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GUERRA CULTURAL HISTÓRIA













                                    O professor e crítico literário João Cezar de
                                    Castro Rocha fala sobre as várias faces do
                                    discurso da extrema direita: autoritarismo,
                                    guerra cultural e caos cognitivo

                                    por maria hirzman



            A CIVILIZAÇÃO





            EM DISPUTA












            o historiador e professor de literatura compa-     João Cezar de Castro Rocha – Vamos pensar
            rada da Universidade Federal do Rio de Janeiro, João   juntos. A guerra cultural é uma ponta de lança da
            Cezar de Castro Rocha, dedicou-se a examinar o dis-  extrema direita transnacional e é um movimento
            curso da extrema direita na tentativa de compreender   muito bem articulado. A ideia central é que, para
            as razões do movimento, suas estratégias e os cami-  realmente chegar ao poder, é preciso fazê-lo atra-
            nhos que levaram à radicalização, em todo o mundo   vés da conquista de corações e mentes. Ou seja,
            e particularmente no Brasil. País que, segundo ele,   através da cultura. Daí a extrema direita no mundo
            seria “um laboratório mundial de criação metódica da   inteiro tem como alvos preferenciais a imprensa
            realidade paralela”. Sintetizada em livros como Guerra   livre, a arte e a universidade: instâncias críticas de
            Cultural e Retórica do Ódio, de 2021, e Bolsonarismo:   reflexão sobre a realidade. É uma espécie de leitura
            da Guerra Cultural ao Terrorismo Doméstico, de 2023,   enviesada, perversa, do conceito de hegemonia do
            sua análise trata o discurso radicalizado como um pro-  Antonio Gramsci. Em 1992, Pat Buchanan (que se
            cesso narrativo e sugere caminhos de interpretação   candidatou às primárias presidenciais do Partido
            e enfrentamento por meio do diálogo e do afeto. Em   Republicano) surpreendeu o mundo ao dizer em
            entrevista à arte!brasileiros, ele fala sobre as origens   seu discurso que aquela não era uma eleição como
            e desdobramentos do uso da retórica do ódio, que com-  as outras: “We are fighting for the soul of America”,
            bina negação absoluta da diversidade, caos cognitivo e   diz ele literalmente. A comparação aqui seria com
            criação de uma midiosfera perversa,  fortalecendo um   a fala de Michelle Bolsonaro na manifestação de 25
            discurso autoritário e teocrático de poder.        de fevereiro último, na Paulista.

                    – A Guerra Cultural é uma das marcas            – Eles repetem isso o tempo todo, buscando
            da nossa história recente. Como você define o    alimentar essa sensação de novidade, pressão e
            fenômeno?                                       guerra, para que não abaixem a guarda.

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