André Toral

Em “Relatório de Viagem”, exposição que inaugura neste sábado, 14 de junho, na Graphias, André Toral reúne um conjunto diverso de trabalhos produzidos a partir de um encontro concreto – e simbólico – com o México. Combinando estratégias de reportagem visual, garimpo iconográfico e sobreposição de estereótipos oriundos da memória coletiva, o artista estabelece um painel difuso, sobrepõe tempos históricos distintos e explora um leque amplo de experimentações compositivas e técnicas. Como num jogo de memória, ou numa lógica de quebra-cabeça, o espectador se vê diante de uma espécie de charada visual. 

Toral não apenas associa ícones distintos (como uma indígena de costas, com traje e penteado típico, seres oriundos da mitologia mexicana, fragmentos da arquitetura colonial do país, lutadores mascarados que mais parecem super-heróis ou a indefectível paisagem de cactos), como os desloca de contexto. Um mesmo signo transita de trabalho em trabalho, passeia pelos diferentes suportes, mantendo uma aura de mistério, e dando vazão a uma profunda experimentação formal, que retira dos quadrinhos e da gravura (as duas principais atividades do artista) seus principais elementos.

Para compor aquilo que chama de “seu relatório de viagem”, todas as suas armas parecem ter sido convocadas, num interessante amálgama de técnicas e referências, criando um fluxo imagético contínuo, porém díspar. Água-tinta, água-forte, desenhos preparatórios, aquarelas sobre “impressões fantasmas” (obtidas sem entintar novamente a matriz, capturando apenas as marcas sutis das impressões anteriores), somadas a uma aventura ainda recente pelo campo da pintura (representada por quatro telas à óleo) compõem essa sedimentação de memória imagética de uma cultura da qual só podemos nos aproximar pelas beiradas, propositalmente deixando escapar muito por entre os dedos. Nas palavras de Toral, trata-se de um universo a ser tomado como referência, um motivo escolhido para, “como numa colagem”, elaborar “uma espécie de etnografia do imaginário, pessoal e coletiva, imprecisa e ao mesmo tempo baseada em fontes, contraditória e ordenada como são os sonhos e as memórias”. 


Cadastre-se na nossa newsletter

Deixe um comentário

Por favor, escreva um comentário
Por favor, escreva seu nome