Page 46 - ARTE!Brasileiros #58
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INTERNACIONAL INSTITUIÇÕES
uma reconstituição do passado colonial alemão no
século 19, incluindo a relação da Alemanha Oriental
com as suas colônias através de relatos nativos e conta
com miniaturas representando os ocupantes através
do olhar local . No complexo expositivo de imagem,
[4]
texto e vídeo, o visitante autônomo tem de se engajar
fisicamente para descobrir informações e fotos e assim
reconstituir, ou “revelar”, as dinâmicas coloniais. Fica-se
claro que o colonialismo é uma tática de dominância que
considera apenas o espaço físico, ao passo que ignora os
espaços sociais e culturais anteriormente cultivados no
local de ocupação. Por exemplo, uma das fotos mostra
a escola das Mulheres da Federação Colonial Alemã
(uma organização oficial do Estado alemão), que tinha
como objetivo “tratar o espírito familiar alemão e seu
tipo”, trazendo mulheres para as colônias para que os
soldados e ocupantes alemães não se casassem com
mulheres africanas .
[5]
Outro exemplo que prima pela ausência de contato
entre colonizador e colonizado foi o Gauturnfest 1939 em
Lüderitzbucht (Namíbia), que levou jovens alemães para
competir na colônia, onde permaneciam isolados dos
habitantes locais durante o torneio. No eixo Vida Entre Figura de poder Magaaka (Congo, Yombe, século 19)
Culturas é abordada a história dos jovens namibianos,
filhos de exilados e refugiados que foram criados na
Alemanha Oriental durante a Guerra da Independência que passava seu conhecimento de trabalho de gera-
da Namíbia (1966-1990) entre 1975 e 1990. O conflito foi ção em geração por um sistema de ensino hereditário
também ultimamente um desdobramento da divisão da ou de tutor para pupilo. Os objetos acumulados aqui
África pelos países da Europa na Conferência de Berlim são provenientes de diversas expedições ao território
(1884-1885). Mais tarde, com o final da guerra, os jovens africano do final do século 19 e a sua exibição na Europa
namibianos foram repatriados pelo Estado independente influenciou diretamente a arte moderna . Estas expe-
[6]
da Namíbia, o que causou um significativo choque cultural. dições foram conduzidas por oficiais da Alemanha
colonial tal qual Hans Glauning, que morreu em uma
objetos afriCanos de suas expedições em Camarões.
Posterior à relativização das perspectivas apontada pela A relação de Camarões com a Alemanha é posta em FOTOS: ALEXANDER SCHIPPEL/STAATLICHE MUSEEN ZU BERLIN, ETHNOLOGISCHES MUSEUM / STIFTUNG HUMBOLDT FORUM IM BERLINER SCHLOSS
estrutura expositiva anterior, o próximo ciclo dentro da foco no próximo segmento expositivo, através de baten-
exposição é o Armazém Aberto África, que reproduz tes de portas esculpidos à mão, esculturas de diversos
o modo de armazenamento da coleção expondo os tamanhos, apetrechos, bancos, máscaras adornadas e
objetos em vitrines, acompanhados de seus núme- outros objetos históricos. Grande parte dos itens denotam
ros de identificação. Estão ali armas, facas, espadas, o grau de importância de seus detentores na sociedade
adornos de marfim, brincos, braceletes, representa- camaronesa do início do século passado, além de ade-
ções de espíritos e estátuas de significação política reçar o caráter da pessoa que os possuía. Estes objetos,
representando governantes de variados tamanhos, carregados com agência social e espiritual, também
instrumentos musicais como tambores e instrumentos tinham finalidade e efeito político. Exemplo máximo disso
de sopro. Madeira e metal, cordas, conchas e marfim é o Trono Comemorativo do Rei Tufoyn, do povo Bekom,
são os principais materiais, esculpidos e compostos datado do século 19 e cujo desaparecimento gerou estado
com notável técnica. Fica-se evidente que a subtração de emergência, já que sua presença era necessária para
desses objetos de seus lugares de proveniência é pri- que se pudesse passar o poder ao próximo governante
meiramente um desvio do trabalho, não somente dos da matriz hereditária. O trono foi adquirido em 1906
feitores dos objetos, mas também de todo um povo pelo explorador alemão Hans Gaspar Ganz zu Putzliz.
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