Imagem: Divulgação / Alan Turing - reprodução

No dia 08 de novembro, o Sesc Belenzinho abriu as portas da exposição “Campos da Invisibilidade.” A curadoria é de Cláudio Bueno, Ligia Nobre e assistência curatorial de Ruy Cézar Campos, que também apresenta duas obras.

Por meio da organização de 23 produções de 18 artistas brasileiros e estrangeiros, propõe-se a imersão e reflexão sobre o que há efetivamente por trás das várias conquistas tecnológicas presentes no dia a dia do sujeito contemporâneo. Ou seja, quais os processos industriais e impactos geopolíticos por eles gerados. Fotografias, vídeos, áudios, mapas e instalações questionam o mito da imaterialidade implantado pelas tecnologias e denunciam os altíssimos custos para o meio ambiente.

Campos da Invisibilidade concentra trabalhos que carregam diferentes bagagens dos artistas brasileiros, ingleses, britânicos, colombianos, canadenses, franceses, africanos e franco-guianenses, com a reflexão comum.

Campos da invisibilidade: a humanidade esvaziada

A mostra coletiva foi dividida em cinco núcleos que estabelecem conexões entre si: A Praia do Futuro, Adeus a Sete Quedas, Ouroboros, Cosmogramas e Visualizações do mundo. 

Produzido por Ruy, o vídeo “A chegada de Monet” abre o espaço do Sesc Belenzinho em diálogo com as obras de Tabita Rezaire e Louis Henderson. Seus trabalhos questionam o uso e privação territorial, material e social envolvidos nos processos exploratórios do meio ambiente em função de infraestruturas tecnológicas.

Para Tabita Rezaire, os espaços digitais são responsáveis pela continuidade de uma herança colonial, promovendo exclusão e opressão. A artista estabelece relação entre a reprodução do racismo nesses ambientes apontando para a utilização de rotas de navios negreiros enquanto caminho de cabos de transmissão.

A obra de Carolina Caycedo, por sua vez, chama a atenção devido às dimensões: uma foto de satélite, de mais de 2 metros de altura e 3 de comprimento, mostra a região de Mariana, Minas Gerais, após a catástrofe ocorrida em novembro de 2015. Anteriormente exposta na Bienal de São Paulo (2016), a imagem evidencia a dimensão da vitimação dos ecossistemas devido ao descaso humano em prol de um suposto desenvolvimento industrial.

Sete quedas por mim passaram, / E todas sete se esvaíram.

Cessa o estrondo das cachoeiras, e com ele / A memória dos índios, pulverizada,

Já não desperta o mínimo arrepio. / (…) Os sete fantasmas das águas assassinadas

Por mão do homem, dono do planeta.

(…) Aqui sete visões, sete esculturas / De líquido perfil / Dissolvem-se entre cálculos computadorizados / De um país que vai deixando de ser humano / Para tornar-se empresa gélida, mais nada.

(…) Que luz e força tarifadas geram /À custa de outro bem que não tem preço / Nem resgate, empobrecendo a vida / Na feroz ilusão de enriquecê-la.”

(Carlos Drummond de Andrade, Adeus a Sete Quedas, 1982)

Logo atrás, uma espécie de cabine abriga a projeção de um vídeo intitulado “A Gente Rio.” A narração do poema de Carlos Drummond de Andrade sobrepõe-se a imagens de cachoeiras e rios, que pouco a pouco dão lugar à represas e usinas hidrelétricas. O vídeo flui em conversa com personagens que falam da exploração dos ambientes em que vivem.

A Gente Rio – Be Dammed. from Carolina Caycedo on Vimeo.

Os demais painéis abordam, em comunhão, a exploração petrolífera, do carvão, diagramas que pensam a comunicação a partir da observação de bactérias e de outras espécies, a exibição de mapas em tempo real das rotas de aviões, navios, cabos submarinos e minas abandonadas, além do  gráfico de movimentações da Bolsa de Valores de São Paulo. É por meio deles que os curadores buscam evidenciar a presença física e massiva da infraestrutura tecnológica no funcionamento da vida no segundo milênio da humanidade.

O Brasil do futuro que chegou

Para introduzir as diversas camadas e abordagens propostas na navegação que pode ser escolhida ao desbravar a mostra, como coloca Lígia, no dia 07 de novembro, antecedente à abertura, às 18h30, aconteceu o Encontro Campos da Invisibilidade. A mesa trouxe a artista, professora da PUC-Rio e pesquisadora do CNPq, Débora Danowski, e a artista-contadora de histórias, Tabita Rezaire.

Encontro Campos da Invisibilidade/ Imagem: Divulgação, Sesc Belenzinho

Débora comenta as sensações resultantes do recém-findado período eleitoral. Os contextos violentos em que o processo submergiu-se, diz, a coloca em choque. Isso, porque pode-se notar a ascensão da extrema-direita no Brasil, que traz consigo ideias negacionistas no que diz respeito às minorias sociais e questões ambientais.

A artista e professora estuda, nos últimos anos, a ideia do fim do mundo ocasionado pelas progressivas alterações climáticas e ecologia global, devidas principalmente pela queima de grandes quantidades de combustíveis fósseis e outras práticas que movem a atividade capitalista desde meados do século passado. “Confesso que não esperava que o céu começasse a cair sobre nossas cabeças tão cedo”, lamenta Danowski.

Para o curador, o Brasil vive um um momento de importante virada política, que o coloca diante de um suposto desenvolvimento.  “Ele (Bolsonaro) diz que não haverá mais terras indígenas, entre outras coisas. Ignora histórias, memórias e populações. Isso implica também no projeto tecnológico que se debate aqui”, aponta.

Tabita finaliza com a proposição de alternativas a partir de suas experiências, pesquisas e  obra, “Cura Decolonial: Tecnologia, Espiritualidade e o Erótico.” Para ela, a importância dos trabalhos expostos é possibilitar a plantação de sementes. “Vivemos atravessados por normas impostas e ilusórias. Mas estamos aqui, existimos e não desistimos. Temos que lutar com amor”, finaliza.


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