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35ª BIENAL DE SÃO PAULO DESTAQUES
CASTIEL VITORINO
BRASILEIRO
Artista parte da perseguição das
religiões afrobrasileiras no país para
discutir a metamorfose da alma
por maria hirszman
a associação entre práticas diversas de arte e a recusa rótulos e qualquer tentativa de generalização
acurada pesquisa sobre a violência colonial perpetrada ou categorização como artista negra ou trans. “Não
contra a cultura material e espiritual de matriz africana somos cotistas”, provoca.
são aspectos marcantes da produção de Castiel Vito- Ao contrário de outros trabalhos seus, como Quarto
rino Brasileiro, autora de uma das instalações mais de cura (instalação que a destacou como uma das jovens
potentes da atual edição da Bienal. Montando a história promessas da arte brasileira dos últimos anos), desta vez
da vida é, segundo ela, sobre a metamorfose da alma, Castiel não permitiu a entrada dos visitantes na instalação,
apesar de partir de um dado histórico: a perseguição querendo gerar essa sensação de interdito, forçando as pessoas
das religiões afrobrasileiras no país. Como uma unidade a bisbilhotarem, a exercitarem uma coreograf a pessoal em
em que se condensa índices do cotidiano, a instalação torno do terreno. Ainda receosa com o ambiente violento
assume a forma de um pedaço de terra indevassável, no no país, ela optou por não apresentar performances
qual repousam elementos reconfortantes e altamente durante a Bienal.
arquetípicos como uma casa sem telhado (que a artista Mais jovem artista da Bienal, Castiel também está
chama de museu e que abriga suas pinturas), troncos presente nas mostras Dos Brasis, em cartaz no Sesc
de eucalipto, uma canoa usada, vinda de Pirapora (mg), Belenzinho, e Ensaio para o Museu das Origens, uma
que traz as marcas do tempo, uma promessa de roça, ação conjunta entre o Instituto Tomie Ohtake e o Itaú
alguidares – recipiente associado a diferentes culturas Cultural, duas exposições que dialogam intensamente
e muito fortemente a entidades de umbanda. com a proposta da Bienal. A artista deve realizar uma
Ela se diz interessada pelas transmutações da vida e performance ainda este ano na Serpentine, em Londres.
da matéria, em suas várias dimensões e expressas em Parte desses trabalhos integra um projeto de longa
contradições como a do eucalipto, que gera ao mesmo duração que ela vem desenvolvendo, intitulado Kalun-
tempo óleos essenciais de cura e explorações de grande ga: a origem das espécies, em que se contrapõe ao
impacto ambiental. “Busco um tempo espiralado, entre falocentrismo, a f guras como Freud e Darwin, e trata
tempo e construção”, explica Castiel, que também é poética e plasticamente de mar; deslocamento e dor;
mestre em psicologia clínica e medicinas africanas e morte, vida e prazer.
Detalhe da instalação de Castiel Vitorino Brasileiro
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