Page 30 - artebrasileiros-64
P. 30
P
O
S
Ã
O
T
N
E
R
L
U
A
E
I
N
L
A
35
XXXXXXXX YYYYYYYYYYYYYYYYEVISTA
ª
B
E
D
O filósofo e crítico francês é presidente da
Associação dos Amigos de Wifredo Lam de Paris,
estudioso da produção do artista cubano
por leonor amarante
JACQUES LEENHARDT
ANALISA A OBRA DE
WIFREDO LAM
Le sombre Malembo, dieu des
carrefours, 1943, de Wifredo Lam
a sala de wifredo lam na 35ª Bienal de São Paulo é Jacques Leenhardt – Acho muito perigoso querer
um dos marcos positivos desta edição. O artista cubano incluir um artista da importância e da complexidade
foi reconhecido por Picasso, Breton e pelos surrea- de Wifredo Lam imediatamente no debate “decolo-
listas logo que chegou a Paris em 1938. Antes, ainda nial”, que tomou um rumo muito distante da busca
muito jovem, foi para Espanha onde fez parte de seus de síntese que caracteriza sua obra pictórica. O
estudos de arte. Só depois, como grande parte dos importante, e que vem em primeiro lugar, deve ser:
artistas de sua geração, é que se fixa em Paris. Mesmo ver e meditar acerca das obras.
com a amizade próxima de Picasso, Lam conseguiu É claro que Lam era um anticolonialista. Anti-
desenvolver uma obra personalista, reconhecida no colonial por meio de uma preocupação constante
mundo e que suscitou o desejo de possui-la por parte em construir a possibilidade de um modo de ser
de importantes museus e colecionadores. Das oito diferente. Isso lança luz sobre debates que muitas
obras agora expostas em sala especial na 35ª Bienal, vezes são simplistas demais. Lam trabalhou a partir
duas são do Malba (Buenos Aires), duas do Centre de várias origens e heranças culturais que, em suas
Georges Pompidou (Paris), e as demais pertencem a próprias contradições, constituíram sua identidade.
colecionadores particulares. Ele fala de seu “antigo desejo de integrar na pintura
Jacques Leenhardt, crítico francês, com trânsito toda a transculturação que havia ocorrido em Cuba
fluído pelas universidades da América Latina, proferiu entre aborígenes, espanhóis, africanos, chineses,
palestra nesta Bienal sobre o artista e, entre os muitos imigrantes franceses, piratas e todos os elemen-
compromissos no Brasil, dá uma sucinta entrevista à tos que compõem o Caribe. E eu reivindico”, disse,
arte!brasileiros. “todo esse passado para mim. Acredito que essas
transculturações transformaram essas pessoas em
– Hoje o decolonialismo está na pauta uma nova entidade de valor humano indiscutível.”
da academia, nos discursos políticos, nas mani- Nessas poucas palavras, posso ver os contornos
festações estudantis de rua. No livro Mi pintura, de sua posição ideológica. Por meio da noção de FOTO: REPRODUÇÃO
Wifredo Lam escreveu “Minha pintura foi um ato transculturação, que ele toma emprestada de seu
de descolonização”. Você poderia comentar? amigo, o antropólogo cubano Fernando Ortiz, ele
30