Page 20 - artebrasileiros-65
P. 20

BIENAL DAS AMAZÔNIAS







            idealizada por lívia condurú, em parceria com
            as curadoras Sandra Benites, Keyna Eleison e Vânia
            Leal – e com a assistência curatorial dos “múltiplos
            pensatórios”, de Ana Clara Simões Lopes e Débora
            Oliveira – a primeira Bienal das Amazônias aconteceu
            entre o meses de agosto e novembro de 2023, na
            cidade de Belém, no Pará, às margens do Rio Guamá.
               Um verdadeiro encontro de mulheres fortes, com
            diferentes identidades e saberes, deu à luz um projeto
            que levou o nome derivado da língua tupi, Sapukai, que
            em português podemos traduzir como clamor, grito,
            trabalhar por adição e não por extração, ampliação
            e abraço.
               Um diálogo entre a direção, as curadoras, os artis-
            tas e os produtores, operou uma força coletiva e fez
            associações respeitando a voz de uma enorme quan-
            tidade de gestos peculiares vindos de vários lugares,
            às vezes nunca revelados do Brasil. Basicamente, a
            mostra desperta a vontade de mergulhar nesse mundo,
            povoado de ancestrais e árvores milenares. Belém é
            banhada pelos rios, e o vento, permanente, alivia o
            calor da região.
               Um dos conceitos que sustentou a Bienal é o fato
            de a Amazônia ser conhecida pelas suas grandes
            áreas f orestais e por suas fauna e f ora diversas, mas
            é a presença da água – vinda das chuvas e de sua
            extensa rede f uvial – que contorna o imaginário da
            região. Daí o título da primeira edição, Bubuia: águas
            como fonte de imaginações e desejos, que celebra a
            relação ética e cultural entre as águas e os corpos
            que nela se movem.
               A Bubuia é diretamente inspirada no dibubuísmo
            criado e defendido pelo f lósofo e professor João de
            Jesus Paes Loureiro, nascido em Abaetetuba, cidade
            paraense [Leia, nesta edição, a íntegra da entrevista
            exclusiva com Paes Loureiro]. Flutuar sobre as águas,
            diz o texto curatorial da mostra, simboliza “uma conju-
            gação de movimento e inércia em favor do prazer, da
            ref exão e da integração com o meio ambiente, e diz
            muito sobre a perseverança e resistência de quem habita
            a região. É certa predisposição calculada para o devir e
            para o deixar vir, que se estabelece como conhecimento
            de herança constituinte de saberes caboclos ribeirinhos,
            transmitidos pela oralidade em caráter de resistência,
            imbuídos por um conhecimento oriundos da relação
            com a natureza e relacionados entre os seus iguais.”
               E prossegue o texto curatorial: [...] “Em meio a
            drástica crise climática planetária e os crescentes

            20
   15   16   17   18   19   20   21   22   23   24   25