Instalação de Elisa Bracher, com varais de ferro dos quais pendem seus desenhos. Foto: Eduardo Simões
Instalação de Elisa Bracher, com varais de ferro dos quais pendem seus desenhos. Foto: Eduardo Simões

Vinte e cinco anos após realizar sua primeira individual na Pinacoteca de São Paulo, Elisa Bracher cria um diálogo com o espaço expositivo, marca de sua obra, por meio de três instalações, de madeira, papel e chumbo, que constituem a mostra Formas vivas, em cartaz na Pina Estação. Com curadoria de Pollyana Quintella, Elisa retoma outros aspectos caros à sua produção, nomeadamente as questões de peso, equilíbrio e composição.

Em seu texto curatorial, Pollyanna destaca “a capacidade [de Elisa] de se engajar intimamente com os materiais e suas qualidades. Depois, seu modo de lidar com o próprio corpo da instituição como matéria de trabalho. Para Bracher, não há obra antes do espaço, só há obra a partir do espaço, em resposta a ele”, escreve. A artista corrobora a visão da curadora: “Toda exposição que eu faço é muito moldada e determinada pelo espaço. Fico trabalhando no ateliê, mas preciso, na finalização, me relacionar com o ambiente, criar diálogos possíveis”, afirma, em entrevista à arte!brasileiros.

Alguns dos trabalhos em exibição, feitos especialmente para Formas vivas, vieram, por sua vez, de investigações artísticas que Elisa já fizera em seu ateliê, na Vila Leopoldina, em São Paulo. Novo corpo, uma instalação com madeira e pedra, por exemplo, partiu de uma experiência exibida no ano passado na Galeria Estação, na mostra Terra de ninguém. O  trabalho inédito, no entanto, tem dimensões expressivamente maiores. E a elas foram acrescentadas fotografias em preto e branco, superposições da densa vegetação da Serra da Mantiqueira, feitas por Elisa em São Bento do Sapucaí, no interior do estado.

“As fotografias criam um contraponto com a instalação, remetem a um antes e um depois, à madeira e à questão de onde ela vem e o que ela vira”, comenta Elisa, lembrando que mostrara fotografias de sua autoria somente uma vez em sua carreira, quando lançou em 2008 o livro e exposição A cidade e suas margens, no Museu da Casa Brasileira.

Na instalação, Elisa usa madeiras de demolição, compradas ou recolhidas em fazendas antigas do interior de São Paulo, misturadas a pedaços de antigos trabalhos, num processo de acumulação iniciado desde o começo de sua trajetória. As pedras são também sobras de obras anteriores e haviam sido compradas em Cachoeiro de Itapemirim, no Espírito Santo. Nesse longo processo de acumulação, os materiais ficam no ateliê de Elisa, até que surjam conexões como as que vemos agora na Pina Estação. Para a artista, ainda que remeta a um processo destruidor e violento, Novo corpo “mostra que há composições possíveis, é um trabalho otimista, eu diria”.

Noutra sala, Elisa exibe um varal de barras de ferro – a estrutura foi levada do ateliê para o espaço expositivo – de onde pendem, para secagem, desenhos que nunca haviam sido mostrados daquele jeito, formando um “corpo escultural”, como descreve comunicado de imprensa da Pina. Nos desenhos, há uma mescla bastante orgânica de contornos e áreas preenchidas, em tons vermelhos, amarelos e negros. Como contraponto, a artista apresenta dois vídeos que aludem aos desenhos, e em que se observa um fluxo de líquidos dentro de uma tripa, encapsulada por um vidro.

“O filme nasceu há cerca de oito anos, dos desenhos, numa tentativa de materializá-los, como se a materialidade própria deles já não fosse suficiente para mim”, conta Elisa. O vidro, explica ela, havia sido descartado de outra série de trabalhos. Por sua vez, as tripas, de boi, foram compradas há cerca de 20 anos, no Mercado de Pinheiros. “Juntei, repentinamente, as ideias. Chamei um amigo para filmar, para termos enfim um produto, e não somente uma prática de ateliê”, explica. A própria Elisa impulsionou no recipiente uma mistura de pigmento e óleo dentro da tripa, e, fora dela, uma combinação com óleo, novamente, e ainda uma tinta branca e água, “para criar esses elementos que não conversam entre si”.

Na terceira sala expositiva da Pina Estação, Elisa explorou a maleabilidade de folhas de chumbo, sustentadas por cabos de aço. Primeiramente, ela abriu os rolos e foi batendo com um martelo de borracha. Depois, as folhas foram novamente novamente enroladas para poderem ser levadas aos andaimes.

 

“Mudamos diversas vezes a composição, até chegar ao resultado agora apresentado”, conta a artista. “Vieram à tona questões como a espessura das folhas, se elas seriam penduradas ou não, como deformá-las, enfim, um diálogo que eu adoro fazer, porque gosto de trabalhar com a indústria. Na concepção da expografia, estamos, em uma conversa, a sala de exposição, a indústria e eu, discutindo até chegar a uma solução satisfatória desse trabalho que é coletivo”.

 

SERVIÇO
Formas vivas, de Elisa Bracher
Curadoria: Pollyana Quintella
Até 17/09
Pina Estação – Largo General Osório, 66, São Paulo – SP
Visitação: de quarta a segunda-feira, das 10h às 18h
Entrada gratuita

 


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