Page 80 - ARTE!Brasileiros #54
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LIVROS ARTE MODERNA


                                                              A capa do livro de Rodrigo
                                                              Naves, publicado pela
                                                              Editora Todavia (104 págs.)









                                                               na galeria, meio de segunda, de uns parentes afas-
                                                               tados. Quando ele volta, em 1886, ele era tímido,
                                                               pouco sociável, mas se aproxima daquele Peter,
                                                               comerciante de material artístico, e lá ele conhece o
                                                               Toulouse-Lautrec, o Signac e o Pissarro. O Pissarro
                                                               vai ser o cara mais importante, que já tinha sido para
                                                               o Cézanne e o Gauguin, para a introdução do Van
                                                               Gogh à pincelada descontínua do impressionismo
                                                               e essa coisa toda.
                                                                 Então, do ponto de vista dos vários modos de
                                                               representação artística, de fato o impressionismo é
                                                               questão decisiva para o Van Gogh, embora ele vá dar
                                                               às pinceladas separadas e às cores mais luminosas
                                                               do impressionismo uma destinação quase oposta.
                                                               Ele mesmo diz que usa a cor como expressão. Então,
                                                               é como se ele quisesse representar uma paisagem
                                                               com a emoção que ele sentia diante desses temas.
                                                               Não é à toa que ele foi uma das fontes mais influen-
                                                               tes do chamado primeiro expressionismo alemão,
               Aí as pessoas vão fazendo diagnósticos no Van   em especial ao grupo chamado A Ponte. Porque,
               Gogh de acordo com o que a psiquiatria vai mudan-  pense aqui comigo, por mais que eu, ao represen-
               do. Então, já foi esquizofrenia, agora é transtorno   tar você, procure representar o sentimento que
               bipolar, diz-se também que ele tinha epilepsia. Acho   tenho por você, evidentemente menos realista será
               que o grande responsável por essa visão um pouco   essa representação. Portanto, quando você quer se
               mais sofrida e angustiada do Van Gogh, que não   aproximar desse mundo que você representa pela
               é mentirosa, é um livro chamado Lust for Life, do   emoção, pela expressão, ele se afasta mais. Afinal,
               escritor Irving Stone, que depois dá origem ao filme   ele está tingido dessa expressão. E eu acho que essa
               de Vincente Minnelli, Sede de Viver. Ambos, o livro e   relação, digamos, meio conflituosa com a realidade,
               o filme, foram bestseller e blockbuster. Assim, ficou   com o meio social etc., nasce um pouco com ele.
               muito popular essa lenda, porque tem uma série de   Eu não consigo identificar no Millet e em mais
               indagações que, depois, quando as investigações   ninguém essa relação difícil com a realidade, embora,
               foram aprofundadas, colocaram em questão até o   para ser honesto intelectualmente, uma influên-
               suicídio do Van Gogh. Dois pesquisadores alemães   cia importante também aos expressionistas foi o
               pesquisaram os arquivos policiais de Arles (França),   Matisse. Sobretudo a primeira fase do Matisse, dos
               que falavam que quem cortou o pedaço da orelha do   fauves (fauvistas), por causa dos contrastes de cor.
               Van Gogh não foi ele, mas o Gauguin. Então, acaba   Mas, o Matisse era uma pessoa angustiada, apesar
               que, de certo, você tem as cartas e os trabalhos que,   da experiência que nós temos em várias obras do
               enfim, só ganharam prestígio e reconhecimento   Matisse é de uma alegria incontida. É mais ou menos
               com o passar dos anos.                          por aí que consigo equacionar esses elementos.
                Agora, o que talvez seja decisivo também para que
               o Van Gogh dê o pulo do gato é a ida dele para Paris.   *Gabriel San Martin é estudante de graduação em Filosofia
               Ele já havia estado em Paris, quando ele trabalhava   pela Unicamp e pesquisador em estética e teoria da arte

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