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EXPOSIÇÕES SÃO PAULO
À esq., Ouve-me,
Helena Almeida,
1979. Cortesia
Galeria Filomena
Soares, Lisboa. Na
pág. ao lado, Tela
habitada, 1976.
Coleção CAM –
Fundação Calouste
Gulbenkian, Lisboa
espera, a imobilidade alargada no tempo e no espaço Seu trabalho é sutil e provocativo, combina uma
do ateliê, expliquem algumas peculiaridades de sua elegância nostálgica com um desejo permanente de
produção, tão próxima e ao mesmo tempo avessa subverter relações e hierarquias, lançando mão muitas
ao caráter teatral dos happenings e performances vezes de uma ironia fina. A artista anula fronteiras entre
que tanto marcaram a cena artística nos anos ini- os gêneros, questiona os limites tênues entre o plano e o
ciais de sua carreira. A artista verbalizava claramente volume, entre o real e o representado. E usa a fotografia
que lhe interessava não a ação em si, o confronto não por sua excelência técnica ou exatidão mimética.
entre criador e público, mas o registro, a captação Não à toa é seu marido, o arquiteto Artur Rosa, que faz a
daquele momento preciso que parece condensar a maior parte desses registros. “Eu quero uma fotografia
força do gesto, tal qual um still de cinema. Ou uma tosca, expressiva, como registro de uma vivência, de uma FOTOS: DIVULGAÇÃO | MÁRIO DE OLIVEIRA
sucessão de fotogramas, que remetem à lógica dos ação”, explicou ela em entrevista concedida à curadora
quadrinhos, criando uma linha temporal, explorada e relembrada no catálogo da exposição.
em algumas das séries em exposição, a exemplo de Tela rosa para vestir, obra de 1969, que serve de
Tela habitada, de 1976. capítulo inaugural da mostra do ims, é uma espécie de
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