Page 97 - ARTE!Brasileiros #55
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Pedro Moraleida, Ave Maria Gracia Plena – da série
            Casais sorridentes de mãos atadas 02, 1998/1999
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                                                                             reflete, portanto, na multiplicidade
                                                                             de temas e linguagens que percor-
                                                                             rem a revista, para além do campo
                                                                             das artes visuais. Mas a amarração
                                                                             de tudo está, mais uma vez, na busca
                                                                             de diálogo e no zelo entre as pessoas,
                                                                             uma espécie de cuidado que se con-
                                                                             trapõe à realidade quase distópica
                                                                             que se apresenta no globo.
                                                                               “No mundo contemporâneo, o
                                                                             que tem se exacerbado são violên-
                                                                             cias muito antigas. Do racismo, do
                                                                             genocídio programado das popu-
                                                                             lações indígenas, do ecocídio, dos
                                                                             atentados ambientais, da restrição
                                                                             de liberdade de expressão. Proces-
                                                                             sos que percorrem séculos, imbrica-
                                                                             dos na história do Brasil e do mundo”,
                                                                             afirma Miyada. “Talvez o que seja
                                                                             singular nesse momento é o que
                                                                             tem sido chamado de necropolítica,
                                                                             que vem com uma racionalização
                                                                             perversa que deslegitima o direito
                                                                             à vida, que vai além da restrição da
                                                                             cidadania e dos direitos e alcança
                                                                             uma banalização da própria vida. E
                                                                             temos visto isso ser exacerbado no
                                                                             contexto da pandemia, num formato
                                                                             ainda mais obsceno”. E ele conclui:
                                                                            “Então inevitavelmente um pensa-
                                                                             mento crítico hoje precisa ser feito
                                                                             de uma forma que não reproduza
                                                                             esse desprezo pela vida de cada
                                                                             pessoa - e penso que os artistas,
                                                                             pesquisadores e pensadores este-
                                                                             jam procurando este vocabulário.
                                                                             Isso é uma das coisas que aparecem
                                                                             nas cartas da Presente”.

                                                                                                         97
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