Page 51 - artebrasileiros-63
P. 51

Sheroanawe Hakihiiwe Toho toho [Fungo] [Fungus], 2018 Acrílica sobre
            papel de cana-de-açúcar [Acrylic on sugarcane paper] 70 x 50 cm































            com as pessoas do seu povo”. Momentos em que ele   curador. “O que eu acho, muitas vezes, é que o trabalho
            recolhe referências diversas da “cosmo ecologia” de   dele se encontra com todos esses trabalhos tidos como
            sua comunidade, “uma relação com o ambiente, com o   conceituais, minimalistas, mas ele tem uma natureza
            cosmos, mais profunda e complexa”. Segundo Ribeiro,  diferente. De alguma maneira, a presença dele subverte
            Sheroanawe observa os padrões que são utilizados na   um pouco esse cânone, aquilo com que a gente está
            pintura facial, na pintura corporal ou na produção da   tão acostumado. O trabalho dele traz essas fricções,
            cestaria, detalhes de animai, plantas, pedras.   essas tensões”.
               “E é um olhar bastante minucioso que ele lança sobre   Para Mesquita, a escolha de Sheroanawe pela
            o entorno, sobre as pessoas, sobre o ambiente onde ele   repetição, serialização ou minimalismo se dá “em
            vive. E do qual ele vai extraindo sínteses”, diz. “Numa   referência às pinturas corporais da comunidade, numa
            floresta, nessa confusão de elementos, Sheroana- busca por preencher todos os espaços possíveis, numa
            we busca as unidades mínimas dessa grandiosidade,  folha de papel, com um mesmo símbolo, que é um
            pequenos símbolos, que ele transpõe para o papel,  pouco dessa prática que a comunidade tem da pintura
            que são representações dessa complexidade. Como   corporal de preencher todo o corpo com o mesmo
            a Laura Barbata afirma, o trabalho dele é mais do que   desenho”, conclui.
            abstração simples ou minimalismo, é um mapa bastante   Por fim, Ribeiro ressalta também como Sheroanawe
            complexo de uma infinidade de significados que ele   tem um olhar muito sensível para a floresta e atribui
            apreende a partir de sua observação”.            uma grandiosidade para coisas às quais a gente mal dá
               Mesquita comenta que, inicialmente, ao observar  importância, a exemplo de uma gota de orvalho numa
            a produção de Sheroanawe, uma relação com o mini- teia de aranha pela manhã. Ele salienta, ainda, que o
            malismo veio à sua cabeça, um pouco por causa da   artista coloca tudo em pé de igualdade, seja a pintura
            sua formação “como pesquisador, muito interessado,  facial, uma pata de animal, uma folha, tentando nos
            já há muitos anos, nas práticas da arte conceitual”. Em   dizer que tudo isso é a mesma coisa.
            algum momento, afirma o curador, aparecem na prática   “E não à toa esse foi o título que ele sugeriu para a
            de Sheroanawe “processos como a serialização a repe- exposição, tudo isso somos nós. Tudo aquilo constitui
            tição”, que já vimos em diversos trabalhos de artistas   o povo ianomâmi. Não existe diferença entre o que é
            norte-americanos, europeus ou brasileiros.       humano, o que é animal, o que é vegetal e o que é mineral.
               “Mas a gente não faz essa leitura da obra do She- Tudo isso precisa ser conservado em conjunto, cuidado
            roanawe e nem tenta canonizá-lo, no sentido de trazer  em conjunto. É um conceito de meio ambiente de uma
            sua produção para uma leitura ocidental”, pondera o   sofisticação muito grande”.
                                                                                                         51
   46   47   48   49   50   51   52   53   54   55   56