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À esq., Dentro de mim, Helena
                                                             Almeida, 2018. Cortesia Galeria
                                                             Francisco Fino, Lisboa





























                                                             a pista dessa confluência de elementos, que permite
                                                             a passagem da experiência individual para o caráter
                                                             universal que toda obra potente parece perseguir: “O
                                                             que me interessa é sempre o mesmo: o espaço, a casa,
                                                             o teto, o canto, o chão; depois, o espaço físico da tela,
                                                             mas o que eu quero é tratar de emoções”.
                                                               Essa relação entre experimentação conceitual, poé-
                                                             tica e vivencial garante à obra de Helena Almeida uma
                                                             familiaridade comovente com outras artistas que tri-
                                                             lharam a mesma seara no mesmo período. São muitos
                                                             os ecos entre sua produção e uma série de artistas
                                                             brasileiras e latino-americanas, que, como ela, dedi-
                                                             caram-se a investigar a relação entre imagem e corpo,
                                                             fotografia e identidade. Podemos citar, por exemplo,
                                                             Lygia Pape, Lenora de Barros, Liliana Potter e até mes-
                                                             mo Iole de Freitas, que têm um recorte de sua obra
            trabalhando em um país submetido por décadas à ditadu- dos anos 1970 – mais cortante e experimental – sendo
            ra salazarista e apartado do centro da produção contem- exibido atualmente no mesmo ims.
            porânea – que ela vivencia intensamente em uma longa   Não fosse europeia, ela estaria perfeitamente inte-
            permanência em Paris no início dos anos 1970. O verbo   grada a propostas de revisão da arte feminista latino-a-
            habitar é recorrente em sua trajetória, está presente nos   mericana, como a pesquisa Mulheres radicais, mostrada
            títulos dos trabalhos e é reiterado no nome escolhido para   em 2018 na Pinacoteca do Estado. Essa sintonia torna
            a mostra por Isabel Carlos. A casa/ateliê é o espaço em   ainda mais surpreendente o fato de que tenha sido
            que sua arte se desenvolve, sempre. Espaço protegido,  necessário esperar tanto tempo (sua única participa-
            às vezes claustrofóbico, às vezes ampliado por meio   ção de destaque em mostra no país foi na 28ª Bienal
            de espelhamentos, aberturas. São poucas, mas muito   de São Paulo) para que uma artista portuguesa de
            concretas as referências arquitetônicas incorporadas nas   renome em seu país, com uma vasta produção e uma
            imagens, a ponto de a curadora sugerir que, para ela, “o   afinidade intensa com um tipo de arte frequentemente
            rodapé é o ponto de encontro entre pintura, arquitetura   desenvolvido no Brasil, tivesse uma primeira exposição
            e fotografia”. Na entrevista já mencionada, Helena dá   individual no país.

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