Regina Parra, detalhe de "The sinful", 2022. Foto: GRAYSC/Cortesia Galeria Jaqueline Martins

Encerramos 2022 com a esperança de termos um Brasil mais plural. Um Brasil que exija cuidados com a saúde, educação e cultura, onde cada um seja um pouco responsável por seu papel como cidadão.

A arte!brasileiros, que completa 12 anos, trabalhou na pandemia e depois, para comunicar a maior quantidade  de iniciativas que ocorreram no mundo da arte contemporânea e os esforços que instituições públicas e público-privadas fizeram para não desmontar equipes e projetos. Foi atrás de exposições em museus, galerias, espaços alternativos e se transformou, nos últimos tempos, no principal canal de divulgação de mídia segmentada, focada na arte como produtora de uma das mais ricas sínteses de linguagem do indivíduo contemporâneo.

Se concordarmos com as afirmações contidas em A salvação do belo, do filósofo coreano Byung-Chul Han, que cresceu e desenvolveu toda sua literatura na Alemanha, e com sua denúncia de que vivemos numa sociedade cada vez mais propensa à suposta leveza do “liso” – até o próprio Jeff Koons, provavelmente o artista mais vendido da atualidade, a valores inconfessáveis, afirma que a única reação que espera dos observadores de suas obras é apenas um “uau” – nosso papel se torna cada vez mais importante (leia-se mais difícil e solitário). “Um juízo estético pressupõe uma distância contemplativa. A arte do liso a suprime.” (p. 10) 

Não se fala aqui do liso presente no minimalismo, movimento que surgiu nos anos 1950 e 1960 como resultante da industrialização e contemporâneo ao abstracionismo, que valorizava o interesse pela geometria, pelas formas lineares e pel a cor, querendo romper com a poluição visual. Falamos do liso no sentido de aceder ao fácil, “às listas”, ao querer “ver tudo rápido”, “ouvir tudo rápido”, “clicar e ser clicado como essência de prazer”. O “in” e o “out” sugeridos por bloggers de plantão. 

“A crise da beleza consiste hoje justamente em que o belo é reduzido à sua subsistência, ao seu valor de uso ou de consumo. O consumo aniquila o outro [presente na obra], O belo da arte é uma resistência a ele.” (p. 98)

Ser capazes de aceitar a arte como produtora de sentidos, sejam eles agradáveis ou perturbadores, implica em aceitar nossa vulnerabilidade e que ela pode ser geradora de mais vida. Falamos muito sobre isto a partir da nossa visita à 16ª Bienal de Lyon, intitulada Manifesto da fragilidade

Como editores, críticos, pesquisadores e observadores, tentamos produzir um trabalho em que a informação está a serviço da reflexão. Da formação. Às vezes difícil de ser digerida. 

Assim, estamos orgulhosos de termos tido um crescimento significativo não apenas no alcance e na penetração do nosso trabalho, dos nossos seguidores e sim, na abrangência de leitura e no tempo de leitura das nossas páginas. Hoje, com os elevadíssimos custos de impressão nos seria impossível atingir essa capilaridade apenas com a revista impressa. 

Em 2022 alcançamos mais de 554 mil visualizações de páginas, 225 mil usuários frequentando nossa plataforma, chegando a 74 mil visualizações e leituras em um mês.  Nas redes sociais, só no Instagram chegamos em 328.976 contas. De 2020 para cá, dobramos toda nossa audiência. 

Nesta última edição do ano, fazemos algumas críticas a certas posturas institucionais brasileiras e trazemos um balanço do desmantelamento da cultura nestes últimos quatro anos e o florescimento de iniciativas em regiões importantes do país.  

Destacamos bienais, eventos do mercado internacional, exposições singulares como a A parábola do progresso, no Sesc Pompeia em São Paulo; de artistas consagrados, como Lenora de Barros: Minha língua, na Pinacoteca de São Paulo, e dedicamos nossa capa a uma guerreira, Regina Parra, excelente artista brasileira que mostra nas suas obras a importância de correr atrás da vida e da fertilidade como sinônimo de atos de desejo.

Quero agradecer especialmente à nossa brava equipe, à Giulia Garcia, ao Miguel Groisman, ao Eduardo Simões, à Eliane Massae, ao Coil Lopes e ao Enelito Cruz, assim como aos colaboradores especiais da revista impressa e digital, pela confiança nestes tempos tão duros. 

Boa leitura, um 2023 melhor para todos!


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