O cantor e compositor Taiguara
O cantor e compositor Taiguara. Foto: Arquivo Pessoal / Divulgação / Kuarup

Nascido no Uruguai, em Montevidéu, durante uma série de apresentações de seu pai, o maestro Ubirajara Silva, naquele País, o cantor e compositor Taiguara, falecido em 1996, completaria 72 anos nesta segunda-feira (9).

Segundo revelou Janes Rocha, autora da biografia Os Outubros de Taiguara – Um autor Contra a Ditadura: música, censura e exílio (Editora Kuarup), o politizado intérprete de clássicos como Hoje e Universo no Teu Corpo foi o compositor mais censurado durante os anos de chumbo.

Somente em 1974, revela Janes no livro, das 61 canções registradas por Taiguara 36 foram vetadas pelos censores do DCDP (Departamento de Censura e Diversões Públicas), órgão instituído com o AI-5 que operou até 1988, quando foi extinto pela nova Constituição.

Em tempos de novo flerte com a mordaça, desta vez por iniciativa de “movimentos” sociais oportunistas que, em nome de um projeto de poder, manipulam a famigerada opinião pública em torno de mostras de artes visuais, vale lembrar também de outros números estarrecedores apurados por Zuenir Ventura, durante a produção de 1968: o ano que não terminou , e que dimensionam o ambiente opressor daquele período.

Somente no decênio de vigência do AI-5 (1968-1978), cerca de 500 filmes, 450 peças de teatro e 200 livros foram censurados. Operação executada com o uso de um efetivo de mais de uma centena de agentes do DCDP espalhados em diversos estados do País.

O que perdemos com essa cruzada? Que retrocessos foram impostos à cultura do País? Difícil mensurar, mas certamente não foi pouco. Exatamente por isso, parafraseando Taiguara, é fundamental reconhecermos as marcas que hoje trazemos em nosso “corpo social”. Exercício mais que necessário para, atentos e fortes, confrontarmos a ameaça de um remake desse filme triste e anacrônico.

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Reprodução fac-similar da letra de “Isto Não São Horas de Loucuras”

Reprodução fac-similar da letra de “Isto Não São Horas de Loucuras”, vetada em dezembro de 1973. Censores destacam a expressão “essa cana” e apontam “pornofonia” (palavra ou expressão obscena; palavrão), no entanto Taiguara se referia ao consumo de cachaça. Foto: Divulgação / Kuarup

Mais

Leia a reportagem Memória de Chumbo, um balanço sobre o impacto da ditadura para a cultura do País, publicada pela revista Brasileiros em 2014, na ocasião dos 50 anos do golpe civil-militar de 1964.  http://old.brasileiros.com.br/2014/06/memoria-de-chumbo/


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