Page 54 - ARTE!Brasileiros #55
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INSTITUIÇÕES TRANSARTE
Concebida por Maria Helena Peres
Oliveira, galeria transforma-se em instituto,
com espaço definitivo para assegurar
a produção artística da comunidade
por leonor amarante
INSTITUTO
TRANSARTE: POR UM
FUTURO LGBTQ+
as velhas Certezas, ainda presentes no sistema sequenciais: homem só, homem espelho, homem nar-
brasileiro de arte, aos poucos se apagam com iniciativas ciso, homem viado. A operação é fluída, mas oposta
como a Transarte, galeria pioneira na apresentação de à espontaneidade. Klinke os adorna ora com ratos e
artistas com temática lgBtQ+ e que agora vira instituto. sapos pendurados no pescoço, ora com leves petecas
Desde que apareceu no circuito de arte, experimenta de plástico ou rendas delicadas.
transmutações físicas e conceituais. Agora deixa a Na outra margem do oceano, a jovem brasileira Bia
boêmia Vila Madalena e se instala, em sede definitiva, Leite descobriu muito cedo que os sonhos e a percepção
na Gabriel Monteiro da Silva, reduto da classe alta se constroem no corpo a corpo com a vida. Aprendeu a
paulistana, com outros desafios. desarmar seus agressores com uma pintura denuncia-
Qualquer situação nova, que se acrescente a outras, dora. Premiada no edital Transarte lgBtQ+ com a tela
chega para oxigenar um sentido de futuro. Concebida Born to ahazar, que ficou conhecida por Criança Viada,
por Maria Helena Peres Oliveira, a Transarte abriu suas ela ganhou notoriedade ao grafitar sobre a pintura xinga-
portas em 2012 mostrando a que veio. Expôs obras do mentos preconceituosos sofridos pelos homossexuais
enigmático artista norte-americano Timothy Cum- desde a infância. Bia tenta se desvencilhar do monstro
mings, resultado da residência de um ano realizada em que cresceu dentro dela, decorrente do bullying que
São Paulo. Nenhum travelling de recuo ou de avanço sofre. O quadro participou da coletiva Queermuseum, no
conseguirá desvendar sua atormentada obra e nem Centro Cultural Santander, em Porto Alegre, quando foi
mesmo os autorretratos deixam uma pista. Para Catha- alvo de protestos, censura e tornou-se um dos vértices
rine Clark, galerista de San Francisco, “o trabalho de da alienação cultural insana do momento. Delicadeza
Cummings é ao mesmo tempo clássico e subversivo, também pode ser um ato de resistência. Silva M trabalha
formalmente lindo e tematicamente assustador”. Para objetos encontrados ao acaso e, aleatoriamente constrói
Maria Helena, a fotógrafa Iwajla Klinke, de Berlim, tem esculturas cuja superfície se assemelha à xilogravura. A
qualidade insuspeita e por isso também foi convidada. jovem inventa resposta ativa para esse mundo disperso
Ela trabalha o feixe de luz natural como instrumento e abandonado, tecendo fragmentos com delicadeza
narrativo. A série Ritual Memories, com dorsos nus de desconcertante repleta de finas suturas que chegam
jovens, mistura estranheza e sensualidade com takes às bordas e às reentrâncias, como um socorro dérmico.
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