Anjo Querubim, de Mestre Valentim, do séc. XVIII. Foto Divulgação Coleção Emanoel Araujo
Anjo Querubim, de Mestre Valentim, do séc. XVIII. Foto Divulgação

Acontece neste sábado (28), a partir das 16h, na Bolsa de Arte (SP), o leilão da coleção particular de Emanoel Araujo (1940-2022) – artista plástico, ex-diretor da Pinacoteca, idealizador, diretor e curador do Museu Afro Brasil. O pregão deveria ter acontecido no fim de setembro, mas o Instituto Brasileiro de Museus (IBRAM), autarquia responsável pela Política Nacional de Museus (PNM), pediu a suspensão, para que os integrantes do Sistema Brasileiro de Museus, pudessem “exercer seu direito de preferência na aquisição dos bens culturais”, conforme lei vigente.

O prazo legal para os museus manifestarem interesse junto aos organizadores do leilão era até o dia 9/10. O marchand Jones Bergamin, da Bolsa de Arte, afirmou a arte!brasileiros que neste sábado o leilão será fechado a instituições culturais, fundações e museus.
A arte!brasileiros recebeu uma carta (leia abaixo na integra) em que colecionadores, galeristas, artistas, professores, curadores etc., afirmam que “permitir que essa coleção com itens que representam nossa cultura e história seja distribuída em um leilão é um ato de negligência com nosso patrimônio cultural”.

O conjunto a ser leiloado – cerca de 4 mil tens – e estimado em R$ 30 milhões. Neste sábado, o objetivo do pregão é vender em lote único, para um mesmo comprador. Caso isso não ocorra, haverá dois outros pregoes, na segunda e terça-feira, em dois horários (16h e 20h).

Os itens estão divididos em sete categorias: arte africana (bronzes, cerâmicas, marfins e têxteis); arte afro-brasileira (cerâmicas, esculturas, gravuras, Joias de Crioula); modernos (esculturas, gravuras, mobiliários, pinturas, porcelanas e tapeçarias; arte oriental (armaduras de cavalaria e espadas, marfins e porcelanas); arte europeia (gravuras, Imaginárias Católicas do século 16 ao 19 e pinturas); arte brasileira (esculturas, gravuras, mobiliários, peças brasonadas e pinturas). 

Entre as raridades estão criações de Mestre Valentim (1745-1813) e Xavier das  Conchas (1739-1814), dois importantes nomes do barroco brasileiro, e um conjunto de Joias de Crioula, do século XIX, usados por mulheres negras escravizadas, alforriadas ou libertas, sobretudo na Bahia. O item mais valioso, com lance inicial de R$ 1 milhão, e um óleo sobre tela do pintor renascentista italiano Niccolò Frangipane. 

*

Prezades,

É com profunda preocupação e tristeza que nos dirigimos a todas as pessoas que
compartilham a paixão pela cultura e pela arte neste momento crítico. A notícia de que a coleção pessoal do renomado Emanoel Araújo será leiloada é motivo de grande consternação. Entendemos que o direito dos herdeiros deve ser respeitado, e concordamos que o pagamento justo é uma obrigação. No entanto, permitir que essa coleção com itens que representam nossa cultura e história seja distribuída em um leilão é um ato de negligência com nosso patrimônio cultural.

Emanoel Araujo, um grande nome da cultura afro-brasileira, dedicou sua vida a enriquecer nossa compreensão da arte e da história. Ele deixou um legado impressionante, como curador, museólogo e artista. Sua coleção, que em parte compõe o acervo do Museu Afro Brasil, deveria ser honrada como um compromisso de longo prazo com a valorização da cultura afro-brasileira.

Nossos esforços agora devem se concentrar em convencer o estado (federal, estadual ou municipal), alguma empresa privada ou grande fortuna da importância de manter essa coleção, de criar exposições e incentivar a pesquisa em um material tão relevante. A história dessas obras e sua importância para nossa cultura merecem um destino melhor do que um leilão que pode dispersá-las para sempre.

A situação de Emanoel Araujo não é única; muitas outras coleções importantes também enfrentaram destinos semelhantes. Coleções valiosas que deveriam ser mantidas em museus públicos foram dispersadas por falta de recursos. É hora de repensarmos o papel dos colecionadores e das grandes fortunas na proteção do nosso patrimônio cultural. O legado de Emanoel Araujo é um patrimônio cultural inestimável. Como nação, como estado, como município e como empresas, temos a responsabilidade de preservar esse legado e enriquecer nosso patrimônio cultural. A integridade dessa coleção não deveria ser exposta para o público ao menos uma vez?

Este é o momento de agir, de encontrar soluções criativas para preservar a coleção de Emanoel Araujo e outras como ela. Não podemos permitir que o leilão aconteça e, posteriormente, lamentar a perda irreparável desse valioso patrimônio. Unidos, podemos proteger o presente e garantir que as futuras gerações possam desfrutar da riqueza cultural que Emanoel Araujo tanto valorizou.

Atenciosamente,

Alayde Alves
Abiniel João Nascimento / artista visual
Adriana Barretto Figueiredo / chefe de cozinha
Alan Diniz / jornalista
Alice Yura / artista visual
Ana Gentil / artista visual
Ana Lenice Fonseca da Silva / psicologa e presidente do Projeto Leonilson
Ana Rey / artista visual
Anna Biondo / artista visual
Arthur Arenari / jornalista
Beatriz Lopes Paulino / advogada
Beatriz Morgado / professora
Beth da Matta / artista visual, gestora cultural
Caroline Fucci / pesquisadora
Daniela Castro / curadora, artista, pesquisadora
Eliana Francisca de Queiroz
Gabriel Pessoto / artista visual
Guilherme Borsatto / artista visual
Gustavo Torrezan / artista visual
Guta Galli / artista visual
iah bahia bruno de carvalho / artista visual
Izabel Pinheiro / galerista
Jaqueline Votja / artista visual
José Patricio / artista visual
José Roberto Aguilar / artista visual
Júlia Buenaventura / curadora
Júlia Pereira / artista visual
Juliana Asmir
Juliana Notari Nascimento / artista visual
Jussi Szilágyi / artista visual
Laura Lima / artista visual
Leonardo Antan / curador, escritor
Leonardo Nones / pesquisador
Liana Vila Nova / pesquisadora, produtora e curadora.
Lília Malheiros / artista visual
Lu Grecco / arquiteta, cenógrafa
Luciana Molisani / editora
Luciana Monteiro / psicóloga, artista visual
Manoel Sá e Benevides / colecionador
Marcelo Poloni / bancário
Maria Amélia Sallum / administradora de empresas em Arte e Cultura
Maria Aparecida de Oliveira Lopes / professora
Michaela Affonso Ferreira Nardone / arquiteta, artista visual
Milton Kanashiro / colecionador
Mônica de Souza Gouvêa / psicóloga
Mônica Tinoco / artista e professora
Nelson Fernando Inocencio da Silva / professor
Paula Braga / professora
Raimundo Rodriguez / artista visual
Renata Melo Barbosa do Nascimento / historiadora
Ricardo Alves / artista visual
Rita Leite Pereira / colecionadora
Rita Maria Mourão Barbosa / gestora do Desapê
Shanon Botelho / curador
Sofia Carvalhosa / assessora de comunicação
Sueli Espicalquis / artista visual
Tania Chreim / mediadora de exposições
Thaís Hilal / galerista
Yhuri Cruz da Silva / artista visual


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