enterro edson luis
Protesto na fachada do cinema, durante os funerais de Edson Luís, em março de 1968 – Foto: Reprodução

Cinemas do Rio de Janeiro anunciaram em letras garrafais filmes que não estavam em cartaz naquele momento: Coração de Luto, À Queima Roupa e A Noite dos Generais. Era uma forma de se unirem aos protestos que tomaram conta do Rio depois que o secundarista Edson Luís de Lima Souto foi morto com um tiro no peito, durante invasão da Polícia Militar ao restaurante popular Calabouço, no centro da cidade.

Nascido em uma família pobre de Belém do Pará, Edson Luís mudara-se para o Rio para estudar no Instituto Cooperativa de Ensino. Tinha 18 anos. Como outros 300 colegas com poucos recursos financeiros, fazia as refeições no Restaurante Central dos Estudantes, mais conhecido como Calabouço. Eles se preparavam para fazer uma passeata-relâmpago quando a polícia chegou atirando. Vários estudantes saíram feridos.

Atingido no peito, Edson Luís chegou a ser levado a um hospital a três quarteirões do Calabouço, mas já estava morto. Era final da tarde do dia 28 de março de 1968. Em vez de deixar o corpo com a necropsia, os estudantes o carregaram para velório na Assembleia Legislativa. No dia seguinte, pelo menos 50 mil pessoas acompanharam o caixão até o cemitério, realizando a primeira grande manifestação contra a ditadura.

O ano estava apenas começado, mas seria tão tumultuado e trágico que inspiraria a obra 1968 – O ano que não terminou, do jornalista Zuenir Ventura. Na prática, 1968 fechou o tempo em 13 de dezembro, com o decreto do Ato Institucional Número 5, aquele que acabou com todas as garantias constitucionais. A partir daí, desmoronou a democracia de faz-de-conta encenada pela ditadura desde o golpe de março de 1964.

A morte de Edson Luís ficou impune. Cinquenta anos depois, o Palácio Pedro Ernesto, antiga sede da Assembleia Legislativa, abriga a Câmara Municipal do Rio de Janeiro. Cinquenta anos depois, de novo tiros transformaram o palácio em espaço para velar vítimas da violência, desta vez a vereadora Marielle Franco e o motorista Anderson Gomes, executados no dia 14 de março. Sinal que a redemocratização deixou tanto a desejar que agora retrocede. Por isso mesmo, a morte de Marielle não pode ficar impune.

Em tempos de gravação por celular, vídeos de homenagens à Marielle estão correndo mundo. Não era assim no passado recente. O cineasta Eduardo Escorel filmou cenas do cortejo e enterro de Edson Luís em março de 1968 mas, com o recrudescimento da repressão, preferiu entregar o material à Cinemateca do Museu de Arte Moderna. A filmagem de 12 minutos só reapareceu em 2008, depois de passar 40 anos extraviada. Veja cenas:


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