se dizer que concluem esse desejo com sucesso.
Também inédita, a obra Nuvens de São Paulo (2018) esconde um texto de Oswald de Andrade, graficamente transformado em formatos de nuvens ao serem desfocadas, que se deslocam pela enorme tela na parede do mezanino. A literatura se faz muito presente na vida de Angela e Rafael, sendo material de muita pesquisa também: “A nossa biblioteca é uma parte muito importante da nossa vida”, reconhece Detanico. E a linguagem, seja por códigos, pixels, palavras ou imagens, permeia toda a exposição. Tudo se vincula também à origem do casal, que começou a trabalhar em conjunto na área do design gráfico, especialmente com tecnologia, no final dos anos 90.
No mezanino, os artistas explicam a vontade de trabalhar usando a arquitetura do espaço na construção da paisagem: de um lado as nuvens, opostas à cachoreira. No chão, a instalação Onda de Sal (2010), sendo uma figura formada pela palavra “onda”, escrita em um código criado pela dupla: “Uma parte grande da nossa criação diz respeito ao desenvolvimento de novas tipografias. Nos interessamos muito pelos alfabetos, as diferentes formas de escrita pelo mundo”. A geometria das letras nesse alfabeto cria diferentes modulações para a onda.
Já em outra parede, o público se depara com as 28 Luas (2014), uma videoinstalação onde a figura é formada pelo texto (assim como em Ulysses). No caso, a figura de uma lua é construída pelo texto de Galileu Galilei na primeira vez que observou o satélite, cada um dos vinte e oito minutos pelos quais o vídeo se estende forma um estado da lua a cada 28 dias de sua variação durante um ciclo. Outra experiência com a lua espera o público no subsolo: Mares da lua (2018) é uma videoinstalação que reflete em telas compostas por pedrinhas de jardim o nome dos mares presentes no satélite, como Mar da Tranquilidade e Mar das Ilhas. A luz cai sobre posições de letras, como uma gota, também em um código, formando as palavras e se abrindo pelas telas.
Para trazer uma reflexão sobre os problemas contemporâneos que envolvem um espectro geopolítico, Detanico Lain achou pertinente que a obra Ruído branco (2006), que teve estreia durante a Bienal de Veneza, fosse incluída na mostra. Fechando o percurso de 14 obras, várias imagens de satélite de um espaço da Floresta Amazônica são colocadas em camadas, aos poucos isso ganha intrusões de um branco, sendo apagado continuamente, fazendo referência aos problemas do desmatamento e as questões climáticas: “Se em 2006 isso era importante, agora isso é urgente”, dizem os dois quase em uníssono.
O Espaço Cultural Porto Seguro fará uma série de atividades relacionadas à mostra durante o período expositivo, que vai de 19 de janeiro até 7 de abril. Uma dessas atividades, ainda sem data, consiste na apresentação de uma performance pela SP Companhia de Dança, em um espaço reservado na instalação de Quadrado branco, trabalho que se desdobra a partir de três poemas do japonês Kitasono Katue. A obra foi criada em uma residência feita pelo casal no Japão, na qual se propuseram a estudar os textos do poeta.
Detalhes
A exposição “Pinacoteca: Acervo” é feita do acervo de arte brasileira da Pinacoteca, ocupa 19 salas do Edifício Pinacoteca Luz com cerca de mil obras de mais de 400 artistas. Aberta
Detalhes
A exposição “Pinacoteca: Acervo” é feita do acervo de arte brasileira da Pinacoteca, ocupa 19 salas do Edifício Pinacoteca Luz com cerca de mil obras de mais de 400 artistas.
Aberta ao público em 2020, substituiu a mostra de longa duração anterior, “Arte no Brasil: uma história da Pinacoteca de São Paulo”, que ficou em cartaz entre 2011 e 2019.
O PROJETO CURATORIAL
O acervo mescla tempos históricos e técnicas artísticas, debate a representatividade de artistas mulheres, afrodescendentes e indígenas no acervo, investiga as relações entre arte e sociedade, bem como a representação da paisagem e do espaço urbano. Assim, a mostra abandona as recorrentes narrativas lineares e cronológicas, em favor de novas perspectivas sobre a arte.
A exposição reúne itens de todas as coleções que hoje se encontram sob a tutela da Pinacoteca, incluindo os comodatos Nemirovsky e Roger Wright, mais alguns comodatos propostos especialmente para a mostra, como é o caso da obra da Adriana Varejão.
A narrativa expositiva está organizada em três núcleos, cujo fio condutor é a figura do artista. O primeiro, Territórios da Arte, aborda como artistas representam a si mesmos e aos outros, explorando, em seguida, as diferenças entre técnicas artísticas e entre as próprias definições de arte.
No segundo, Corpo e território, as abordagens se modificam e se centram na relação dos artistas com o mundo físico ao seu redor, as visões da paisagem e do ambiente urbano.
O último núcleo, Corpo individual / corpo coletivo, investiga as relações entre o artista e a coletividade, como questões de gênero e identidade.
NOVAS OBRAS NO ACERVO
Por meio de uma Doação do Programa de Patronos de Arte Contemporânea da Pinacoteca de São Paulo, o museu adquiriu, pela primeira vez, em 2019, obras de dois artistas indígenas contemporâneos: “Feitiço para salvar a Raposa Serra do Sol”, de Jaider Esbell, do povo Makuxi de Roraima, e “Voyeurs, Menu, Luto, Vitrine”; “O antropólogo moderno já nasceu antigo”; e “Enfim, Civilização”, de Denilson Baniwa, artista do povo Baniwa do Amazonas, que estão presentes na mostra.
Em 31 de outubro de 2020, a Pinacoteca de São Paulo inaugurou a exposição de longa duração de seu acervo ao mesmo tempo em que abriu a primeira exposição dedicada à arte dos povos originários, “Vexoá: Nós Sabemos”, que ocupou três salas para exposições temporárias localizadas no segundo andar do Edifício Pina Luz e teve a curadoria de Naine Terena.
O PROCESSO DE CONCEPÇÃO DE PINACOTECA: ACERVO
O Núcleo de Pesquisa e Curadoria deu início ao projeto da nova coleção da Pinacoteca de São Paulo, em 2017. A reformulação da exposição de longa duração foi elaborada pelo Núcleo de Pesquisa e Curadoria em conjunto com as outras áreas do museu.
Além de pesquisa de opinião realizada com visitantes do museu, um seminário realizado em 2018, “Modos de ver, modos de exibir”, trouxe muitos subsídios de reflexão para a equipe curatorial, especialmente no que diz respeito aos debates sobre o pós-colonialismo e a representatividade étnica e de gênero.
O projeto contou também com a interlocução com outros profissionais externos à Pinacoteca, como Moacir dos Anjos, Julia Rebouças, Renata Bittencourt e Denilson Baniwa.
Serviço
Exposição | Pinacoteca: Acervo
De 31 de outubro a 31 de dezembro 2028
Quarta a segunda, das 10h às 18h, quintas estendidas das 10h às 20h
Período
7 de setembro de 2024 10:00 - 18:00(GMT-03:00)
Local
Pina Luz
Praça da Luz, 2, Bom Retiro, São Paulo — SP
Detalhes
Detalhes
Depois de atrair quase 1 milhão de visitantes com a exposição “Dos Brasis – arte e pensamento negro” – considerada uma das maiores mostras dedicadas exclusivamente à produção negra nacional -, o Centro Cultural Sesc Quitandinha, em Petrópolis, abrirá, neste sábado (24/5), um novo projeto expositivo que promete grande repercussão. Trata-se de “Insurgências Indígenas: Arte, Memória e Resistência“, que reunirá obras e performances de artistas indígenas aldeados de diferentes partes do país.
A mostra será aberta em etapas – ou em “fogueiras”, terminologia utilizada pela curadoria do projeto. Ela é assinada pela antropóloga e ativista indígena Sandra Benites e pelo curador-chefe do Museu de Arte do Rio (MAR), Marcelo Campos, com a assistência de Rodrigo Duarte, artista visual e ativista socioambiental. O termo fogueiras (TATA YPY, a origem do fogo, em guarani) faz referência às práticas culturais ancestrais de reunião ao redor do fogo. Para a mostra, a palavra se refere aos encontros e debates que abrem cada etapa da exposição.
“É nas fogueiras que há compartilhamento e diálogo aquecido pela força e afeto. É o lugar de encontro de uma comunidade, um lugar de debate, tomadas de decisões, recontar nossas histórias e acordar memórias”, explicam os curadores.
Andrey Guaianá e debate com lideranças indígenas
A primeira fogueira, neste sábado (24/5), será marcada pela inauguração da obra comissionada de Andrey Guaianá Zignnatto, na Galeria Brasil, e por uma conversa entre público, artistas e lideranças indígenas no Salão das Convenções. Participarão Lutana Kokama, Vanda Witoto, Iracema Gãh Té Kaingang e Alice Kerexu Takua, além da curadora Sandra Benites. A atividade, que acontece das 14h às 17h, tem entrada franca. Também haverá transmissão ao vivo através de um link que será disponibilizado em www.sescrio.org.br.
Nascido em Jundiaí (SP), descendente de povos Tupinaky’ia e Gûarini, Andrey é reconhecido por trabalhos que fazem referência ao universo do labor. Neto de pedreiro, do qual foi ajudante quando criança, Andrey utiliza em suas obras materiais como sacos de cimento, tijolos, juntas de argamassa e fragmentos e sobras de intervenções urbanas. Sua intenção é provocar uma reflexão sobre a relação instável e dinâmica que o ser humano estabelece com o meio que o cerca.
Diversidade de povos
A fogueira seguinte será no dia 7 de junho, com o desenvolvimento das obras comissionadas, ou seja, desenvolvidas exclusivamente para a mostra. O público poderá acompanhar o processo de criação dos trabalhos, que envolverá instalações, pinturas e ilustrações. As peças serão criadas por artistas e coletivos de Amazonas, Mato Grosso do Sul, Pará, Pernambuco, Rio Grande do Sul e Santa Catarina, dos povos Desana, Baniwa, Anambé, Guarani Nhandeva, Xavante, Guarani, Mbya e Karapotó.
A composição do projeto prossegue no dia 10 de julho, coincidindo com o Festival Sesc de Inverno, quando serão apresentadas obras audiovisuais, incluindo mapping, e inaugurada a obra da artista Tamikuã Txihi no entorno do lago Quitandinha. Para o dia 9 de agosto está prevista a última fogueira, que completa a exposição, com obras que remetem à arte e à memória. A mostra se estenderá até fevereiro de 2026.
Serviço
Exposição | Insurgências Indígenas: Arte, Memória e Resistência
De 24 de maio a 24 de fevereiro
Terça a domingo e feriados, das 10h às 16h30
Período
24 de maio de 2025 10:00 - 24 de fevereiro de 2026 16:30(GMT-03:00)
Local
Centro Cultural Sesc Quitandinha
Avenida Joaquim Rolla, 2, Petrópolis, Rio de Janeiro - RJ
Detalhes
Uma exposição coletiva multidisciplinar que contempla artes plásticas visuais, com artistas indígenas e periféricos. Serão apresentadas ao público de maneira gratuita, pinturas, fotografias, vídeos e um painel artístico, além
Detalhes
Uma exposição coletiva multidisciplinar que contempla artes plásticas visuais, com artistas indígenas e periféricos. Serão apresentadas ao público de maneira gratuita, pinturas, fotografias, vídeos e um painel artístico, além de uma programação com bate papo, visita guiada e uma oficina de arte.
O projeto visa apresentar uma parte da riqueza cultural e ancestral dos povos originários e conscientizar e mostrar a importância da defesa e preservação das florestas e dos povos indígenas.
A proposta é trazer um pouco do Alto Xingu e do universo do povo indígena Kuikuru para dentro da galeria. As paredes da galeria serão pintadas com pigmentos extraídos de terra coletada no Alto Xingu durante a imersão cultural realizada em 2023. Grafismos da etnia Kuikuru será reproduzidos e artesanatos e utensílios locais serão expostos. Cânticos locais e sonidos da fauna local farão parte da sonorização do ambiente.
Serviço
Exposição | Rio Acima – Uma Jornada pelo Xingu
De 12 de julho a 12 de outubro
Terça a sábado, de 10h às 17h
Período
12 de julho de 2025 10:00 - 12 de outubro de 2025 17:00(GMT-03:00)
Local
Sesc Niterói
R. Padre Anchieta, 56 - São DomingosNiterói - RJ
Detalhes
Claudia Andujar é um paradigma internacional de humanismo construído ao longo de décadas de dedicação a seu trabalho com a fotografia. Seu foco sempre esteve, sobretudo, nos
Detalhes
Claudia Andujar é um paradigma internacional de humanismo construído ao longo de décadas de dedicação a seu trabalho com a fotografia. Seu foco sempre esteve, sobretudo, nos segmentos da população brasileira que viveram à margem da vida, como os migrantes nordestinos, mulheres, afrodescendentes e indígenas do Brasil, entre outros. Nascida numa família judia em 12 junho de 1931 em Neuchâtel na Suíça. Quando ela tinha 5 anos sua família se mudou para a Hungria. Grande parte de sua família era judia. Seu pai foi aprisionado pelos nazistas e morreu num campo de concentração. Com sua mãe, a jovem Claudia se exilou em Nova York durante a Segunda Guerra Mundial, em fuga do Holocausto. Claudine Haas se tornou Claudia Andujar ao se casar com o espanhol Julio Andujar nos Estados Unidos. Em 1955, ela veio morar em vieram para São Paulo.
Desde a infância, Claudia Andujar escrevia poemas e depois passou a pintar até que descobriu a fotografia. “Na pintura, eu me fechava. Na fotografia, eu me abri” Sua entrega política mais surpreendente foi em prol da mudança da consciência coletiva sobre a violência das formas de hegemonia imperantes no país, por grupos que chegaram ao ponto de praticar o genocídio, como no caso dos garimpeiros historicamente espoliados de suas terras e bens e eliminados como povos.
Para Claudia Andujar, a fotografia foi sua arma de “violentação da violência” social, dimensão tomada emprestada de Michel Foucault. O regime ótico de sua produção foi primeiramente marcado pelo compartilhamento de valores éticos necessários ao olhar de compaixão, simpatia e aliança com os dominados e à defesa da vida. Só depois, caberia pensar na excelência estética de sua fotografia.
Sustentabilidade. A conservacionista Claudia Andujar colocou sua câmera a serviço da natureza. Sua produção fotográfica denunciou diante do mundo o genocídio dos povos indígenas da América do Sul, o genocídio, a espoliação das terras e dos saberes indígenas, o garimpo ilegal, inclusive como o envenenamento dos rios amazônico pelo uso do mercúrio.
Ciência. Aconselhada por Darcy Ribeiro, Claudia Andujar se encaminhou para documentar sociedades indígenas sobre o prisma do conhecimento antropológico, incluindo a vida simbólica e a cultura material dos povos originários. Claudia Andujar compõe uma história de mais de 150 anos de emprego da fotografia nesse processo investigativo, ao lado de Sebastião Salgado, Milton Guran, Elza Lima, entre outros – aqui referidos por conta da dimensão estética de suas imagens.
Espiritualidade. Em seus primórdios, algumas sociedades não brancas, consideravam que a fotografia “roubava a alma” dos retratados. Ademais, as sociedades indígenas foram catequizadas por missionários católicos, uma guerra simbólica hoje acirrada pelo exacerbado proselitismo de seitas evangélicas. O delicado respeito ético de Claudia Andujar pelas diferenças e especificidades das crenças resultou numa “arte sacra” sui generis ao registrar com formidável qualidade plástica cerimônias, adereços ritualísticos, cerimônias como a da ingestão dos alucinógenos religiosos, observando teogonias e unidade entre todos os seres que compõe a terra: água, pedras, montanhas, vegetais, animais, um reino da natureza no qual os humanos se inscrevem sem hierarquização de qualquer espécie.
Serviço
Exposição | Claudia Andujar e seu Universo
De 18 de julho a 04 de novembro
Quinta a terça-feira, das 10h às 18h
Período
18 de julho de 2025 10:00 - 4 de novembro de 2025 18:00(GMT-03:00)
Local
Museu do Amanhã
Praça Mauá, 1 - Centro, Rio de Janeiro - RJ
Detalhes
Detalhes
O IMS Paulista abre a mostra Paiter Suruí, Gente de Verdade: um projeto do Coletivo Lakapoy. A exposição apresenta um acervo inédito de fotografias familiares tiradas majoritariamente pelo povo indigena Paiter Suruí, reunidas e digitalizadas pelo Coletivo Lakapoy. Esse acervo inclui cenas e retratos tirados desde a década de 1970, quando as câmeras chegaram ao território pelas mãos de missionários, mas passaram a ser utilizadas pela população local para registrar seu dia a dia. Além do acervo histórico, a exposição apresenta fotos e vídeos atuais, reforçando o papel da fotografia como importante ferramenta de afirmação dos direitos indígenas.
As imagens do acervo histórico estavam armazenadas nas casas das famílias, guardadas em álbuns, caixas e estantes das diferentes aldeias do território indígena, localizado entre os estados de Rondônia e Mato Grosso. Para preservá-las, o Coletivo Lakapoy – grupo formado por comunicadores indígenas, com o apoio de não indígenas, com o objetivo de fortalecer a cultura Paiter Suruí – reuniu, catalogou e digitalizou as fotografias. Em 2021, o projeto foi publicado na revista ZUM e, em 2023, selecionado pela Bolsa ZUM/IMS, de fomento à produção artística. O resultado dessa pesquisa agora se desdobra nesta exposição, que ocupa o 6º andar do IMS Paulista, com entrada gratuita. (Saiba mais sobre o Coletivo Lakapoy no serviço.)
A mostra tem curadoria da líder e ativista Txai Suruí, que integra o Coletivo Lakapoy, da arquiteta, pesquisadora e curadora Lahayda Mamani Poma e de Thyago Nogueira, coordenador da área de Arte Contemporânea do IMS, além de supervisão do cacique-geral Almir Narayamoga Suruí, nome fundamental da história da luta indígena no Brasil. No sábado (26/7), às 11h, os curadores participam de uma conversa com Almir Suruí e Ubiratan Suruí, do Coletivo Lakapoy, no cinema do IMS Paulista. No domingo (27/7), às 15h, um grupo de anciãos do povo Paiter Suruí conduz uma atividade sobre os cantos tradicionais da sua cultura. Os eventos são gratuitos e abertos ao público.
Na exposição, o público encontra reproduções de cerca de 800 fotografias analógicas, da década de 1970 até 2000, que documentam o dia a dia do território, registrando aniversários, casamentos, batizados e competições esportivas, mas também os desafios decorrentes dos contatos com os não indígenas. Este acervo histórico ocupa todas as paredes da exposição, transformando-as em um grande álbum de família, composto de registros informais e pessoais.A mostra apresenta ainda cerca de 20 retratos recentes do povo Paiter Suruí tirados em maioria por Ubiratan Suruí, primeiro fotógrafo profissional do povo e integrante do Coletivo Lakapoy, além de depoimentos e vídeos dos influencers Oyorekoe Luciano Suruí e Samily Paiter. A exposição também apresenta redes, cestos e colares produzidos pelas artesãs do território, valorizando o conhecimento ancestral e artístico das mulheres Paiter Suruí.
Contatados oficialmente pela Funai em 1969, os Paiter Suruí resistiram a invasões, doenças e à omissão governamental até obterem, em 1983, a homologação da Terra Indígena Sete de Setembro, localizada entre os estados de Rondônia e Mato Grosso. Hoje, são aproximadamente 2.000 pessoas, distribuídas em mais de 30 aldeias. Com um modo de vida integrado à floresta amazônica, mas também profundamente transformado desde o contato com a sociedade não indígena, os Paiter Suruí seguem lutando para garantir sua soberania e a integridade de seu território, ameaçado pelo garimpo, pela pecuária e pelo extrativismo predatório. A fotografia e as redes sociais, entre outras ferramentas tecnológicas, foram apropriadas pela juventude como formas de difundir sua cultura, denunciar invasões e fortalecer a resistência.
Txai Suruí comenta a exposição e a importância de preservar essa memória: “A vontade de guardar, registrar e contar a história do povo Paiter Suruí é um sonho que agora se realiza, antes de os últimos anciãos nos deixarem, antes de essa história se ocultar de vez em algum canto esquecido do tempo, na memória dos que viveram essa saga. […] Com as câmeras nas mãos, vemos um olhar diferente daqueles que vieram de fora, podemos notar a espontaneidade e naturalidade de quem tira fotos para um álbum de família. São imagens cheias de amor, carinho e afetividade, mas também de conhecimento, de amor à humanidade e à natureza, de orgulho de pertencer ao povo Paiter Suruí.”
A maioria das pessoas retratadas nas imagens foram identificadas e contatadas, autorizando a reprodução das fotos, num movimento de propor novas lógicas de construir, guardar e expor acervos indígenas, como pontua a curadora Lahayda Mamani Poma: “De modo geral, o contato entre instituições de arte e culturas originárias abre não apenas para conhecimento de novas produções e linguagens artísticas, mas para a reflexão sobre modos de fazer museologia”.
O curador Thyago Nogueira também ressalta que o acervo é um “documento inédito da história Paiter Suruí, muito diferente das imagens oficiais e etnográficas produzidas sobre os povos indígenas brasileiros”. Segundo o curador do IMS, “montar um acervo visual de um povo é uma forma de refazer laços e dinamizar a própria cultura, criando pontes entre as novas e velhas gerações. É também uma forma de mostrar que as fotografias atuam como ferramenta de resistência e afirmação − uma estratégia que pode interessar a outros povos indígenas e grupos minorizados ou excluídos de sua própria história”.
Essa lógica aparece nas legendas da exposição, elaboradas coletivamente pelos Paiter Suruí, com coordenação de Ubiratan Suruí (ver exemplo abaixo). Essa opção reforça o trabalho coletivo, em contraponto à ideia de autoria individual, já que é frequentemente difícil determinar quem bateu cada foto, pois a câmera circulava entre várias mãos. Outro aspecto importante é a presença de intervenções manuais nas fotografias. Rasuras, desenhos e anotações mostram que estas fotografias são fragmentos de memória vivos, e não apenas documentos do passado.
Ubiratan Suruí, integrante do Coletivo Lakapoy, comenta o processo de construção deste acervo: “Essas fotos foram coletadas nas casas de vários Paiter. Quando muitas delas foram feitas, eu era apenas uma criança. Assim, para entender melhor o que estava vendo e o porquê de cada registro, passamos a ir atrás dos personagens ou seus familiares. Às vezes, a fotografia era brincadeira de criança ou até um disparo acidental de alguém que não estava tão acostumado com a câmera. Mas, como a máquina era analógica, com a limitação dos filmes, a maioria dos cliques era de momentos realmente importantes.” Segundo o fotógrafo, o “acervo catalogado já passou das centenas de registros, e cada um deles traz outra centena de narrativas. Quando um álbum novo é encontrado na aldeia, vários parentes se sentam em volta dele para trocar relatos e lembrar do passado.”
Ubiratan é o autor de parte das fotos contemporâneas exibidas na mostra, tiradas a partir de 2024. As imagens mostram o cotidiano atual das aldeias do território Paiter Suruí, marcadas tanto por costumes tradicionais quanto por novas sociabilidades e pelo uso das tecnologias. A exposição traz também vídeos de entrevistas com lideranças e integrantes da comunidade, como Almir Narayamoga Suruí. Nos depoimentos, as pessoas falam da importância do acervo e comentam temas como política, espiritualidade e alimentação.
Outro destaque, feito especialmente para a exposição, é uma projeção audiovisual que documenta o contato de anciãos do território com as imagens históricas do fotógrafo Jesco von Puttkamer. Jesco participou do contato da Funai com os Paiter Suruí na virada dos anos 1960 para os 1970, e, ao longo da vida, reuniu um dos acervos audiovisuais indígenas mais importantes do país, depositado no IGPA da PUC Goiás. A maioria dos Paiter Suruí, no entanto, nunca havia visto as imagens, que retornaram ao território pela primeira vez depois de uma colaboração entre o Coletivo Lakapoy e o IGPA da PUC Goiás.
Em cartaz até 2 de novembro, a exposição apresenta ao público um conjunto inédito de imagens de grande importância histórica e política. Trata-se de um acervo em expansão, que, em 2026, também será exposto no próprio Território Sete de Setembro.
Serviço
Exposição | Paiter Suruí, Gente de Verdade
De 26 julho a 2 novembro
Terça a domingo e feriados das 10h às 20h (fechado às segundas).
Última admissão: 30 minutos antes do encerramento.
Período
26 de julho de 2025 10:00 - 2 de novembro de 2025 20:00(GMT-03:00)
Local
IMS - Instituto Moreira Salles
Avenida Paulista, 2424 São Paulo - SP
Detalhes
Detalhes
A Casa de Cultura do Parque inaugura seu II Ciclo Expositivo, que segue até 26 de outubro. A programação gratuita inclui as exposições “Palavra e gesto“, coletiva na Galeria do Parque, “Carolina Colichio: Substrato“, no Gabinete, e “Antonio Pulquério: É de SANTO, é de BARRO“, no Projeto 280X1020. A abertura contará ainda com performances de Antonio Pulquério e da artista indígena colombiana Julieth Morales.
A coletiva “Palavra e gesto”, com texto crítico de Camila Bechelany, reúne trabalhos de Fabio Miguez, Maíra Dietrich, Marcelo Cipis, Marilá Dardot, Monica Barki e Rafael Alonso. As obras exploram a intersecção entre pintura e escrita, tensionando imagem e texto em poéticas verbo-visuais singulares, que remetem à visualidade vernacular e cotidiana.
No Gabinete, a mostra “Substrato” apresenta a pesquisa de Carolina Colichio (Ribeirão Preto, 1977). A artista utiliza fragmentos e imagens de paisagens em cerâmica e pintura, buscando dar visibilidade a existências e propor uma mediação da matéria. Suas peças, que remetem a fósseis e minerais, convidam à percepção do potencial ilimitado das coisas, fomentando uma natureza comum e interconectada.
O Projeto 280X1020 recebe “É de SANTO, é de BARRO”, de Antônio Pulquério (Campos Sales, CE, 1967). A intervenção, que tem performance de abertura do artista em 2 de agosto, subverte a lógica modular minimalista ao usar módulos artesanais de barro queimado. As peças, que remetem a Espadas de São Jorge ou Santa Bárbara, entrelaçam o terreno e o divino, refletindo o sincretismo cultural brasileiro onde santos católicos e divindades africanas se confundem. O texto de apresentação da mostra é de autoria de Tadeu Chiarelli.
Completa a programação de abertura, às 17h, a performance “ANINPI (Agua y sangre)”, da artista indígena Julieth Morales (Colômbia, 1992). A ação ritual, conduzida com sua mãe, explora a identidade cultural feminina e a ancestralidade. As duas recriam o ritual das Mojigangas, usando telas fúcsia e azul – da bandeira Misak – que simbolizam a luta, fertilidade, água e origem de seu povo. A performance harmoniza memória e presente, conectando mundos espiritual, físico e territorial ao som da música tradicional Misak.
As mostras contam com direção artística de Claudio Cretti e são uma idealização do Instituto de Cultura Contemporânea (ICCo). A CASA DE CULTURA DO PARQUE
A Casa de Cultura do Parque, localizada em frente ao Parque Villa-Lobos, no Alto de Pinheiros, em São Paulo, é um espaço plural que busca estimular reflexões sobre a agenda contemporânea, promovendo uma gama de atividades culturais e educativas que incluem exposições de arte, shows, palestras, cursos e oficinas. A Casa de Cultura do Parque tem como parceiro institucional o Instituto de Cultura Contemporânea – ICCo, uma OSCIP sem fins lucrativos. As duas iniciativas, de natureza socioeducativa, compartilham a mesma missão de ampliar a compreensão e a apreciação da arte e do conhecimento.
Serviço
Exposição | II Ciclo Expositivo da Casa de Cultura do Parque
De 02 de agosto a 26 de outubro
Quarta a domingo, das 11h às 18h
Período
2 de agosto de 2025 11:00 - 26 de outubro de 2025 18:00(GMT-03:00)
Local
Casa de Cultura do Parque
Av. Prof. Fonseca Rodrigues, 1300 - Alto de Pinheiros, São Paulo - SP, 05461-010
Detalhes
Detalhes
Mendes Wood DM tem o prazer de apresentar Nazarethana, exposição individual de Paulo Nazareth, nascido em Nak Borun (território indígena Borun do Vale do Watu [Rio Doce]), Minas Gerais. O artista, que se apresenta como homem velho, traz um vasto corpo de trabalhos inéditos retirados de seus guardados e outros recentes que ocupará todo o galpão da Barra Funda, em São Paulo, promovendo expressivas intervenções no seu espaço através de instalações, fotografias, desenhos, bordados, pinturas, esculturas, objetos e vídeo. Dividida em capítulos, a exposição narra o caminhar do artista somado a trajetória de suas ancestrais: Ana Gonçalves da Silva, sua mãe, e Nazareth Cassiano de Jesus, sua avó, além de divindades, como deuses greco-romanos, africanos e indígenas. Em um diálogo entre as narrativas individuais, familiares e plurais, a mostra cria uma trama entre a oralidade e a história oficial.
A avó de Paulo Nazareth, que trabalhou em fazendas constituídas sobre terras indígenas Boruns, foi enviada por seu “empregador”, (“coronel”, “doutor” delegado, grileiro das terras indígenas) a Colônia de Barbacena (hospital psiquiátrico muito conhecido recentemente devido ao chamado Holocausto Brasileiro revelado há não muitos anos), onde permaneceu internada por duas décadas até ser declarada desaparecida em 1964. Com poucas lembranças de sua mãe, Ana realizou, anos depois, uma viagem organizada por Paulo em busca de suas origens. Em reverencia a sua avó, Paulo Nazareth carrega o seu nome como trabalho de arte preceito e o leva consigo em suas caminhadas ao redor do mundo. “Nazarethana é essa viagem, esse retorno, essa epopeia dentro de nós mesmos. Em Nazarethana, está Nazareth e está Ana, minha mãe e a mãe da minha mãe, juntas, as quais eu levo comigo e sou levado por elas”, pontua o artista.
O prólogo da exposição traz a obra Assembleia de Deuses, um letreiro luminoso que anuncia não somente a pluralidade de deuses, mas reflete a diversidade humana, e a possibilidade de modos de existências múltiplas. Inserido no espaço da galeria, o letreiro transforma o ambiente em templo – casa de reza, lugar de encontro com o intangível, reforçando a arte como um lugar de atingir o não físico e material. Nas palavras do artista, “A Assembleia de Deuses é um letreiro, um anúncio, que se torna instalação, pois ele transforma o lugar e é uma brecha, uma fresta, um desvio do lugar comum.”
A relação com o imaginário coletivo e afetivo reaparece em Cinema tropical, instalação composta por um vídeo e cartazes de filmes. A obra cria uma relação entre ícones visuais da paisagem tropical – imagens e vídeos de coqueiros e palmeiras – criando um cenário imaginado que poderia ser qualquer lugar nos trópicos ou próximo a eles. Projetado para ser exibido durante o inverno, o trabalho carrega imagens para “aquecer corações”, em um cinema como uma promessa de concretude do sonho.
Em diálogo com o seu passado, Paulo Nazareth aposentou há alguns anos as havaianas e passou a produzir os seus próprios calçados, os quais também recebem o nome de Nazarethana – até então, o artista estava andando com os pés descalços e ainda é possível vê-lo caminhando por aí desse modo. Essa prática remonta a história de sua mãe que, quando pequena, não tinha sapatos para usar na fazenda em que trabalhava e confeccionada seus próprios calçados a partir de sobras de couro. O gesto se repete agora como ação artística e política, um fazer que carrega o trabalho de gerações, inclusive do próprio artista, que também trabalhou nessa fazenda durante a juventude. “É esse jogo: Havaiana, sandália usada inicialmente por trabalhadores, bem comum no canteiro de obras: nos pés de pedreiros, serventes, camponeses e trabalhadoras domésticas, e Nazarethana, que seria essa sandália feita por mim mesmo, e ainda tá sendo adaptada, experimentada, muitas vezes me verão descalço enquanto a sandália ainda vem sendo feita… Havaiana remete a um lugar e Nazarethana a outro, ambas são promessas”, esclarece. Nazarethana é mais que tudo uma conversa entre o artista, sua mãe, a mãe de sua mãe e seus infantes, Nazareth aprende consigo enquanto jovem e menino, aprende com a maestria de sua mãe, desde menina até a velhice, e aprende com sua avó em espírito que partiu e se faz presente.
Ao longo da mostra, figuram ainda um caderno de desenhos de sua mãe feitos todos os dias nos últimos meses, uma série de bordados, desenhos e esculturas em bronze de divindades diversas. A conversa com sua herança afro aparece em toda a mostra e é retomada nas fotografias marcadas com pontos riscados feitos com pó de pemba (as fotos são do acervo imaterial do Centro Espírita Caboclo Pena Branca da Comunidade Quilombola Namastê na cidade de Ubá, Minas Gerais). Esses trabalhos expandem o universo da Nazarethana e conduzem ao seu epílogo, que não é o fim, mas movimento de cura e reconfiguração: um convite a imersão em um espaço fechado. No epílogo dessa epopeia, uma piscina de areia dialoga com um bordado na parede onde se lê “Nós podemos nadar / We can swim”. Como parte de sua história, Paulo ainda não aprendeu a nadar por receio de sua mãe dos espíritos das águas e o medo imposto pelos invasores grileiros das terras – contam que o dia em que enviaram Nazareth ao manicômio, ela caminhava em direção ao rio com a filha nos braços, e lutou para que a criança não fosse levada. No piso, bloquetes advindos de Dakar, que representam símbolos da realeza e o baobá que traz a memória ancestral, complementam o ambiente. “Em frente a Ilha de Gorée, Senegal, de onde inúmeras pessoas foram “partidas”, escravizadas y enviadas as Americas, atravessando o Atlântico convertido em cemitério onde muitas adoecidas foram jogadas na boca do Oceano y seus habitantes”, pontua Nazareth.
Nazarethana apresenta-se como uma cartografia das narrativas de Nazareth e de suas linhagens –familiares, divinas e territoriais que atravessam e são atravessadas por histórias locais e universais. Ao reunir o que o artista define como “arte de preceito” – aquilo que é feito como fala, reza, ato sagrado e existência múltipla e “multiversa, pluriversal” –, a exposição propõe um espaço-tempo de comunhão, reflexão e aprendizado de “tempo plural”.
Serviço
Exposição | Nazarethana
De 10 de agosto aa 28 de setembro
Terça a sábado, das 11h às 19h
Período
10 de agosto de 2025 11:00 - 28 de setembro de 2025 19:00(GMT-03:00)
Local
Mendes Wood DM
Rua Barra Funda, 216, São Paulo – SP
Detalhes
Detalhes
A obra de Joseca Mokahesi Yanomami (1971, Rio Uxi u, Terra Indígena Yanomami, Brasil) tem como ponto central a tradução da cosmologia yanomami em narrativas visuais, especialmente no desenho, dando corpo às histórias dos tempos ancestrais e às múltiplas dimensões da terra-floresta, conceito que vai além de um espaço físico e une a floresta, os rios, os espíritos, os animais e os humanos em um sistema vivo e interdependente, visível somente aos xamãs. É nessa atmosfera quase onírica que a Almeida & Dale inaugura, a partir de 16 de agosto, Urihi mãripraɨ – Sonhar a terra-floresta, individual do artista com curadoria de Bruce Albert, antropólogo franco-marroquino e autor, junto a Davi Kopenawa Yanomami, dos livros A Queda do Céu (2015) e O Espírito da Floresta (2022).
Os desenhos e telas de Joseca apresentam, com minúcias e cores vibrantes, entidades, lugares e episódios evocados pelos cantos dos grandes xamãs de sua comunidade, nos conduzindo por universos onde humanos e não-humanos se entrelaçam em uma rede complexa, cujas imagens são reveladas aos xamãs por meio de sonhos e cantos. Inspirado pelos seus sonhos, o artista transpõe, sobre papel ou tela, suas próprias imagens sonhadas, alcançando os múltiplos universos que constituem a “terra-floresta-mundo”, urihi a. Assim, seus sonhos se transformam um após o outro em “peles de imagens” (utupa siki) que nos dão acesso à saga dos ancestrais do “primeiro tempo” yanomami.
A exposição Urihi mãripraɨ – Sonhar a terra-floresta nos apresenta cerca de 30 obras que são espécies de “capturas de tela” oníricas, stills do filme metafísico desenrolado pela trama narrativa ancestral dos cantos xamânicos yanomami. “Para tornar visível e fazer conhecer o poder desse pensamento onírico para além de seu próprio mundo, Joseca Mokahesi Yanomami se apropriou de certos traços de nosso realismo figurativo com o qual foi confrontado na escola de sua comunidade quando adolescente. Desde então, ele passou a transformálos a serviço de um estilo radicalmente original que poderíamos qualificar de “realismo xamânico”, em alusão ao célebre “realismo mágico” literário”, explica o curador Bruce Albert.
Parte fundamental da mostra, os trabalhos da série Urihi a në mari vêm acompanhados de títulos-descrições escritos por Joseca na língua yanomami e que partilham sua cosmovisão. Para além do gesto artístico, sua produção é também um movimento de tradução entre mundos. Trata-se de uma linguagem híbrida, mas enraizada na cosmologia yanomami, que visa comunicar com os mais jovens de sua comunidade e sensibilizar os não-indígenas (napë pë) para a beleza, profundidade e urgência de preservar esse modo de vida ameaçado.
Serviço
Exposição | Urihi mãripraɨ – Sonhar a terra-floresta
De 16 de agosto a 11 de novembro
Segunda a sexta-feira, das 10h às 19h, sábado, das 11h às 16h Entrada gratuita
Período
16 de agosto de 2025 10:00 - 11 de outubro de 2025 19:00(GMT-03:00)
Local
Almeida & Dale
Rua Fradique Coutinho 1360 | 1430, São Paulo - SP
Detalhes
Detalhes
o Museu A CASA do Objeto Brasileiro recebe a exposição Xingu – Reflexos Indígenas no Design Contemporâneo, que revela o resultado de um processo colaborativo entre a designer Maria Fernanda Paes de Barros, da Yankatu, e os artesãos do povo Mehinaku, do Alto Xingu (MT), em uma potente confluência entre o design e os saberes indígenas. Realizada pela Yankatu e pelo Ministério da Cultura, por meio da Lei de Incentivo à Cultura, a ação conta com patrocínio da Sherwin-Williams do Brasil.
“A ideia do projeto nasceu há cerca de cinco anos, a partir de uma imersão que realizei sozinha na aldeia Kaupüna para desenvolver uma coleção de peças em parceria com a comunidade. Durante esse processo, tive a ideia de fazer o tingimento natural de fios de algodão utilizados na produção de algumas peças — o que despertou neles um interesse genuíno pela técnica. A partir dali, ficou evidente o potencial de um diálogo que respeitasse profundamente os modos de fazer tradicionais, sem modificá-los, mas ampliando suas possibilidades de aplicação em novas criações”, explica Maria Fernanda, idealizadora do projeto.
A exposição propõe uma imersão do visitante pelo território artístico dos Mehinaku, reunindo objetos tradicionais – como bancos zoomorfos, cestarias e esteiras – e peças inéditas desenvolvidas em conjunto com a designer. Nas novas obras, Maria Fernanda evidencia o buriti, palmeira nativa que é a principal matéria-prima do trabalho das mulheres da etnia, e também os fios de algodão que ganham tingimentos naturais a partir de cascas de árvores nativas do entorno da aldeia. As obras refletem uma convivência imersiva e uma escuta sensível ao tempo e às necessidades da comunidade. Segundo a designer, a exposição apresenta como as criações ganham corpo, e o repertório da arte e do design brasileiros se expande, quando as interações são construídas de maneira ética, cuidadosa e horizontal.
Oficinas de tingimento natural aproximam técnicas ancestrais e inovação sustentável
Durante o processo de criação, o projeto promoveu oficinas de tingimento natural com mulheres da aldeia Mehinaku, reforçando seu caráter formativo e colaborativo. Para conduzir as atividades, foi convidada a pesquisadora Maibe Maroccolo, da Mattricaria, uma especialista em tingimento que tem mapeado o potencial tintorial de diferentes biomas brasileiros. A oficina propôs um intercâmbio de conhecimentos entre as técnicas ancestrais de tingimento já utilizadas pelos artesãos e práticas contemporâneas, despertando interesse e protagonismo das artesãs. O resultado gerou uma paleta de 12 cores que aparecem entrelaçadas em diferentes obras da mostra.
Além da exposição, o público terá acesso a um minidocumentário inédito, que narra a trajetória do projeto e apresenta seus principais agentes e processos criativos. Também será disponibilizado gratuitamente um catálogo virtual, que contextualiza as ações do projeto e a parceria entre a Yankatu e os Mehinaku, com imagens, depoimentos e reflexões sobre o fazer artesanal e suas transformações.
A expografia da mostra será feita com tonalidades do catálogo da Sherwin-Williams, líder mundial em tintas e revestimentos, cuidadosamente escolhidas para valorizar as obras e aumentar o destaque das peças. “Acreditamos no poder da cor como ferramenta de expressão e conexão, e é uma alegria as nossas estarem presentes na exposição Xingu, ajudando a contar essa história tão rica de saberes, trocas e criatividade. Projetos como esse reforçam a importância do diálogo entre passado e presente, tradição e inovação, e nos mostram como a cultura pode inspirar novas formas de ver e viver o design.”, afirma Patrícia Fecci, gerente de Color Marketing e especialista em cores da Sherwin-Williams.
A mostra foi pensada para garantir plena acessibilidade ao público. O minidocumentário contará com tradução em LIBRAS (Língua Brasileira de Sinais), os textos da exposição estarão disponíveis em Braile, e o espaço expositivo do Museu A CASA dispõe de rampas e banheiros adaptados para pessoas com mobilidade reduzida. Além disso, os monitores foram capacitados para atender visitantes com deficiências cognitivas, promovendo uma experiência acolhedora, inclusiva e sensível às diferentes formas de percepção.
A exposição Xingu – Reflexos Indígenas no Design Contemporâneo poderá ser visitada gratuitamente no Museu A CASA (Av. Pedroso de Morais, 1216 – Pinheiros, São Paulo/SP), de quarta a domingo, das 10h às 18h, e fica em cartaz até o dia 26 de outubro.
Serviço
Exposição | Xingu – Reflexos Indígenas no Design Contemporâneo
De 17 de agosto a 26 de outubro
De quarta a domingo, das 10h às 18h
Período
17 de agosto de 2025 10:00 - 26 de outubro de 2025 18:00(GMT-03:00)
Local
Museu A CASA do Objeto Brasileiro
Avenida Pedroso de Morais, 1216, Pinheiros, São Paulo, SP
Detalhes
Detalhes
O Museu da Inconfidência apresenta a exposição “À Espreita do Desvio“, do artista mineiro Ricardo Homen. A mostra apresentará obras de diferentes formatos e períodos da carreira do artista.
Na fronteira entre o rigor estérico e o imprevisível, Ricardo Homen constrói um universo onde linhas, cores e estruturas revelam uma inquietude. Sua obra não se contenta mais com a repetição, agora cria-se um campo de tensão onde nascem formas que se fundem e dão vida a um “terceiro elemento”: o que era retilíneo, se desvia; o que era previsível, se espreita.
Não se trata de abandonar a linguagem construída, mas de submetê-la a uma torção interna. Formas antes definidas agora se refratam, como se buscassem respirar e expandir-se para além de seus limites. Essa emancipação da rigidez não é um acidente, mas uma busca consciente — um ato de desafio ao ciclo infinito do “refazer o mesmo”.
Serviço
Exposição | Xingu: Reflexos Indígenas no Design Contemporâneo
De 17 de agosto a 26 de outubro
Quarta a domingo, das 10h às 18h
Período
17 de agosto de 2025 10:00 - 26 de outubro de 2025 18:00(GMT-03:00)
Local
Museu A CASA do Objeto Brasileiro
Avenida Pedroso de Morais, 1216, Pinheiros, São Paulo, SP