Obra de Alina Okinaka, presente na exposição "O curso do sol", na Gomide & Co. Foto: Edouard Fraipont
Obra de Alina Okinaka, presente na exposição "O curso do sol", na Gomide & Co. Foto: Edouard Fraipont

crítica de arte e historiadora Aracy Amaral participa nesta quinta-feira (19), a partir das 19h, de uma conversa com o escultor e ceramista Megumi Yuasa (São Paulo, 1938), um dos artistas participantes da exposição O curso do sol, em cartaz até 14 de novembro, na Gomide & Co. A mediação será de Yudi Rafael, curador da mostra.

A coletiva, que teve consultoria de Roberto Okinaka, tomou emprestado para seu título o primeiro verso de um poema de Matsuo Bashō (1644-1694), um poeta peregrino, “um viajante, uma figura perfeita para se pensar sobre a ideia de trânsito [de pessoas, imagens e ideias] proposta por O curso do sol“, diz Rafael. São mais de 40 artistas, por meio dos quais se busca “apresentar narrativas da arte na diáspora japonesa da América Latina a partir das viagens de artistas nipo-brasileiros pela região”, segundo comunicado da galeria.

Também atravessam a mostra “os diálogos culturais que marcam o abstracionismo informal, lírico e caligráfico do período do pós-guerra, expandindo-se, ainda, para outras trajetórias ligadas a vertentes artísticas modernas e contemporâneas”, diz o texto. Para tanto, Rafael se debruçou sobre a produção pictórica e escultórica de artistas nipo-diaspóricos de Brasil, Argentina, México e Japão, “além de latino-americanos cujas obras entrelaçam-se com a cultura visual japonesa a partir de referências culturais e políticas locais”, prossegue a nota da Gomide & Co.

O curso do sol se estrutura em dois eixos: um vertical – Grupo Seibi, associação artística fundada em 1935 e, em torno da qual, reuniram-se nomes como Manabu Mabe, Tomie Ohtake e Massao Okinaka, “num contexto de muita precariedade, porque muitos desses artistas vieram para cá na infância e trabalharam na lavoura de café”, aponta Rafael; e outro, horizontal, que diz respeito à constelação transnacional da arte abstrata no pós-guerra, e que tem em Kazuya Sakai, da Argentina, um dos exemplos presentes na exposição. Há também artistas não nipônicos, como Adriana Varejão, León Ferrari, Mira Schendel e Rivane Neuenschwander, entre outros.

CONCEPÇÃO

Em conversa com a arte!brasileiros, Yudi Rafael conta ainda que as primeiras conversas para conceber a exposição tiveram início no ano passado. Segundo ele, o galerista Thiago Gomide “tem muito interesse tanto na arte japonesa em si, quanto na produção dos artistas de origem japonesa, no Brasil e restante da América Latina. E esta noção das diásporas está no centro dos debates da arte hoje em dia, mas, agora, em O curso do sol, ela destoa de posicionamentos nacionalistas, vai além, e a gente busca outras genealogias”, pondera.

Já Luisa Duarte, diretora artística da galeria, destaca que O curso do sol “se dá dentro de um programa, dentro da Gomide & Co, que tem se voltado para temas afins à América Latina. Então temos uma singularidade, uma exposição extremamente importante que acontece concomitantemente à 35ª Bienal de São Paulo, de modo similar ao que a galeria fizera há dois anos, com a mostra Nosso Norte é o Sul, montada ao mesmo tempo que a Bienal anterior”, lembra Luisa. “A exposição se dedicava a toda uma produção pré-colombiana que já tinha ali, no seu DNA, uma espécie do que viria ser um certo construtivismo geométrico no século XX. Fazia essa intercessão entre essas obras muito remotas, oriundas da América Latina, e uma produção moderna de caráter construtivo”.

Rafael ressalta que as obras expostas em O curso do sol têm particularidades de ordem cultural, ligadas ao modo de pensar e até mesmo à estrutura da língua desses artistas japoneses que vieram para o continente latino-americano. O objetivo de Rafael foi dar maior “atenção ao abstracionismo formal” que “teve uma presença forte no Brasil nos anos 1950 e 1960”, lembra o curador, e que permeia o conjunto de obras em exibição, de autoria ainda de artistas aqui radicados, como Flavio-Shiró (Sapporo, Japão 1928), extrapolando para nomes de Bolívia, Peru, México etc.

Luisa salienta ainda que o processo de feitura da exposição envolveu uma troca periódica Rafael e a equipe da Gomide, como um todo. “Em que eu tinha uma voz, o Thiago Gomide tinha outra, então é realmente um fruto dessa parceria feita ao longo dos meses, com uma rotina de encontros semanais”, conta. Já Rafael aponta que O curso do sol não “uma exposição exaustiva”, no sentido de abrangência. Temos um partido curatorial, até porque não daria para abrigar todo mundo. Muitas figuras importantes não entraram porque a gente tem os limites de tempo e de espaço”, pondera o curador.

“A gente pega um período específico, que são as décadas de 1950 e 1960, um momento fértil, em que a gente encontra diálogos na América Latina toda, dentro da abstracionismo. O Kazuya Sakai, na Argentina; o Manabu Mabe, Shiró e Tomie no Brasil, uma marca muito forte da diáspora japonesa no abstracionismo informal no continente”, conclui.

SERVIÇO
O curso do sol
Curadoria: Yudi Rafael
Até 14/11
Gomide & Co – Avenida Paulista, 2644 – São Paulo (SP)
Horários: de segunda a sexta, das 10h às 19h; sábados, das 11h às 17h
Entrada gratuita

 


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