Grada Kilomba
Grada Kilomba. Foto: Leca Novo

Grada Kilomba é a artista mais feliz do mundo. Ao menos foi assim que se sentiu logo após a primeira performance de O Barco – Ato II, na tarde do dia 7 de fevereiro, no Inhotim. A apresentação, exclusiva para a equipe do museu e jornalistas, antecedeu as duas performances abertas ao público no fim de semana, dias 8 e 9 de fevereiro.

A artista portuguesa com origens em São Tomé e Príncipe e Angola, inaugurou, em abril de 2024, O Barco, obra que combina poema, instalação de grande escala e performance. No centro da obra, 134 blocos de madeira queimada estendem-se por 32 metros, compondo a estrutura que remete aos porões das embarcações que transportaram milhões de pessoas escravizadas durante séculos de tráfico transatlântico. “Durante centenas de anos a escravatura e o colonialismo foram o centro da nossa história global e uma das histórias mais longas e mais horríveis da humanidade, mas que não está representada e não está presente em lado nenhum”, afirma Grada.

Entre os blocos, os visitantes percorrem os versos de O Barco, gravados em tinta a óleo dourada. O poema foi traduzido para seis idiomas: Yorubá, Crioulo de Cabo Verde, Kimbundu, Português, Inglês e Árabe da Síria.

Violência e repetição são temas centrais no trabalho da artista. O barco que ela evoca não pertence apenas ao passado, ele também faz referência ao presente, em que migrações forçadas são recorrentes. “Eu trabalho sempre com a temporalidade. Não há passado, presente e futuro. O tempo coincide. Então é esse exercício de compreender que, se nós não compreendermos e contarmos a história devidamente, a sua barbaridade repete-se”.

Criada em 2021, a obra esteve em Portugal e na Inglaterra antes de ser recriada para o Brasil. Em vez de transportar os blocos, a equipe optou por produzi-los localmente. Júlia Rebouças, diretora artística do Inhotim, destaca que esse processo fortaleceu o vínculo da equipe com o trabalho. O museu possui ateliês dedicados a desenvolver projetos com os artistas, o que garante autonomia na manutenção da instalação. Caso uma peça precise ser substituída, há pleno domínio sobre sua recriação.

A escultura interage com três atos performáticos, apresentados ao longo do período de exibição. O primeiro, em abril de 2024, coincidiu com a inauguração no Brasil e contou com cantores de gospel e ópera, bailarinos clássicos e percussionistas, em sua maioria portugueses.

Para o Ato II, um novo grupo foi formado: 19 artistas, dos quais 12 brasileiros moradores de Minas Gerais. “As minhas peças de arte são, acima de tudo, objetos vivos. Então, não me interessa apenas trazer uma escultura imensa de 32 metros, mas criar um diálogo com o território”. Apesar de a nova formação aproximar a performance do Brasil, seja pelo sotaque dos artistas, seja pelo ritmo do trio de percussionistas, Grada não está interessada “nesses nacionalismos”. Para ela, a performance traz um vocabulário completamente diferente, um vocabulário diaspórico que ultrapassa essa construção artificial de nação.

Grada teve quatro dias de ensaio com o coletivo que ela nunca tinha visto ou ouvido ao vivo. “Depois desses quatro dias, o grande exercício é realmente construir essa humanidade e construir uma massa um organismo. Então eu diria que eu vejo mais do que Brasil, Portugal, Angola etc, eu vejo como os corpos fluem, como a arte permite que os corpos abandonem muitas destas construções que são muitas vezes extremamente violentas”.

Integrar a comunidade local à obra envolve responsabilidade histórica, distribuição de oportunidades e equidade. A felicidade de Grada vem dessas trocas. “É muito significativo, porque depois o ensemble estende-se por quilombos, comunidades, terreiros, passa por uma série de grupos diferentes que habitam este museu. Isso é extraordinário. Acho que eu sou a artista mais feliz do mundo”.

Para ela, a performance precisa ser vista e sentida várias vezes. Apesar de considerar um trabalho simples e minimalista, ele lida com temas dolorosos e complexos. “Eles [os artistas] estão a fazer esse enterro digno que nunca foi feito, esse luto digno, essa compreensão de trauma coletivo que nunca teve um lugar e um espaço para ser chorado”.

O impacto de O Barco transborda o espaço expositivo. As pessoas escrevem, enviam cartas e presentes a Grada. Naquela tarde, ela havia ganhado abacates.


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