Page 10 - ARTE!Brasileiros #55
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BIENAIS FRESTAS











                                       Partindo de uma cosmovisão decolonial,
                                       O rio é uma serpente, terceira edição da
                                       Frestas - Trienal de Artes, mantém foco nos
                                       diálogos de seu processo e tem exposição
                                       final prevista para agosto de 2021

                                       por giulia garCia


            UMA TRIENAL EM CURSO














            em meio a um Contexto panDêmiCo e de crise política,  o conhecimento’ e depois indo embora”, explica Renata
            quais são as possibilidades curatoriais e expositivas?  Sampaio, coordenadora do educativo. Se o contexto
            Essa foi uma das perguntas que guiou meses de traba- geral parecia tão verticalizado, a proposta aqui era mudar
            lho de O rio é uma serpente, terceira edição da Frestas   um pouco essa dinâmica. “Não queríamos reproduzir
           - Trienal de Artes. Organizada pelo Sesc São Paulo, com   essa visão colonial de quem quer apenas ‘ensinar’ e
            base na unidade de Sorocaba, ela conta com a curadoria   não construir junto”, completa.
            de Beatriz Lemos, Diane Lima e Thiago de Paula Souza.  Com a chegada da pandemia de Covid-19, todo o
               O convite ao trio veio antes da pandemia, possibili- mundo da arte viu a necessidade de repensar suas pro-
            tando as primeiras atividades na construção do projeto.  gramações. Com a trienal não foi diferente. A exposição
            Em uma viagem pelo Brasil, os curadores visitaram juntos   foi adiada seguidas vezes e atualmente está prevista
            localidades do Norte e Nordeste: “O mais importante   para agosto de 2021. Para os curadores, essa decisão
            para nós era que a partir desse corpo em movimento e   traz uma provocação sobre suas funções profissio-
            em embate com outros territórios pudéssemos criar um   nais, lembrando que “talvez a prática curatorial não
            corpo curatorial”, conta Beatriz. Foi nesse movimento   se limite a uma organização de exposições”, explica
            que O rio é uma serpente começou a ganhar forma,  Thiago de Paula. Com isso em mente, mudaram os
            não como uma temática - o que seria insuficiente para   rumos do projeto e decidiram focar ainda mais nas
            o momento vivido -, mas como uma cosmovisão que   práticas educativas. Se “o rio é uma serpente porque se
            reúne os aprendizados de seu processo e que tem em   esconde e camufla e, entre o imprevisível e o mistério,
            vista a discussão sobre os movimentos contemporâneos,  cria estratégias para o seu próprio movimento”, como
            suas geografias e estruturas coloniais.         sintetiza o texto curatorial, é com foco no curso e nas
               Mas como a Frestas deságua em Sorocaba? A partir  curvas deste rio - e nos diálogos que esses promo-
            de sequência de encontros de escuta com artistas,  vem - que Frestas decide se construir. “Essa imagem   FOTO: BICHO CARRANCA / CORTESIA SESC SOROCABA
            produtores, gestores e educadores locais, a equipe   tem nos ajudado a pensar essa cosmovisão e tem nos
            buscou entender as necessidades da região e tornou o   possibilitado encontrar estratégias e possibilidades
            educativo um dos pilares centrais do pensamento cura- para enfrentar o que é curar uma exposição de arte
            torial. “Sempre foi uma preocupação muito grande não   contemporânea nesse momento que o Brasil está
            sermos como uma nave que pousa na cidade ‘trazendo   vivendo”, explica Diane Lima.

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