Page 91 - ARTE!Brasileiros #55
P. 91
colonial responsável por negar visibilidade às contri- racismo brasileiro. Em outro significativo exemplo, A
buições de pessoas negras, o livro desempenha um mão afro-brasileira (1988), livro organizado pelo artista
importante papel na reapresentação, organização e plástico e diretor do Museu Afro Brasil Emanoel Araujo,
divulgação de informações usualmente mantidas em encontramos o protagonismo negro nas artes visuais,
centros de pesquisa, bibliotecas e núcleos especia- na dança, música, poesia e literatura de várias gerações.
lizados. Trata-se da oferta destes saberes para além Entre tantos outros títulos, Quem é quem na negritu-
do espectro universitário. Pesquisadores, professores, de brasileira (1998), do professor e poeta Eduardo de
alunos de diversas idades encontrarão na Enciclopédia Oliveira, e o Dicionário da Escravidão Negra no Brasil
Negra um material de fácil acesso e manuseio, além (2004), organizado por Clóvis Moura e Soraya Silva
de indicações de referenciais de pesquisa integrados Moura, formam, ao lado das pesquisas e publicações
aos verbetes. de Nei Lopes, Oswaldo de Camargo, Conceição Evaristo,
Para isso, os autores nutrem-se dos frutos dos movi- Fernanda Miranda, Lélia Gonzalez, caminhos para se
mentos sociais e do pioneirismo das conquistas intelec- compreender as contribuições desenvolvidas a partir
tuais de diferentes gerações de historiadores, cientistas da África e sua diáspora, dos impactos do colonialismo
sociais, artistas e pesquisadores negros e negras. Entre e da impossibilidade de se compreender o mundo sem
as inúmeras publicações antecessoras utilizadas como estes conhecimentos.
referência para Enciclopédia Negra, destacam-se Fala, Portanto, Enciclopédia Negra, em diálogo com
crioulo: depoimentos (1982), de Haroldo Costa, no qual estas conquistas intelectuais, não se restringe às
temos acesso a entrevistas de nomes como Pelé e do abordagens que associam a participação negra na
ator Milton Gonçalves, mas também a personagens história brasileira aos ciclos econômicos do açúcar, da
anônimos, donas de casa, garis e cabeleireiros, com- mineração e do café durante o período da escravidão.
partilhando as suas trajetórias e perspectivas sobre o Tampouco privilegia as narrativas preconceituosas que
91