Page 36 - ARTE!Brasileiros #53
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ARTIGO ARTISTAS AFRO-BRASILEIROS
e Wagner Viana a serem também profunda- nas ruas, praticando a pichação e o grafite.
mente comprometidos com pesquisas nos Parece ser daí que tanto o pintor quanto o
campos da história e da antropologia. escultor extraem a noção do espaço que
Então, do que falamos quando falamos orienta suas composições bi ou tridimen-
de arte afro-brasileira? Discorremos sobre sionais de caráter abstrato e concreto. Se
eventos que estão aquém e além das obras as soluções formais de Luiz 83 remetem
que os artistas realizam e que, no entanto, ao concretismo, essa associação deve ser
estão contidos nelas. Discorremos sobre mediada pela ideia de que há mais de uma
aquilo que é interno às obras e sobre aquilo matriz do concretismo a ser consagrada,
que lhes é externo, do que é intrínseco e do para além daquela que usualmente é men-
que é extrínseco numa abordagem cujas cionada. E essa ideia solicita de nós um des-
referências serão também possivelmente locamento que a descolonização do olhar
iluminadas pela sociologia. Essas referências obriga - seria possível mencionar referências
estão sendo prospectadas e coligidas dentro desse concretismo nas obras de Alman-
das academias e fora delas, por instituições drade, Almir Mavignier (1925-2018), Rubem
de cultura formais e não formais, através da Valentim e Emanoel Araujo. São matrizes
admissão da oralidade e dos conhecimen- diversas daquelas prospectadas naquele
tos construídos em organizações sociais as território que conhecíamos como o “centro”,
mais variadas. Elas são necessárias para que mas mesmo elas não explicariam o projeto
nos aproximemos com mais propriedade de desenvolvido por artistas com Luiz 83, pois, FOTOS: CORTESIA A GENTIL CARIOCA E ARTISTA | CORTESIA FAMA
produções que nos desafiam a escapar de nas suas biografias o contato com o saber
um cânone exausto. livresco e acadêmico, não sendo desprezível,
O pintor, desenhista, escultor e perfor- é de menor monta.
mer Luiz 83, que nasceu e reside na capital O sociólogo e jornalista Clovis Moura
do Estado de São Paulo, teve, como vários (1925-2003) em seu Rebeliões da Senzala:
artistas negros, como No Martins, sua origem quilombos, insurreições e guerrilhas, de 1959,
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